Graça Milanez Publisher do OBemdito

Capacidade máxima: Saau tem mais de mil cães e gatos de rua em seu abrigo

Quantidade impressiona e reflete o pouco caso que muitas pessoas ainda têm em relação aos bichos de estimação

A presidente da Saau, Ana Maria: luta diária para dar conta de manter o bem-estar dos cães e gatos assistidos pela entidade - Fotos: Danilo Martins/OBemdito
Capacidade máxima: Saau tem mais de mil cães e gatos de rua em seu abrigo
Graça Milanez - OBemdito
Publicado em 5 de março de 2023 às 17h46 - Modificado em 21 de maio de 2025 às 13h20

Imagine a cena: cerca de 900 cães e 300 gatos juntos, num mesmo ambiente? Se imaginou uma daquelas cenas fofas de Instagram, errou. Na realidade, esse ajuntamento de bichos de estimação é impressionante, para não dizer chocante, comovente. É muito para uma cidade como Umuarama, que, dizem, tem uma população tão ordeira, hospitaleira!

Continue imaginando: o coro de latidos que ecoa desse ambiente – quando um começa os outros acompanham e assim vai; o quanto de cocô é recolhido todos os dias dos canis e pátios onde a turma toda fica; e a quantidade de água que é usada para lavar, também diariamente, os 2.500 m2 de piso desse lugar?

Impressionante, mesmo! E por que comove? Porque todos que estão lá foram abandonados ou maltratados por alguém. Pode haver uma ou outra exceção, mas o currículo da maioria coincide: só tem o que costumamos chamar de vira-lata, o que reflete, infelizmente, a discriminação presente também neste nicho da sociedade.

O ambiente a que nos referimos é o do abrigo da Saau [Sociedade de Amparo a Animais de Umuarama], criada em 1997. Trata-se de uma ONG que realiza um trabalho imprescindível, não só acolhendo, mas, como o nome diz, também amparando. A equipe d’OBendito foi convidada para conferir as instalações da sede, que ocupa um terreno de 12 mil m2.

Quatro faxineiros, cinco médicos veterinários e mais uma legião de voluntários atua nessa missão, batalhando para manter o projeto em funcionamento. “É uma luta diária”, frisa a presidente da entidade, a bancária aposentada Ana Maria Polaquini, que nos recepcionou.

Segundo ela, para conseguir “dar conta dessa empreitada” são feitas muitas campanhas de arrecadação de ração [que sempre está faltando] e de cobertores; e mais: ‘vaquinhas’ pela internet [geralmente para comprar medicamentos] e um bingo todo mês.

Saau ampara cerca de 900 cães

Também rendem um extra as vendas de roupas, calçados e acessórios usados, doados pela comunidade, no bazar permanente da entidade, entre outras estratégias com objetivo de conseguir dinheiro para despesas gerais, porque os empregados [incluindo os médicos veterinários] são pagos com verba repassada pela prefeitura.

Uma ação de conscientização, feita com frequência, está entre as mais importantes da ong: a feirinha de adoção de cães e gatos. “Nesse trabalho incentivamos as pessoas a adotar, explicando o quanto nos faz bem termos um bicho de estimação; também buscamos sempre tocar o coração delas, para que entendam o quanto é importante para o bichinho ter um lar”.

Quando o assunto é adoção, ela lembra outra questão discriminatória: geralmente a ong só leva à feira os bichinhos mais novos. “Porque, infelizmente, ninguém adota com mais de cinco anos de idade”, lamenta a presidente. “Mas entre os que levamos, a maioria ganha um tutor”, acrescenta, lembrando que no time da Saau dez por cento são idosos.

Mesmo com as adoções – cerca de 250 por ano, a população da Saau não decresce. “Até porque não para de chegar”, diz Ana, apontando para uma cadela amamentando, que foi recolhida recentemente numa data vazia no Ouro Preto, com cinco filhotes. “Ela estava lá, largada, sem comida e tomando chuva; quanta crueldade!”, exclama.

Quantia de gatos acolhidos passa de 300

Em um outro setor do canil, mostrou vários irmãozinhos, abanando o rabinho. “Foram jogados no trevo que vai para Mariluz; todos estavam com parvovirose, sarna e outros problemas de saúde; vendo agora eles assim tão animadinhos, não dá para acreditar no quanto sofreram… muito triste!”, exclama Ana, que demonstra orgulho pelo que faz.

“Eu amo os animais! Todos que fazem parte da diretoria, nosso grupo de voluntários, que passa de 50, também amam muito! Os bichos aqui são muito bem cuidados! Fazemos o possível e o impossível para garantir conforto a todos”, assegura a presidente, que dedica em torno de dez horas por dia à causa.

Castrar é preciso!

Outra tecla que o pessoal da Saau não para de bater é a da importância da castração. Desde sempre a entidade se empenhou no sentido de informar, esclarecer, facilitar e até bancar cirurgias de castração.

Milhares foram feitas nos hospitais veterinários de Umuarama – pela Universidade Estadual de Maringá e Universidade Paranaense – e em clínicas da cidade. “Mesmo assim, há muito por fazer”, informa Ana, suspirando de preocupação.

Cadela e seus filhotes recolhidos num matagal

Atualmente, esse procedimento é feito no centro cirúrgico da Saau, que fica anexo ao canil. Por ano, beneficiando famílias de baixa renda, a prefeitura custeia 600 e a Saau, 300. Outras 150 ficam por conta dos tutores, que procuram a entidade por não terem condições de pagar numa clínica particular.

“O dinheiro que entra nesses atendimentos vamos usando para aquisição de medicamentos e outras providências”, informa a presidente, ressaltando que o centro cirúrgico da Saau é “muito bem equipado e o trabalho que é desenvolvido nele é eficiente e responsável”.

Ela atenta para a titulação dos médicos veterinários. “Três cursam doutorado e os outros dois fazem mestrado; além de competentes, são bastante dedicados”, elogia, em tom de agradecimento.

Cães mansos podem ficar juntos no canil…

Remédios, o eterno tormento

Em meio a um plantel tão imenso, impossível não haver um número expressivo de doentes. Esse é outro problema que desafia a diretoria da Saau. “Além das doenças corriqueiras temos as crônicas para tratar”, diz a médica veterinária Regiane Baptista [CRMV/PR 4917].

Ela cita, entre as mais comuns, rinotraqueíte infecciosa felina, cinomosegripe, erliquiose [doença do carrapato], verminose, sarna e micoplasma [transmitida por pulga]; e entre as crônicas, tem diabetes, hipotiroidismo, convulsão, paraplegia.

Segundo ela, é comum a Saau acolher também animais abandonados com trauma por atropelamento [em ruas e rodovias], com desnutrição e com câncer. “Muitos tutores quando ficam sabendo que seu animal de estimação está com câncer o abandonam”, diz, entristecida.

Em todos os casos, o atendimento médico é urgente. “Todos requerem tratamento, com muito medicamento caro, diga-se de passagem”, comenta a médica, lembrando que caras também são as vacinas e outros recursos usados em prevenção.

Há também os que precisam de internamento: são, em média, 40 por semana, número acima da capacidade da ala de enfermagem. “Mas damos um jeito; se for preciso, acomodamos no corredor, mas nunca deixamos de atender”, ratifica a médica. “Tem dia aqui que parece o SUS”, brinca.

… já os cães bravos são separados
Dona Ana em momento de troca de carinho
Dona Ana em momento de troca de carinho
Dona Ana em momento de troca de carinho
Dona Ana em momento de troca de carinho
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