
UniAlfa Faculdade promove debate sobre a violência e exploração sexual infantojuvenil
A UniAlfa Faculdade promoveu na noite de quinta-feira (19) um evento alusivo à campanha Maio Laranja, que visa a prevenção […]


A UniAlfa Faculdade promoveu na noite de quinta-feira (19) um evento alusivo à campanha Maio Laranja, que visa a prevenção e o combate à violência e exploração sexual infantojuvenil. A iniciativa envolveu professores e acadêmicos dos cursos de graduação em Direito, Pedagogia e Psicologia.
Quatro convidados participaram, inicialmente, expondo como funcionam suas atuações na área e, em seguida, sendo questionados pelos acadêmicos e comunidade presentes, além de debatendo o assunto.
O primeiro palestrante foi o Delegado de Polícia Civil, Felipe Gonçalves Martins, que atua na unidade de Iporã e é graduado em Direito e Teologia. Ele falou sobre o trabalho da polícia civil nos casos de abuso e violência sexual em crianças e adolescentes.
O delegado apresentou os conceitos sobre o que é abuso e o que é exploração sexual. O abuso consiste na atividade sexual não consentida ou desejada. A exploração está relacionada com a mercantilização, ou seja, há interesse financeiro na atividade sexual envolvendo menores.
Felipe abordou algumas mudanças que ocorreram nos últimos anos e que estão contribuindo para não revitimizar as pessoas em crimes que envolvam a dignidade sexual. Um dos meios usados é a escuta especializada. O objetivo é escalar uma pessoa capacitada e que tenha mais desenvoltura para lidar com as vítimas, que nesta situação são crianças e adolescentes. Desta forma acontece um atendimento mais humanizado e a vítima não precisa ficar relembrando o crime diversas vezes.
Também está sendo utilizado o depoimento especial, que é uma oitiva com a criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária.
O delegado disse que atualmente há 10 inquéritos em curso relacionados com crimes sexuais cometidos contra crianças ou adolescentes em na Delegacia Regional de Iporã. Há ainda 3 denúncias que estão sendo checadas. Há, no total, 43 casos desta natureza, o que é considerado pelo delegado um número alto perante uma população (microrregional) de cerca de 28 mil habitantes.

Outra palestrante foi a professora da UniAlfa e psicóloga Débora Baggio, que atualmente atua na Prefeitura de Umuarama. A profissional começou afirmando que as crianças e adolescentes são sujeitos de direito e prioridade absoluta no atendimento. Além disso, até os 18 anos estão em desenvolvimento, possuem sonhos e objetivos. “Por isso merecem muita atenção”, disse.
Débora ressaltou que, apesar de muitas pessoas considerarem absurdo, é preciso falar com as crianças sobre sexualidade, claro que dentro das limitações de cada faixa etária. “Temos que falar com a criança quem pode tocar seu corpo e quem não pode. Também acho importante a discussão na escola sobre sexualidade, pois serve como proteção”, argumentou.
Ela ressaltou que a psicologia deve atuar no antes (na prevenção), no durante (para romper o ciclo da violência) e no pós (construindo uma rede de proteção). “Temos que lembrar que a violência sexual é uma questão cultural e não individual. A família precisa entender isso. Ela não acomete apenas os pobres, não tem raça específica e nem parâmetro financeiro”, afirmou.

O terceiro palestrante foi Clodoaldo Porto Filho, que é professor e psicólogo da Defensoria Pública do Estado do Paraná, atualmente licenciado por ter sido eleito presidente da associação da categoria (Assedepar).
Clodoaldo abordou novamente a importância da escuta especializada. Ele disse que antes era um processo ‘violento’, em que a vítima precisava falar várias vezes sobre o assunto (revitimização), o que causa ainda mais traumas.
Conforme o palestrante, o Brasil é o segundo país do mundo em casos de exploração sexual, ficando atrás apenas da Tailândia nesse ranking negativo. Nas situações de mercantilização do sexo, cerca de 75% dos casos é de exploração de meninas, sendo a maioria negras. Muitos casos acontecem em postos de combustíveis, em todas as regiões do Brasil.
“Os abusos trazem traumas para o resto da vida. As vítimas são pessoas que raramente conseguirão se relacionar e provavelmente terão problemas psicológicos graves”, explicou.

A última participante foi a psicóloga e professora do curso de Psicologia da UniAlfa, Karina Soares Ambrozio. Ela também atua no Cense de Umuarama (Centro Socioeducação).
Karina começou informando que no trabalho de prevenção e combate à violência sexual que desenvolve (geralmente em escolas) sempre tem alguém que se sente propensa a denunciar ou fazer algum questionamento. E é justamente nesses momentos que liga o alerta, em que geralmente os profissionais que são qualificados conseguem identificar que aquela pessoa é vítima de algum tipo de abuso ou exploração ou conhece alguém próximo que passa por estes tipos de situações.
“Várias crianças fazem questionamentos que nos levam a descobrir casos de abuso. Temos que ter a sensibilidade para identificar isso. Além disso, é papel do cidadão tomar atitude assim que descobrir quaisquer dessas violências, denunciar e ajudar a vítima.
A psicóloga acrescenta que “a criança precisa confiar na pessoa para conseguir falar sobre o assunto. Porém, o medo cala as pessoas. Tem que haver educação sexual e mais cuidados em casa, pois a maior parte dos agressores são homens em quem a vítima confia, do seu convívio. Além disso, o maior número de vítimas é composto por meninas. Aqui vemos que se trata de uma reprodução de um comportamento secular”, asseverou.

Um dos assuntos que ganhou destaque nos debates foi sobre as redes sociais. Atualmente as crianças utilizam este tipo de tecnologia cada vez mais cedo e, em alguns casos, sem nenhum tipo de acompanhamento ou restrição por parte dos responsáveis.
Cabe ressaltar que o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes é crime e as denúncias podem ser feitas pelo Disque 100.

