
Professora de corte e costura mantém ‘escola’ no Jardim Shangrila com alunas de vários bairros de Umuarama
Ela reformou e aparelhou a edícula da residência, onde passa mais de vinte horas por semana transmitindo conhecimento e incentivando o empreendedorismo


Dizem que o prêt-à-porter democratizou a moda! Produzindo coleções em grande escala e caminhando lado a lado com a indústria têxtil e as grandes lojas de departamento, o fenômeno ‘pronto para vestir’, que surgiu lá na década de 1950, foi se expandindo, se expandindo até redefinir irrevogavelmente os rumos do mercado fashion.
Ok, foi uma grande revolução, mas – sempre tem um ‘mas’ – isso quase ‘matou’ a profissão costureira, aquela que, com apenas uma máquina e muita força de vontade, costurava para fora, para ajudar no sustento da família. Esse efeito colateral começou a ser mais sentido no Brasil dos anos de 1980 para cá, quando essa tendência de fabricação de vestuário em massa, com tamanhos e modelos padronizados, foi ganhando força.
Com elas, as costureiras que confeccionam sob medida [não as de grandes fábricas], também entraram em processo de extinção os cursos tradicionais de corte e costura [presenciais ou feitos a distância, por correspondência, muito comuns nas últimas décadas de 1960 e 1970].
No entanto, algumas sobreviveram. Não facilmente, sempre se encontra uma costureira em algum bairro por aí, na ativa. Professoras de corte e costura, nem tanto. Entre as poucas que resistiram em Umuarama está Geiza Barbosa dos Santos, 61 anos. Ela costura há mais de 40 e leciona há 20.

Amigas a despertaram para empreender nesse ramo. “De tanto elas me pedirem para eu ensinar a fazer uma coisa ou outra, no dia a dia, fui vendo que poderia dar certo a ideia de abrir um ateliê para dar aulas de corte e costura e, assim, dividir tudo o que sei; foi o que fiz e estou muito contente”, conta Geiza.
Sua ‘escola’ funciona na residência, no Jardim Shangrila; ela aproveitou uma edícula, reformou, equipou e ali está até hoje recebendo as alunas, de vários bairros de Umuarama, com idades que variam de 15 a 70 anos. São cerca de 30, divididas em seis turmas [quatro à tarde e duas à noite], com no máximo cinco cada.
OBemdito foi conhecer o ambiente, que tem três divisões: a ala do corte, numa varanda coberta; a ala de costura, numa sala fechada com várias máquinas de funções diferentes [e com ar refrigerado]; e a sala de linhas. Nele, Geiza, que é natural do município vizinho de Tuneiras do Oeste, passa pelo menos 24 horas semanais repassando seus saberes às suas aprendizes.

“Todas vêm com muito ânimo e aproveitam cada minuto das aulas: algumas só querem aprender para fazer a própria roupa, outras querem empreender na área; a todas eu repasso técnicas e incentivos para que se tornem boas profissionais”, salienta Geiza, que tinha 12 anos quando fez seu primeiro curso [por correspondência]: “Fiz por insistência do meu pai; achava um tédio”, relembra, rindo. No entanto, reconhece que estava equivocada: “À época, eu morava na roça e costurava só para os de casa”.
Aos 16 anos, se casou e mudou para a cidade [ela já morava há um ano em Umuarama]. “Daí eu senti necessidade de ganhar dinheiro, de buscar um trabalho para melhorar a renda da família que começava a formar e vi que a costura era o caminho mais certo para eu tomar; voltei a fazer o curso, me capacitei e me tornei costureira, profissão que muito prezo! Hoje, é pura paixão!”, orgulha-se.

Em relação à criação da ‘escola’, a intenção era obter renda extra, porque tinha um emprego, no qual está ainda vinculada: ela é costureira na Clínica Santa Cruz, de Umuarama, há 30 anos. “Minha ‘escola’ tem gerado resultados positivos, mas pretendo continuar levando os dois ‘empregos’, por serem prazerosos!’, justifica.
Geiza acredita que a costura é uma habilidade artesanal valiosa, por isso se aprimora na arte para continuar transmitindo sua sabedoria e, assim, formar novas costureiras: “É um ofício que exige criatividade, muita prática, muuuita paciência, mas é promissor; este é um alerta que eu faço para todas, para que encarem com responsabilidade e entusiasmo essa chance, pois se trata de uma das opções mais concorridas no empreendedorismo feminino”.

