Rodrigo Mello Publisher do OBemdito

Ao comemorar 100 anos, Frei Clemente Vendramim lembra momentos marcantes de sua vida

Considerado o frei mais idoso Do Brasil, ele segue com sua rotina na Matriz São Francisco de Assis, em Umuarama

Foto: Stephanie Gertler/OBemdito
Ao comemorar 100 anos, Frei Clemente Vendramim lembra momentos marcantes de sua vida
Rodrigo Mello - OBemdito
Publicado em 9 de agosto de 2023 às 16h27 - Modificado em 21 de maio de 2025 às 03h41

“Como a gente chega aos 100 anos? É simples: viva o hoje, viva o amanhã e viva todo o dia, quando você vê está chegando”. A afirmação é do Frei Clemente Vendramim, da Matriz São Francisco de Assis de Umuarama, que no próximo dia 16 de agosto, completa 100 anos de vida. Considerado o frei mais idoso em atividade atualmente no Brasil, ele segue normalmente com sua rotina de celebrações de missas e atendimentos na Casa Paroquial.

Nascido em 1923, no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, o Frei Clemente foi ordenado padre em 3 de março de 1946. A vida religiosa, no entanto, começou bem antes, em 1934 quando ingressou no seminário. De acordo com ele, a decisão foi tomada por impulso, no entanto, nunca se arrependeu da escolha que fez.

“Meu irmão é quem deveria ir para o seminário. Ele era dois anos mais velho que eu. Num domingo na missa o padre perguntou se ele queria ir para o seminário. Ele disse que responderia em janeiro. Depois falou que não queria mais. Então eu disse: Se ele não quer, eu quero e, não é que fui mesmo. Depois que entrei para o seminário nunca mais dormi em casa em toda a minha vida”, recordou durante entrevista coletiva que concedeu na manhã desta quarta-feira (9), no Salão Santa Clara.

Dos 100 anos que irá completar, 78 foram dedicados ao sacerdócio. Conforme ele, neste tempo viveu muitas experiências, algumas marcantes, como uma em particular, que vivenciou no Vaticano. “Tive a oportunidade de assistir a última programação dogmática que aconteceu na igreja. Eu estava lá na Praça São Pedro bem perto do Papa Pio XII quando ele fez a proclamação dogma de fé. Outra coisa interessante foi ter visto o padre Pio. Eu participei de uma missa dele e fui coroinha desta missa”, contou.

O frei mais idoso do Brasil recorda também de alguns momentos que foram difíceis para ele. “Tem um período da minha vida que não queria ter vivido muito. Foram uns 20 anos mais ou menos. Eu estava meio encostado nem aqui nem lá, correndo de um lado para outro e, de certo modo, abandonado. Também tinha abandonando os meus interesses espirituais. Mas, graças a Deus, esse período passou”, revela.

De acordo com o frei, a vida religiosa impõe diversos sacrifícios que vem junto com os votos de pobreza, obediência e castidade feitos quando se propõe viver a vida sacerdotal. Dos votos, o que é mais difícil de manter, segundo ele, é o voto da obediência.

“O voto de pobreza nunca foi trabalho para mim porque desde que nasci eu sempre pobre. A castidade também não, embora, na adolescência e na juventude tenhamos dificuldades, mas, graças a Deus, deu para superar muito bem, sem ter tido problema algum. Até hoje vivo esse voto na tranquilidade. Agora o voto de obediência, esse sim, esse é danado de cumprir”, disse em tom de confissão.

E relembrou: “Eu era professor dos freis em Curitiba. Adorava dar aulas. Um belo dia alguém chega para mim e diz: Você vai para Irati, eu não queria ir, mas fui. No começo com grande tristeza, depois, trabalhei muito, me apaixonei pela Paróquia e não queria mais sair de lá”, conta.

Trabalhar até o fim da vida

Apesar de sua idade bastante avançada, mas ainda muito lúcido, Frei Clemente afirma que seu maior sonho é continuar trabalhando. “Quero continuar fazendo o pouco que ainda posso, ou seja, estar orientando meus irmãos que estão aqui até o dia que eu não puder mais. Me parece muito triste um dia ser recolhido para a enfermaria e ficar dando trabalho”, diz.

“No momento em que não puder mais trabalhar, que acabe de uma vez. Esse negócio de ficar numa enfermaria dando trabalho para os outros não me agradaria nem um pouco. Mais ainda dá para fazer um bom trabalho por um longo tempo”, completa.

