
Uma das maiores árvores da cidade reina absoluta na Avenida Brasil
A contragosto de alguns vizinhos, empresários preservam a beldade com amor e planos para deixá-la ainda mais atrativa

Impossível passar pela Avenida Brasil, na altura da Praça Brasília, e não se impressionar com ela: a falsa-seringueira de aproximadamente 20 metros de altura, com tronco de 22 metros de diâmetro, vivendo ali, estima-se, desde os anos de 1950. Ou seja, crescendo com a cidade.
A árvore gigante, que tem uma copa exuberante [com cerca de 40 metros de diâmetro], é parte do terreno do Auto Posto Abel; e se destaca, lado a lado com o posto, a loja de conveniência, o restaurante, o lavador de carro e a borracharia.
“Não tem cliente que não se impressiona com a grandiosidade dela”, diz o proprietário do posto, Júlio Abel da Purificação Marques. “Desde que compramos o posto, em 1996, ela estava aqui e já era bem alta! Debaixo dela funcionava uma borracharia”, acrescenta. A esposa dele, Maria do Rosário, 65 anos, confirma: “Sempre foi nossa paixão!”.
E para abraçá-la, quantas pessoas são necessárias? OBemdito instigou o desafio e convidou clientes, frentistas e outras pessoas que por ali passavam para tal fim; os proprietários também participaram. O resultado: 21 pessoas abriram os braços, deram as mãos e envolveram o tronco da sexagenária.

Mas o tamanho não é tudo; chamam muito a atenção as raízes aéreas dessa árvore, que, ao encontrarem o solo, se transformam em troncos auxiliares, ajudando a suportar seu peso e formando relevos, que acrescentam muito mais potência a sua beleza.
Falando em raízes… Sabe-se que elas são agressivas e podem prejudicar tubulações subterrâneas, calçadas, muros. E por isso incomodam alguns vizinhos, que preferem vê-la erradicada. “Até já se ofereceram para pagar pelo serviço de arranquio, mas não aceitei e não aceito”, diz Abel, sem citar nomes.
A filha dele, a arquiteta e urbanista Caroline Salgueiro, que atualmente gerencia o posto, é ainda mais enfática na defesa da árvore. “Enquanto eu estiver aqui ninguém mexe num galho dela! Ela faz parte da história de Umuarama; é um patrimônio da cidade! E a partir do momento em que as árvores são um bem para todos, a sua preservação deveria ser uma responsabilidade compartilhada”, assegura.

É claro que ela sabe que esse tipo de árvore não é próprio para paisagismo urbano. “Sim, hoje recomendam-se espécies com raízes não destrutivas, mas essa nossa ‘seringueira’ é um caso à parte: sendo uma das únicas da área urbana, ela é especial! Claro que tem alguns empreendedores que insinuam que seria mais lucrativo para nós aproveitarmos ‘melhor’ o terreno [sem ela]. Porém, foi plantada no início da cidade e preservada com muito zelo e carinho ao longo dos anos pelos meus pais; sendo assim, continuaremos a preservá-la”, promete.
Para a arquiteta, antes que qualquer árvore seja plantada, é preciso que ela tenha nascido dentro da alma: “Por isso, continuaremos cuidando dela também em respeito a quem plantou e aos que cuidaram e fizeram questão que ela permanecesse aqui aos longos desses anos todos”.

De pais para filhos
A cultura da preservação faz parte do dia a dia da família. Caroline diz que ela e o marido Fábio Henrique Fenato, 44 anos, estão ensinando os filhos, José Henrique, 7 anos, e Pedro Joaquim, 3 anos, a importância de respeitarem a natureza.
A falsa-seringueira passa a ser tema das primeiras lições: “Ensinamos que é para continuarem preservando-a como patrimônio cultural. E um dos modos de conservá-la, como planos futuros, será valorizá-la e deixá-la mais atrativa, com uma melhor iluminação e um espaço de lazer no entorno para contemplá-la com conforto.”
A arquiteta menciona o conforto térmico – a ‘mega sombra’ que a fícus, no caso, gera – e o fato de ter salvo a cobertura do posto de combustível de muitos vendavais como o mínimo dos benefícios.
“Além produzirem oxigênio, elas reduzem a poluição do ar, aumentam a umidade do ar, evitam erosões e elevam o bem-estar físico e mental das pessoas ao seu redor”, menciona.

Em relação à falsa-seringueira da Avenida Brasil, ressalta: “É um elemento pontual imponente, não apenas uma referência de localização, mas principalmente um marco na paisagem urbana com significado intimamente ligado à memória e à identidade cultural da nossa cidade de Umuarama, a qual se remete também à história dos espaços públicos, das praças da cidade que possuíam árvores de grande porte compondo a paisagem urbana, muitas delas, infelizmente, erradicadas”.

Saiba mais
De origem asiática, a falsa-seringueira tem vários nomes: Árvore-da-borracha [pois produz uma espécie de látex], Figueira-branca, Goma-elástica, Borracheira e Fícus-italiano [como é mais chamada no Brasil, pelo fato de as primeiras mudas terem sido trazidas da Itália].
Antigamente, muitas cidades plantavam a fícus em seus projetos de arborização urbana. Por isso, São Paulo e Brasília, por exemplo, têm alguns exemplares, como esta de Umuarama, preservados e se destacando na paisagem.