Só alegria!
A ‘escola’ da Geiza tem um algo a mais para ser realçado: não é somente um ambiente de aprendizado, mas também de socialização, de interação, de cultivar amizades. É o que dizem as alunas, que consideram o ambiente acolhedor e muito alto-astral.
“Aqui a gente se diverte também, conversando, trocando ideias, uma se interessando pelo trabalho da outra… A costura só fortalece o nosso vínculo!”, diz Ana Lúcia Vaz, 61 anos, moradora do bairro Belvedere que faz aulas há 7.
Ela, que está aposentada, e com faculdade de Administração e MBA no currículo, trabalhava no setor de marketing da Zaeli: “Entrei no curso para aprender a fazer roupas para mim, porque, como gosto de modinha e sou gordinha, não encontrava nas lojas o que me agradasse; agora faço o que quero e como quero”.

Valéria Petini, 36 anos, também formada em Administração, está no curso há 5. “Ano que vem eu vou fazer meu vestido de noiva”, promete, dando ênfase ao “eu”. Ela mora no centro da cidade e é uma das que estão empreendendo na área: “Há dois anos faço meu salário com costura e investi, para agregar valor, em máquinas modernas de costura, de bordado [computadorizadas] e de estamparia… A peça que pego para fazer sai pronta do meu ateliê; amo costurar!”.
Kamilly Carvalho, 20 anos, moradora do Jardim Birigui, casada e do lar, vê o curso, que iniciou há dois meses, como uma terapia ocupacional: “As aulas fazem parte da minha semana! São momentos que me ajudam a distrair… Aqui, interagindo com as colegas, uso a cabeça para algo bom!”.

Outra novata é Flávia Shirazawa, 44 anos, formada em Letras, casada, do lar e moradora do centro de Umuarama. “Entrei no curso há dois meses com o objetivo de aprender a consertar minhas roupas; agora já desejo fazer o que quero vestir… Vi que não é fácil, mas vou em frente… O aprendizado tem me dado uma sensação de realização, de bem-estar! Estou amando!”.
A caçula da turma também está se realizando: Yasmin Maia, 15 anos, integrante da turma da Geiza desde julho, tem um sonho para concretizar: quer fazer faculdade de Moda e trabalhar na área. “Para isso sei que preciso aprender a costurar… Já aprendi muito nesse pouco tempo costurando para mim… Fiz vestido, pantalona, blusa, saia, sempre procurando melhorar a cada peça”.

Elogios à mestra
Entre uma fala e outra, as alunas elogiam a competência da professora: “Ela sabe ensinar, tem ânimo e calma para nos orientar nas nossas dúvidas… É uma excelente profissional”, diz Valéria. “Além de nos passar dicas valiosas sobre uso correto de máquinas e escolha de tecidos, ela ajuda na resolução de problemas comuns que surgem durante o processo de costura”, emenda Ana Lúcia.
Para Geiza, sua atuação também implica na promoção da sustentabilidade. Afinal, capacitando e encorajando as alunas na habilidade de criar, reparar e personalizar roupas, ao mesmo tempo as leva a valorizar peças para que sejam mais duradouras.
“Procuro conscientizar que é importante para o mundo reduzirmos o desperdício; a chamada moda descartável causa muitos danos ao meio ambiente”. Ela tem toda razão: a indústria do vestuário, que de 2000 para cá dobrou o volume de produção, causa severos impactos nos ecossistemas.

Impacto ambiental
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a indústria da moda é responsável por entre 2% e 8% das emissões globais de carbono, com grande impacto sobre o clima; ela usa muita água nas etapas de produção [é o segundo setor que mais consome] e despeja milhares de toneladas de microfibras sintéticas nos oceanos, por ano.
O tingimento de tecidos também polui rios e mares: cerca de 20% das águas residuais globais resultam desses processos. O consumo consciente, propagado na esteira do ‘eco fashion’, é visto como uma saída para o problema. O movimento ainda é lento no Brasil, que é o quarto maior consumidor de roupas do mundo.
== Para saber mais sobre a aulas de corte e costura da Geiza envie mensagem para o whatsApp 44 9 8417 2755.