Um momento que vale a vida toda

Como vigário na Paróquia São Francisco de Assis, o sacerdote tem diversas atividades e responsabilidade, entre elas, os cuidados com as pastorais. Além de celebrar missas, também faz aconselhamentos e atende confissões. Um dos momentos mais gratificantes segundo ele, é quando a noite faz uma avaliação do dia e observa o que Deus o permitiu fazer para ajudar pessoas que estavam precisando de auxílio.

“Tem certos dias que você escuta algumas confissões e tem uma satisfação tão profunda que só aquele dia já valeria a vida inteira. Uma pessoa que está ali numa profunda tristeza, arrasada e cheia de coisas erradas e você, com toda a calma de Deus, procurando imitar Jesus, com toda a humildade e carinho, consegue fazer a pessoa se soltar e, no fim, você diz: Olha querido, Deus apagou seus pecados”, pontua.

E segue: “Aí você vê cair uma lágrima dos olhos destas pessoas e ela diz: Meu Deus estou sentindo o paraíso agora. Você quer uma coisa melhor que esta na vida? Só um fato destes já vale toda a vida”, revela.

Desafios pastorais

Um dos grandes desafios da Igreja, em tempos atuais, segundo o Frei Clemente, é a igreja sinodal, ou seja, o esforço coletivo e a busca contínua para aprender a “caminhar juntos”, como irmãos e irmãs. Além disso, criar um espaço onde cada pessoa é importante, tem voz, é ouvida, capacitada e envolvida na realização da missão também precisa ser constante na igreja.

“A sinodalidade é um desafio enorme, mas eu vejo que é o único caminho que a igreja tem, não só para prosperar, mas também para progredir. A responsabilidade pelo evangelho, pela pregação, por tudo aquilo que se trata do reino de Deus. Não é exclusivo nem dos papas, nem dos bispos, nem dos padres, nem dos diáconos, mas é de propriedade de cada um dos fiéis”, finaliza.

Biografia

Frei Clemente é filho de Sebastião Vendramim e Clara Muraro. Na ordem cronológica, é o quarto filho de oito que o casal teve. Foi batizado com o nome de Sezefredo e crismado por Dom João Francisco Braga. Recebeu a primeira eucaristia em 1933, em Santa Felicidade.

Entrou no Seminário Nossa Senhora das Mercês, Curitiba em 1934. Recebeu o hábito capuchinho em Butiatuba em 1939 com o nome de Frei Clemente de Santa Felicidade. O mestre de noviciado era Frei Barnabé de Guarda Vêneta. Emitiu a profissão temporária em fevereiro de 1940 e a perpétua em outubro de 1944.

Frei Clemente trabalhou como professor dos seminaristas de Butiatuba e deu aulas aos freis estudantes de Teologia nas Mercês, em Curitiba. De outubro de 1947 a janeiro de 1951 residiu em Roma, no Colégio São Lourenço de Brindes, estudando na Universidade Gregoriana. A seguir, em Curitiba: Mercês, 1951-1955; 1960; 1966; Capinzal, 1955; Ponta Grossa: Imaculada, 1955-1960; Irati: N. Sra. da Luz, 1967-1972; Ponta Gros-sa: Bom Jesus, 1972-1978; Umuarama, 1978-1994;2012.; Florianópolis, 1994;2007-2008; Santo Antônio da Platina, 1995-2006; 2009-2011; Londrina, 2012 (um mês).

Doutor em Teologia Dogmática, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1951), Frei Clemente desempenhou muitos cargos a serviço da Igreja, da Ordem e da Província. Foi juiz auditor na Câmara Eclesiástica de Umuarama; professor de Teologia em Curitiba, no teologado dos freis Capuchinhos e no Instituto de Teologia da arquidiocese de Curitiba por doze anos.

Ele também participou de quatro assembleias gerais da Ordem, em Roma; 2º Assistente do Comissariado Provincial, 1957-1960; 1º Assistente do Comissariado Provincial, 1963-1966; Ministro Provincial por dois triênios, 1972-1978; em 1994 permaneceu quatro meses na Província Vêneta, num projeto de intercâmbio provincial. Também foi pároco e guardião por muitos anos.

Além disso, também é tradutor do italiano e latim e desde 2009 tem ajudado a secretaria provincial, prestando este serviço. E o faz com muita disponibilidade, rapidez e competência. O sacerdote também é grande apreciador e incentivador da música, especialmente da música litúrgica e polifônica. No seu tempo de estudante era o organista da casa. Mais tarde dirigiu corais de adultos e de crianças. Atualmente frei Clemente rege o coral ‘Canarinhos de Jesus’ formado por crianças na Matriz São Francisco de Assis.

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