
Quando foi anunciada a fundação de Umuarama, uma nova cidade no Paraná… (parte 1)
... começou a chegar gente de todos os lados do Brasil para viver na nova urbe que nascia...


Um dos privilégios mais prazerosos que a profissão de jornalista me conferiu, principalmente nos primeiros anos da carreira de repórter, foi ter ouvido admiráveis relatos dos antigos moradores de Umuarama.
Verdadeiros oráculos e testemunhas vivas do que se passou antigamente. Naquelas tertúlias saborosas que dividi com eles num passado de mais de quatro décadas ao jornalismo, extraí depoimentos inesquecíveis, testemunhos que misturavam memórias históricas ou mitológicas, mas todos confessados com a maior franqueza.
Depois de tanto beber nessas generosas fontes jorrando casos e causos da geração anterior à minha, hoje, preparado e feliz com tanto conhecimento adquirido, me dou ao prazer de poder repassar aos leitores deste álbum de memórias – e aos futuros garimpeiros de informações nostálgicas – tudo o que aprendi, vivenciei e que nestas crônicas deixo para a posteridade.
Como toda cidade tem uma história e, ela, consequentemente, tem um começo, nada mais óbvio do que relatar agora episódios da chegada dos primeiros habitantes, tempos que precedem a fundação de Umuarama, pois, é evidente que os fatos já aconteciam bem antes do memorável domingo 26 de junho de 1955.
Contavam os precursores, velhos amigos que na maioria já não estão mais entre nós, que nos idos de 1953 já havia gente morando por estas bandas, espalhadas por um canto e outro desse mundão verde e ainda absolutamente primitivo.
E faziam questão de frisar que a primeira porta de entrada foi a acidentada trilha que havia sido aberta para demarcar a lendária estrada de ferro (que, como já contei em reportagens de jornais, não passou de uma triste ilusão que até agora continua sendo um lero-lero bufo na boca de políticos) que ligaria Maringá, já em fase de colonização, à centenária Guaíra e, dali para frente, os trilhos seguiriam para o Paraguai e no futuro até as águas do Oceano Pacífico….
Era um tempo em que só havia o céu ea selva, guardando remotas marcas dos índios da tribo Xetá, verdadeiros donos de tudo o que existia, e que já estavam praticamente dizimados pela raça branca ávida em dominar (e lucrar com) o território.
Era um período heróico que pulsava entre o inacreditável e o dramático, um desses momentos que só aparecem de século em século em algum canto do planeta…
No começo eram poucos os agricultores abrindo terras para plantar e colher, mas, assim que as colonizadoras pulverizavam a propaganda da abertura de uma nova fronteira, inicialmente batizada de Norte Novíssimo e que depois foi simplificada para Noroeste, se transformaram em legiões.
Rumavam para cá forasteiros, aventureiros e colonos, imigrantes e emigrantes, todos de uma certa forma invasores numa verdadeira corrida para a conquista de um novo Paraná, um novo milagre da terra, protagonizando um desbravamento de um mundo novo que poucos anos antes nem sequer existia nos mapas.
E o caminho desse tesouro se resumia àquela primitiva trilha escondida na mata fechada, uma artéria pulsando, serpenteando por centenas de quilômetros e cortando aquela imensa floresta que parecia não ter fim.

As colonizadoras, que haviam fatiado o gigantesco território, anunciando um futuro paraíso agrícola para vender mais rápido os lotes rurais e urbanos, e o governo federal, sedento como sempre por mais impostos, estimulavam freneticamente a cultura do café em terras supostamente riquíssimas e venturosas. (Nem um pio sobre as terríveis geadas dos invernos rigorosos do passado e sobre o terreno arenoso frágil às chuvas que cavavam erosões)
Os ricaços investidores, a maioria paulistas, compraram terras baratíssimas aos montões. Que as revendiam aos colonos que chegavam, e que, por sua vez, sonhavam em virar futuros “Barões do Café”, como havia ocorrido em passado recente no vizinho Estado de São Paulo e depois na prodigiosa Londrina, que virou “Capital do Café”, no Paraná.

Todos estavam contaminados por um delírio incontido. Porém, é oportuno corajosamente reportar que a maioria formava uma plêiade de ignorantes no ofício da agricultura racional, sem absolutamente nenhuma técnica nem visão de futuro, visando apenas em “se dar bem” nos negócios da lavoura e nenhuma consciência para lavrar o solo.
Além disso, nem sequer atentaram para um inimigo cruel: o clima, totalmente desaconselhável para o plantio de café, crivado de constantes geadas arrasadoras que se abatiam sobre a região todos os anos. O preço dessa ignorância pagariam poucas décadas depois. Com juros altíssimos e lágrimas…
Caravanas, vindas de todos os lugares, deixavam para trás suas antigas vivendas e aportavam no Paraná, em auto-exílio num lugar inóspito e absolutamente misterioso. Todos traziam sobre os seus ombros o otimismo de encontrar um novo lar e um pedaço de chão para viver a vida toda, uma fé sólida que só se concretizaria para aqueles que trabalharam duro e tiveram um afago da sorte.
Para todos nós, que chegamos em meados do século passado, nas décadas de 1950 e 60, os ventos da esperança de dias melhores começaram a soprar assim que atravessamos as fronteiras do Paraná. (ITALO FÁBIO CASCIOLA)
Confira a parte 2 amanhã…
