
Com nome afetivo no rótulo, casal de aposentados faz conserva artesanal para vender na feira
São mais de trinta opções que agradam os paladares mais variados


Desde o ano passado a feira de hortifrúti das sextas e domingos tem uma novidade: os produtos da marca Vó Lene, com uma diversidade de conservas que está fazendo sucesso. São mais de trinta itens, que incluem sabores tradicionais e mais marcantes, digamos.
Os donos do negócio são Sirlene Ciquini Santana, 66 anos, e Ermelindo Santana, 69 anos, moradores da Praça Tamoio. Eles são aposentados e começaram a pequena indústria na residência, onde vão juntos à cozinha para dar conta dos afazeres.
“Tudo nós que fizemos”, confirma dona Sirlene ao Bemdito. “Compramos os ingredientes e a matéria-prima, preparamos, cozinhamos, embalamos… tudo. Ficamos horas na cozinha nessa função, um ajudando o outro”, ressalta.
As técnicas e segredinhos para aguçar o sabor dos ingredientes contam que aprenderam com familiares. Dos filhos e netos, receberam sugestões e instruções para criar a marca, que batizaram com o apelido da matriarca. Os preços variam de R$ 5 a R$ 25.
Entre as mais vendidas estão as conservas de cebola, alho, pepino, beterraba e outras que não são tão comuns, como as de jiló e de jurubeba; esta, segundo a Vó Lene, “é a melhor de Umuarama”. Ela diz que a preparação das bagas [frutos da planta] não é fácil: “Nós primeiro selecionamos as melhores e preparamos para o cozimento de uma forma bem especial”.
No balcão da barraca do casal chamam a atenção também a coleção de pimentas, com uma variedade de picância cativante; entre as mais comuns estão algumas terrivelmente ardidas, como a bode, a malagueta e a ‘scorpion’, esta considerada a segunda mais forte do mundo. E para os fãs dos agridoces, tem a conserva de gengibre.
Falante, confiante e demonstrando ser uma boa vendedora, dona Lene nos apresentou todas, ressaltando as qualidades de uma a uma. “A gente tem que valorizar o que faz, né?!”, justifica-se, revelando que tudo é feito com água mineral [junto com o vinagre].
Ainda assim, com tanto capricho, o ganho é pouco, diz: “Mas a gente não tem outra alternativa de renda; temos que nos esforçar para isso ir pra frente”. E vender pela internet? “Não dá, temos pouca produção”, reconhece dona Lene.

Trabalhar é preciso
E por que um casal que já beira à casa dos 70 anos insiste em continuar trabalhando? A resposta do ‘seo’ Ermelindo soa indignação: “Não dá para viver só com o dinheiro da aposentadoria”. Ele recebe do INSS 1.700 reais/mês e gasta com medicamentos 1.200.
“Onde já se viu… a gente trabalha a vida toda para, agora, ganhar essa mixaria? Isso não ‘tá’ certo”, emendou. O jeito, então, segundo ele, é continuar trabalhando. Ele era caminhoneiro; ela, dona de casa e companheira dele nas viagens pelo Brasil.
Por causa de um infarto, foi proibido pelos médicos de continuar exercendo a profissão. A doença o ‘obrigou’, também, a vender o caminhão. Na verdade, vendeu a carroceria; o ‘cavalo’, não. “Está difícil de encontrar um comprador”, queixa-se.

Sabor da paixão
A conversa com Dona Sirlene e o ‘seo’ Ermelindo foi rápida, mas animada! Foi além dos números, cifras e lamento. A pergunta lançada foi: trabalhar sempre juntos, lado a lado, dá certo? Não dá briga, não?
“Ainda não”, responde, rindo, ‘seo’ Ermelindo, dando ênfase à palavra ‘ainda’. Dona Lene, não achou graça, não; com olhar meio atravessado, disparou: “E daqui pra frente também não vamos brigar, porque, nesta altura da vida, um depende do outro pra viver!”.
O casal está junto há 47 anos; ela tinha 13 anos e ele 16 quando começaram a namorar: “Desde então, nunca mais nos separamos”, conta dona Lene. Inclusive nas viagens. “Eu ia sempre com ele… deixava os filhos com minha mãe e ia, feliz da vida; conhecemos o Brasil de ponta a ponta”, orgulha-se.




