Graça Milanez Publisher do OBemdito

Aos 80 anos, ‘Guerreira do Comércio’ segue enfrentando batalhas do dia a dia em sua loja

Na ‘Fios Dourados’, ela costuma manter jornada de trabalho em período integral; a pioneira vive aqui há 61 anos

Foto: Danilo Martins/OBemdito
Aos 80 anos, ‘Guerreira do Comércio’ segue enfrentando batalhas do dia a dia em sua loja
Graça Milanez - OBemdito
Publicado em 22 de junho de 2023 às 18h04 - Modificado em 21 de maio de 2025 às 06h20

Desde 1962, uma das esquinas mais valorizadas dos arredores da Praça Santos Dumont pertence ao casal de pioneiros Joaquim Lourenço Maria Rodrigues, 85 anos, e Cleide Secco Rodrigues, 80 anos. Nesse ponto comercial estão hoje a confeitaria ‘Magia dos Doces’ e a loja de aviamentos mais famosa de Umuarama, a ‘Fios Dourados’.

Dona Cleide conta que o local já acolheu loja de secos e molhados e depois de bebidas [pertencentes à família dela]; mais tarde, loja de calçados, de material de construção [aluguel]… Enfim, na dinâmica do crescimento da cidade, a paisagem ia mudando até que em 1986 ela decidiu que queria ter o próprio negócio. Até então ajudava o marido na loja dele e cuidava da casa.

Mesmo com as finanças da família equilibradas, pretendia empreender. “Queria mostrar que também sabia ganhar dinheiro”, diz, com a satisfação visível de quem conseguiu ganhar a aposta. “Tomei a decisão, fiz um empréstimo no Banco do Brasil e realizei o meu sonho”, conta a pioneira, que sabia fazer tricô e crochê, bordar e costurar. E foi essa habilidade por trabalhos manuais que a inspirou a investir nesse nicho de mercado.

Dona Cleide foi uma entre poucas que ganharam o cobiçado prêmio estadual ‘Guerreiros do Comércio’

“Percebi que Umuarama precisava de uma loja bem suprida nesse segmento pois tínhamos muitas costureiras atuantes; eu me alegro em poder dizer que acertei, pois logo precisei ampliar a loja… Em seis meses de funcionamento já tive que ampliar”, informa a empresária, que teve sua competência reconhecida. Ela foi contemplada com o prêmio estadual ‘Guerreiros do Comércio’, da Federação do Comércio do Paraná, em 2011.

Na conversa com OBemdito, Dona Cleide mostra-se altiva, empolgada com as lembranças que relata sobre sua trajetória no empreendedorismo: “Eu atendia o dia todo e à noite criava e costurava peças diversas, artesanais, para vender aqui na loja; foram muitas madrugadas adentro nessa rotina! Bem diferente de hoje, naquele tempo não tinha quase nada pronto!”.

Ela e o marido Joaquim, na Fios Dourados: casal chegou em Umuarama em 1962

Isso a intriga. Concorrer hoje com a avalanche de produtos prontos [a maioria de baixa qualidade] que vem da China é um dos motivos que faz comerciantes, do perfil dela, desanimarem. “Nosso movimento caiu muito”, lamenta a proprietária da ‘Fios Dourados’, sócia do filho Eduardo Lourenço Maria Rodrigues, 55 anos [ela tem mais dois filhos].

Com apoio de 10 funcionários, trabalha oito horas por dia, a maior parte do tempo no caixa, onde se sente mais potente. “Acordo pensando na loja, porque amo o que eu faço! Não uso calculadora para somar… Tenho uma cabeça ótima, raciocínio rápido!”, orgulha-se a ‘Guerreira’, que promete não abandonar o ‘front’ tão cedo.

A ‘Fios Dourados’ é uma das lojas mais completas de Umuarama no ramo de aviamentos

“Vim de avião graaande!”

Dona Cleide chegou em Umuarama com 19 anos [logo que casou]. Era 1962. Ela e o marido, que é português, vieram de Mandaguaçu. “Cheguei de avião de carreira… avião graaande! E hoje temos avião igual àquela época? Não! Isso não é estranho?”, comenta, questionando o atraso da cidade em relação ao transporte aéreo.

Também se queixa de não ter continuado os estudos. Ela parou na ‘8ª série’ [completou o ginásio, hoje ensino fundamental]. E por que parou? “Queria muito ser professora, cursar o magistério [em nível de segundo grau], mas meu pai não me deixou; ele dizia que mulher não precisava estudar, bastava ser prendada”, responde, com ar de indignação.

Anos depois teve chance de continuar os estudos. E quando pensou em fazer uma faculdade, sofreu outra frustração: o marido não deixou.  “Aceitei, me conformei nessas duas vezes, mas quando resolvi abrir minha loja… aí ninguém me segurou”, arremata a empresária, que sempre foi também muito atuante na sociedade umuaramense, principalmente no Rotary, o qual chegou a presidi-lo.

Dona Cleide no ‘caixa’ da loja: raciocínio rápido para somar
Devoção: imagem de Nossa Senhora de Fátima faz parte da decoração da loja
Fachada da ‘Fios Dourados’, criada há 36 anos

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