
‘Ele sangrava muito, terminei de matar’, diz assassino do médico Renan Tortajada
"Eu tinha usado mais de cinco gramas de cocaína. Estava fora do normal"

No depoimento dado à Polícia Civil em Umuarama, Guilherme da Costa Alves, 26 anos, voltou a dizer que matou o médico Renan Tortajada, 35, por causa de R$ 200. Em vídeo ao qual OBemdito teve acesso, publicado primeiramente pelo G1, o assassino confesso disse que não tinha a intenção de tirar a vida do psiquiatra e que só o fez ao vê-lo sangrando muito, após bater a cabeça no meio fio.
Guilherme reiterou que conhecia Tortajada há pelo menos um ano e meio e que ambos mantinham relações. O criminoso alegou que estava sob o efeito de cocaína. Tinha ingerido cinco gramas da droga e queria comprar mais, dando a entender que, uma vez sóbrio, não teria cometido o latrocínio (roubo seguindo de morte).
“Ele chegou lá, nós começamos a conversar. Ele falou que ia me dar R$ 200. Aí eu pedi o dinheiro antes de eu fazer qualquer coisa. Aí eu peguei e fiz tudo certinho. Eu tinha usado mais de cinco gramas de cocaína. Estava fora do normal. Não tava como eu tô aqui. E querendo usar droga, querendo usar droga, eu terminei de fazer o que ele queria lá, aí eu pedi o dinheiro pra ele, e ele falou que não tinha. Aí nós ‘começou’ a discutir lá, aí eu ‘di’ umas pancadas nele, ele bateu a cabeça no meio fio, começou a sangrar muito, aí que eu vi que ele ia morrer de um jeito ou de outro, eu terminei de matar ele, enterrei”.

O desempregado, que já tinha passagens pela polícia por roubo, posse e tráfico de drogas, voltou a dizer que não conhecia o conselheiro Alexan Carlos de Goes, que à noite se travestia como Sabrina Medeiros. “No caso, quando eu tava enterrando ele (Renan), tava passando um travesti e viu o pé dele (Renan) pro lado de fora do buraco lá, tentou sair correndo, eu corri atrás dele (Alexan) e acabei matando ele também”.

Versão desmentida
Essa versão foi desmentida ontem (20/2) por uma amiga de Sabrina, que também é travesti. A amiga disse ter visto o momento em que Guilherme passou com um Honda Civic chumbo na rua Governador Ney Braga e convidou Sabrina para entrar no veículo.
“Primeiro ele passou por mim, me chamando para sair, mas eu já conhecia ele, porque ele sempre apronta com a gente. Eu tentei avisar ela (Sabrina), cheguei a gritar, mas não deu tempo. Ela não ouviu e foi no carro com ele. Era umas duas horas da madrugada de sábado (18)”, disse a OBemdito, na condição de anonimato.
“O Guilherme mentiu quando disse que a Sabrina estava sozinha dentro do bosque. Ela nunca ia lá sozinha, ainda mais numa hora daquelas. Foi ele que levou ela lá, depois que já tinha matado o médico. Ela pode ter visto a cena e ameaçado denunciá-lo”.
A travesti relatou também que Guilherme era um cliente antigo. “Tanto eu quanto minhas amigas já fizemos programa com ele. Quando ele chegava até a gente, sempre a pé ou de moto, era uma pessoa. Depois que terminava o programa assumia outra personalidade. Se tornava extremamente agressivo, tentando matar a gente. Eu mesmo quase fui vítima dele com um canivete no meu pescoço. Parecia usar droga pesada. É por isso que ele era queimado no meio”.
Os crimes
Guilherme da Costa Alves confessou ter matado o Renan Tortajada e Alexan Carlos de Goes após ser preso na avenida Duque de Caixas com o carro do médico. O rapaz já tinha passagens pela polícia por roubo, posse e tráfico de drogas.
À polícia, admitiu ter matado Tortajada com socos e golpes de uma pedra pontiaguda, com cerca de 1 kg, no interior do bosque Uirapuru. Arrastou o corpo por cerca de 30 metros até o muro do estádio Lucio Pipino, onde o enterrou em uma cova que ele mesmo disse ter aberto, sozinho.
Guilherme relatou, com bastante frieza, que tinha uma relação de pouco mais de um ano com o médico e que no encontro da última sexta-feira (17) à noite se desentendeu com a vítima, por causa de R$ 200. Esse é o preço que pode ter custado a vida de um profissional respeitado em seu trabalho.
Tortajada era pediatra e psiquiatra. Atendia, entre outros, no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Toledo e também no município de Guaíra.

Alexan foi morto a pauladas, na versão do assassino confesso. Recolheu o corpo da travesti, colocou-o no porta-malas do Honda Civic e levou-o, semi-nu, para uma área pouco movimentada do município vizinho de Maria Helena, cobrindo o cadáver com galhos de árvore.
O corpo de Alexan foi o primeiro a ser encontrado pela polícia, na noite de sábado. Ao ver a reportagem publicada por OBemdito, sobre o desaparecimento do médico, uma testemunha manteve contato com a polícia e disse ter visto uma pessoa em um Honda Civic lançando algo no matagal.
Guilherme fez mais. Na noite deste sábado, de posse do carro do médico Tortajada, o suposto membro do Comando Vermelho, como informou em depoimento, tentou roubar uma senhora de 69 anos, tentando colocá-la, à força, dentro do veículo. A vítima passeava com dois cachorrinhos na rua de sua casa. A mulher conseguiu se desvencilhar e ficou com ferimentos na boca e nos joelhos.
Orações
Um grupo de pelo menos 30 pessoas se reuniu em oração na noite desta segunda-feira (20) em frente ao bosque Uirapuru. O objetivo, segundo uma pessoa que participou do ato, era interceder pelos familiares das vítimas do latrocínio e do homicídio do final de semana e pedir paz para Umuarama. “A cidade está violenta. Cada dia uma notícia pior que a outra. Precisamos de Deus agindo em Umuarama”. Novos encontros para oração podem acontecer nos próximos dias.