
“Veja só que bom que era…”: Umuaramense relembra os tempos de ouro do carnaval de clube
Cesar Furlanetto, que é colecionador de fotos, tem belos registros fotográficos da época, todos guardados com muito cuidado


O carnaval por aqui pode não mais gerar euforia [está tudo muito morno por estes dias], mas duvido que exista cidadão ou cidadã, com mais de 50 anos, que não dê ouvidos para uma marchinha. Mesmo que não tenha sido um folião ou foliã com f maiúsculo [do tipo que rodopiava num salão de carnaval até o amanhecer], quando ouve, essa pessoa vai entrar no ritmo, com a voz muitas vezes embargada de nostalgia. Ah, se vai!
É só começar… “Ôôôô, Aurora…” e, sem dúvida, ela vai completar: “Veja só que bom que era, ôôôô, Aurora!”. A canção de Mário Lago, criada em 1941, entre tantas outras que dominavam o repertório da festa mais popular do país, iniciada ainda no período colonial, embalou muitos carnavais Brasil afora.
Em Umuarama, não foi diferente. Os bailes de carnaval começavam na sexta-feira e iam até a meia-noite de terça-feira [um ou outro adentrava um pouco a quarta-feira de cinzas, início da quaresma, para o suplício dos beatos]. Todos os clubes promoviam, um tentado ser melhor que o outro. E, tão concorridas quanto, eram as matinês.
Disso, Cesar Furlanetto, 73 anos, tem recordações expressivas na bagagem. Ele se enleva quando fala sobre o que chama de “os tempos áureos do carnaval de clube em Umuarama”. E conta que os bailes eram muito esperados e as pessoas se preparavam para “brincar” ou “pular”, como se dizia.
“Era só alegria! Os bailes eram marcados pelo contentamento, entusiasmo; todo mundo se divertia sem apelação, entre amigos, entre famílias! Realmente foram tempos de ouro!”, reafirma. Ele, que mora em Umuarama desde 1959, se refere aos anos de 1960 a 1990, que acompanhou ativa e intensamente. “Época bonita!”, exclama.
No seu álbum de fotos tem muitas que mostram seu “respeito” pela festa do Momo. “O carnaval era tão esperado quanto o Natal, a Páscoa… Porque festas naquela época, eram poucas! Bem diferente de hoje, que tem festa todo dia! Perdeu a graça!”, critica.
Segundo ele, nesse compasso de espera, jovens, casais se encontravam para discutir o tema da fantasia que iriam usar e se empenhavam até na confecção. “Os blocos eram presença confirmada sempre, e garantiam muita agitação no salão, exibindo criatividade e interesse em manter a tradição”, lembra Furlanetto, que também cita os concursos. “O momento dos desfiles era um frenesi geral!”.

Em preto e branco
Furlanetto, que é colecionador de fotos antigas, tem registros pontuais desses tempos idos de folia. Em seu acervo de cerca de 50 mil fotos, guarda com carinho as que carregam recordações dos bailes e concursos de fantasia, dos reis e rainhas que imperavam absolutos.
As cenas captadas por fotógrafos, que cobriam os eventos carnavalescos do começo ao fim, mostram pessoas muito conhecidas da cidade. “Prova de quanto eram participativas”, atenta, dizendo que ele, sim, foi um folião com f maiúsculo.
“Eu não perdia um baile! Tinha verdadeira paixão, porque a gente se descontraía com os amigos, renovava as energias! Era uma festa colorida, divertida, puramente cultural”, arremata Furlanetto.











