
Umuaramense muda de vida ao confeccionar uniformes para presos e visitantes
A história de Liza é marcada pela superação. Após passar um período na prisão [por motivo ligado a drogas], ela decidiu mudar completamente sua trajetória


Mãe solo, ela precisava de uma alternativa para fazer o salário trabalhando em casa, pois suas filhas carecem de cuidados especiais. Elizandra Brito, 33 anos, moradora do bairro Itália, de Umuarama, conseguiu o que queria imergindo num nicho pouco explorado pelo comércio tradicional: confeccionar e vender uniformes para presos e visitantes de presos.
Antes, Liza, como gosta de ser chamada, era vendedora em uma loja de roupas populares e foi ali que teve a ideia de se tornar empreendedora. “Recebia muitas pessoas que queriam comprar roupas para visitar presos e dificilmente tínhamos para atender; foi o que me despertou para esse negócio”, conta.
O início da confecção de uniformes para presos
Assim que pediu demissão, encarou o desafio com coragem: foi para São Paulo [no famoso Bairro Brás] comprar o tecido alaranjado, no atacado. Feito isso, saiu a procura de uma costureira para o corte e a costura. “Quando ficaram prontas as primeiras peças, anunciei no Facebook e logo vendi; isso já me deixou motivada”, lembra.
Há um ano nessa empreitada, Liza concentra a maioria de seus clientes no Paraná: tem em Cascavel, Guaíra, Campo Mourão, Cruzeiro do Oeste, Guarapuava, Curitiba, além de Umuarama; fora do Estado também sempre aparecem parentes e amigos de presidiários precisando de seu produto, que leva na etiqueta seu nome.

O catálogo da marca Liza Brito prioriza conjuntos de agasalhos [calça e jaqueta], calças e bermudas, todos de tecido mole [tactel ou moletom], alaranjado, sem zíper, bolsos, botões, cordão e forro, e ainda camisetas brancas, de gola careca [estas, compra pronta, porque compensa]; os tamanhos variam do P ao G3.
“Cada presídio tem suas regras de uniformes para presos e visitantes, por isso atendo um público específico”, atenta a vendedora, que diz estar satisfeita. “Esse trabalho me dá um salário maior do que eu ganhava na loja e ainda posso me dedicar mais à minha família”, confirma.

Liza é viúva e tem duas filhas que moram com ela: Maria Luíza, de seis anos, e Ana Lívia, de 17 anos; também é mãe de Samuel, 19 anos, que mora com a avó. “Carrego uma responsabilidade grande e preciso dar conta”, alega, com ar de conformismo.
Parceria em boa hora
A costureira Solange do Amaral Ferreira, 45 anos, parceira de Liza no negócio, também diz estar satisfeita por colaborar nessa ação. Ela confecciona as peças em seu ateliê, no Jardim Cruzeiro, de Umuarama.
“Essa parceria é muito boa! Liza estava procurando uma costureira e eu, mais trabalho… Fechou! Vem dando muito certo!”, enfatiza Solange, proprietária da marca Gatilho.

Ela abriu o ateliê há quatro anos, onde fabrica lingerie e roupas de dormir [atende atacado e varejo]. E diz que a chance de inovar, atuando agora também com roupas para presos, possibilitou otimizar sua estrutura, formada por diversas máquinas de costura industrial.
“É uma nova experiência, que encaro com muita dedicação, além de que a parceria permite que uma ajude a outra nos objetivos empresariais”, arremata Solange.

De presa a empreendedora
A história de Liza é marcada pela superação. Após passar um período na prisão [por motivo ligado a drogas], ela decidiu mudar completamente sua trajetória. E enfrentou as dificuldades de ser uma ex-detenta, com tornozeleira eletrônica, de cabeça erguida.
“Mesmo nessas condições, consegui um emprego; encontrei um patrão que me aceitou, que me deu uma chance”, conta, denotando gratidão.

“Mas, como já disse, não continuei na loja porque eu precisava estar mais presente na vida das minhas filhas”, justifica. [A de 6 anos precisa de tratamento psicológico intensivo e a de 17 anos, solteira, está grávida.]
Com determinação e criatividade, arriscou no negócio de produzir uniformes para presos, utilizando a internet como sua principal plataforma de vendas. Hoje, se considera uma empreendedora realizada.

“Encontrei não apenas uma forma de sustento, mas também uma maneira de transformar a experiência pessoal em algo positivo para a comunidade; meu exemplo pode inspirar outros que enfrentam desafios semelhantes, mostrando que é possível dar a volta por cima e construir uma nova vida cheia de esperança”, conta Liza, que recentemente foi absolvida do processo criminal.


