Graça Milanez Publisher do OBemdito

Com nome afetivo no rótulo, casal de aposentados faz conserva artesanal para vender na feira

São mais de trinta opções que agradam os paladares mais variados

Ermelindo e Sirlene, a Vó Lene, na feira: eles mesmo fazem e vendem as conservas - Fotos: Danilo Martins/OBemdito
Com nome afetivo no rótulo, casal de aposentados faz conserva artesanal para vender na feira
Graça Milanez - OBemdito
Publicado em 20 de maio de 2023 às 17h15 - Modificado em 21 de maio de 2025 às 08h29

Desde o ano passado a feira de hortifrúti das sextas e domingos tem uma novidade: os produtos da marca Vó Lene, com uma diversidade de conservas que está fazendo sucesso. São mais de trinta itens, que incluem sabores tradicionais e mais marcantes, digamos.

Os donos do negócio são Sirlene Ciquini Santana, 66 anos, e Ermelindo Santana, 69 anos, moradores da Praça Tamoio. Eles são aposentados e começaram a pequena indústria na residência, onde vão juntos à cozinha para dar conta dos afazeres.

“Tudo nós que fizemos”, confirma dona Sirlene ao Bemdito. “Compramos os ingredientes e a matéria-prima, preparamos, cozinhamos, embalamos… tudo. Ficamos horas na cozinha nessa função, um ajudando o outro”, ressalta.

As técnicas e segredinhos para aguçar o sabor dos ingredientes contam que aprenderam com familiares. Dos filhos e netos, receberam sugestões e instruções para criar a marca, que batizaram com o apelido da matriarca. Os preços variam de R$ 5 a R$ 25.

Entre as mais vendidas estão as conservas de cebola, alho, pepino, beterraba e outras que não são tão comuns, como as de jiló e de jurubeba; esta, segundo a Vó Lene, “é a melhor de Umuarama”. Ela diz que a preparação das bagas [frutos da planta] não é fácil: “Nós primeiro selecionamos as melhores e preparamos para o cozimento de uma forma bem especial”.

No balcão da barraca do casal chamam a atenção também a coleção de pimentas, com uma variedade de picância cativante; entre as mais comuns estão algumas terrivelmente ardidas, como a bode, a malagueta e a ‘scorpion’, esta considerada a segunda mais forte do mundo. E para os fãs dos agridoces, tem a conserva de gengibre.

Falante, confiante e demonstrando ser uma boa vendedora, dona Lene nos apresentou todas, ressaltando as qualidades de uma a uma. “A gente tem que valorizar o que faz, né?!”, justifica-se, revelando que tudo é feito com água mineral [junto com o vinagre].

Ainda assim, com tanto capricho, o ganho é pouco, diz: “Mas a gente não tem outra alternativa de renda; temos que nos esforçar para isso ir pra frente”. E vender pela internet? “Não dá, temos pouca produção”, reconhece dona Lene.

Variedade: são mais de trinta itens à disposição dos compradores

Trabalhar é preciso

E por que um casal que já beira à casa dos 70 anos insiste em continuar trabalhando? A resposta do ‘seo’ Ermelindo soa indignação: “Não dá para viver só com o dinheiro da aposentadoria”. Ele recebe do INSS 1.700 reais/mês e gasta com medicamentos 1.200.

“Onde já se viu… a gente trabalha a vida toda para, agora, ganhar essa mixaria? Isso não ‘tá’ certo”, emendou. O jeito, então, segundo ele, é continuar trabalhando. Ele era caminhoneiro; ela, dona de casa e companheira dele nas viagens pelo Brasil.

Por causa de um infarto, foi proibido pelos médicos de continuar exercendo a profissão. A doença o ‘obrigou’, também, a vender o caminhão. Na verdade, vendeu a carroceria; o ‘cavalo’, não. “Está difícil de encontrar um comprador”, queixa-se.

As pimentas, de suaves a ardidíssimas, se destacam no rol de itens

Sabor da paixão

A conversa com Dona Sirlene e o ‘seo’ Ermelindo foi rápida, mas animada! Foi além dos números, cifras e lamento. A pergunta lançada foi: trabalhar sempre juntos, lado a lado, dá certo? Não dá briga, não?

“Ainda não”, responde, rindo, ‘seo’ Ermelindo, dando ênfase à palavra ‘ainda’. Dona Lene, não achou graça, não; com olhar meio atravessado, disparou: “E daqui pra frente também não vamos brigar, porque, nesta altura da vida, um depende do outro pra viver!”.

O casal está junto há 47 anos; ela tinha 13 anos e ele 16 quando começaram a namorar: “Desde então, nunca mais nos separamos”, conta dona Lene. Inclusive nas viagens. “Eu ia sempre com ele… deixava os filhos com minha mãe e ia, feliz da vida; conhecemos o Brasil de ponta a ponta”, orgulha-se.

Conserva de beterraba também tem boa saída
Na barraca da Vó Lene também tem diversos temperos
Em plena sintonia: do namoro ao casamento, estão juntos há 50 anos

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