
Maior produtor de limão do Paraná, Altônia discute ações para enfrentar o greening
Seab promoveu encontro para orientar os produtores sobre a doença que afeta todas as lavouras do Estado


O núcleo regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento) escolheu Altônia para intensificar a campanha de alerta sobre uma das doenças mais temidas da citricultura, o greening [ou HLB], detectada no Brasil em 2004 e que, desde então, tem gerado grandes perdas em toda a cadeia citrícola do país.
Embora venha sendo combatida, a doença se alastra a ponto de preocupar técnicos e produtores, e com razão, pois pesquisadores do IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) já anunciaram que, se não for enfrentada com seriedade, ela tem potencial para inviabilizar a citricultura no Paraná.
Altônia pontua como o município maior produtor de limão taiti do Estado, com 444 hectares plantados, em mais de cem pequenas propriedades rurais, ligadas à agricultura familiar. Nas três safras anuais, a produção é de 30 mil toneladas, que são comercializadas nas Centrais de Abastecimento do Paraná em Maringá, Foz do Iguaçu, Cascavel e Curitiba.
A maioria dos produtores – o município tem cerca de 80 – está bastante apreensiva, informa o engenheiro agrônomo do IDR-PR, João Gabriel Nunes de Oliveira, que presta assistência técnica em Altônia. “É que a incidência de plantas infectadas aumentou muito; basicamente todas as lavouras estão afetadas”, diz, acrescentando que vem sendo intensificado o monitoramento.

“O produtor realiza o monitoramento e quando encontra plantas com sintomas do greening, como ramos e folhas que se destacam pela cor amarelada, ‘mosqueamento’ nas folhas e frutos deformados e assimétricos, essa planta é eliminada; isso ajuda a impedir a disseminação da doença, mas não acaba com ela… é uma precaução, porém muito necessária”, explica.
Além de limão, Altônia produz também laranja, poncã, mexerica e tangerina, que são ainda mais suscetíveis ao greening; elas definham rapidamente, já o limão aguenta mais tempo.

Lavoura modelo
Ocupando 25 hectares e com mais de 10 mil pés, as lavouras de limão da família Cracco estão entre as que se destacam em Altônia. Os Cracco também investem em pomares de abacate e na produção de leite.
“Com o limão, começamos em 2003, como opção de diversificação da propriedade, e não paramos mais”, diz Marco Cracco , 54 anos, que acredita que o negócio vem dando certo porque é familiar. Se empenham para isso ele e o irmão Edenir [sócios], as esposas e os filhos, somando 12 pessoas.
Segundo ele, a família está satisfeita com a produtividade dos pomares de limão, mas diz que não está sendo fácil, não. “De uns três anos para cá o mau tempo, ora muita chuva, ora seca, ‘tá’ judiando das lavouras… ‘tá’ bem difícil!”, queixa-se.

O greening também está tirando o sossego da família. Neste caso, reclama da desunião e da falta de consciência dos produtores. “Se todos cuidassem das lavouras como se deve cuidar, não seria um problema complicado de enfrentar”, acentua.
Ele aponta os ‘aventureiros’ como os causadores desta situação, aqueles que resolvem entrar para o ramo do limão, com pouco conhecimento e sem experiência para tocar a lavoura. “São pessoas mal-informadas!”, lamenta.
E desabafa: “Se todos os produtores, unidos, fizerem o combate como deve ser feito, seguindo as recomendações técnicas, dá pra controlar! Mas infelizmente não é o que estamos vendo por aqui… Isso nos entristece, pois vivemos em Altônia desde a década de 1970 e temos muito amor por esta terra”.

Orientar e conscientizar
Com o objetivo de discutir avanço e combate do greening a Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) promoveu um encontro em Altônia, que reuniu a maioria dos citricultores do município, além de técnicos e lideranças políticas.
Em palestras, foram discutidos os temas: ‘Pesquisas e informações técnicas sobre o greening’; ‘Orientações e informações do combate ao greening e ações de controle e erradicação de pomares’; e ‘Importância econômica da citricultura’.
Dados do Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab foram expostos pelo engenheiro agrônomo Antonio Carlos Fávaro, que alertou sobre os prejuízos que a doença pode acarretar em cifras.
“A atividade citrícola tem grande importância econômica para Altônia; na safra do ano passado foram produzidas 26 mil toneladas de limão e laranja, que renderam R$ 40 milhões; em média, por hectare, são R$ 61 mil, valores muito significativos, se compararmos com a média regional, que não passa de R$ 8 mil por hectare”, informou.

Ele também chamou a atenção para a relevância social, considerando que a maioria dos pomares é administrado e tocado por famílias de pequenos produtores [a maioria]; são 600 empregos diretos e indiretos. “O dinheiro que ganham com a venda da produção, boa parte os citricultores gastam em Altônia, fomentando o comércio local”, ressaltou o engenheiro agrônomo.
O encontro foi promovido pela Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) em parceria com o Deral (Departamento de Economia Rural), IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná)/ Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento), Secretaria do Meio Ambiente, Agricultura e Turismo da Prefeitura de Altônia e Areau (Associação Regional dos Engenheiros Agrônomos de Umuarama).
A campanha de combate ao greening continua e alcança mais dois municípios que apostaram na citricultura: Cruzeiro do Oeste, com 1,2 mil hectares de laranja, e Cidade Gaúcha, com 220 hectares, também de laranja. Em relação a empregos, junto com Altônia geram para a região da Amerios (Associação dos Municípios de Entre Rios) mil diretos e 500 indiretos.

