
Com técnica que usa sucata de alumínio, terra e muita habilidade, casal fabrica panelas artesanais
Seguindo método milenar, desde 2012 Monie e Jonny atuam no ramo, vendendo Brasil afora o que produzem em Umuarama


Ela não tem fachada que ostenta a marca, mas existe. Num ambiente que flui simplicidade, instalada num barracão no Parque Industrial, a fábrica ‘Monie Panelas’ gera renda para a família, receita para o município e orgulho para Umuarama, por manter viva a tradição de produzir panelas e outros utensílios culinários de forma artesanal.
A técnica, passada de geração a geração, chegou por aqui no início dos anos de 1970. Veio com o mineiro João Miguel Vieira, que montou uma fábrica nas proximidades da Praça Tamoio. Nesse tempo, o pioneiro não só produziu muitas panelas de alumínio grosso fundido, como também ensinou o filho Jonny Vieira, 37 anos, a fazê-las; hoje ele é proprietário da empresa ‘Monie Panelas’, que abriu com a esposa Monie Cristina da Silva Veira, 37 anos.
“Eu tinha 8 anos de idade quando comecei a ajudar o meu pai; de aniversário, ao invés de um brinquedo… olha só, ganhei uma caixa de modelar… Já nasci predestinado a ser paneleiro”, conta Jonny, rindo. Logo que casou, ele compartilhou o aprendizado com Monie e, juntos, desde 2012, passaram a atuar no ramo com a marca ‘Monie’.

Além de panelas, eles confeccionam, com habilidade ímpar, assadeiras [com ou sem tampa], forma de pudim e de bolo, cuscuzeira, paejeira, frigideira, fruteira, chaleira, pipoqueira e disco para churrasqueira, que são os mais vendidos; no total, estão no portifólio mais de 300 itens, todos feitos um a um, a partir de moldes feitos na terra.
OBemdito conferiu o trabalho do casal; acompanhamos uma jornada de quatro horas, dias atrás, quando o casal derreteu cem quilos e alumínio, que resultaram em 50 peças [fazem isso a cada dez dias]. No passo a passo da missão – sim, mais parece uma missão do que uma função – o casal trabalha em sintonia o tempo todo.
Trata-se de um trabalho pesado, quente, barulhento… “Nada fácil”, define Monie, rindo [assim como Jonny, ela manteve o bom humor o tempo todo]. Mas tem paixão envolvida: “Mesmo suando em bicas, a gente gosta do que faz; nesse ambiente não temos nenhum conforto, mas é o que nos propomos a fazer; isso nos dá um prazer imenso!”, continua a empresária, lembrando que o cliente valoriza as peças justamente por serem artesanais.

“A qualidade também é muito elogiada; quem deseja um produto bom, que garante resistência, eficiência no cozimento e durabilidade, compra, e isso acaba sendo um incentivo, que nos motiva a continuarmos”, acrescenta Jonny. “Não por muito tempo”, corrige. “Não vamos aguentar muito mais nesse ritmo; é muito puxado!”
E pelo que tudo indica, não terão herdeiros de profissão; nenhum dos três filhos – Cauã, Camile e Helena – quer ser paneleiro. “As grandes indústrias, as modernas tecnologias, vão aos poucos nos tirando do caminho, rompendo essa conexão com o passado”, divaga Monie, que é pedagoga. Jonny faz curso técnico de radiologia.
O passo a passo
A ‘missão’ de fabricar panelas com alumínio fundido tem lá seus dissabores, mas temos que reconhecer: é fascinante! Acompanhar as mãos habilidosas de Jonny e Monie, sem pressa, transformando alumínio bruto em obras únicas e funcionais é uma experiência cativante.
Tudo começa na terra. Pelo menos sete metros cúbicos [cerca de duas caçambas de caminhão, cheias] permanecem na fábrica para moldar as peças. Pás, enxadas, peneiras e muitas outras ferramentas também ficam à disposição dos artesãos.
Para fazer uma caçarola, por exemplo, eles usam como molde uma caçarola, que é enterrada na moldeira [uma caixa de madeira sem fundo]. É um trabalho meticuloso. A terra em volta tem que ser bem socada para as formas ‘desenhadas’ no processo ficarem firmes.

Num segundo momento, a caçarola é retirada; o espaço vazio deixado por ela na terra, na sequência, vai ser preenchido pelo alumínio derretido, despejado por um buraquinho feito para isso. A precisão e paciência nesta fase são cruciais.
Para produzir as 50 peças, eles fizeram um ‘canteiro’ de 30 metros quadrados, onde os moldes, tirados das moldeiras de madeira, ficaram enterrados, lado a lado.
Enquanto isso, o alumínio bruto é derretido lentamente, num cadinho de grafite para fundição, com capacidade para cem quilos; fica no calor do fogo produzido por óleo até atingir 750 graus centrígrados. Depois, o líquido prateado é despejado nos moldes enterrados. Em questão de minutos, as peças estão prontas e podem ser desenterradas.
E o trabalho não para aí. Ainda tem o acabamento: lixar, polir, tirar rebarbas, montar cabo, alça, entre outros detalhes. Tudo para deixar as bordas e paredes das peças lisas e brilhando, para impressionar o comprador.

Sustentabilidade
Na fábrica da marca ‘Monie Panelas’ nada se perde, tudo se transforma. O alumínio que usam é reciclado [é comprado em depósito de sucata]; o óleo que o aquece também é de segunda mão [é diesel, adquirido em uma oficina de trator, ou é óleo de cozinha usado, doado por parentes e amigos do casal].
As impurezas que sobem à superfície, retiradas no derretimento do alumínio, são vendidas para uma empresa que, delas, consegue aproveitar mais alumínio, ou seja, as pequenas partículas do metal que sai na ‘nata de escória’ descartada. Também é vendido o pó de alumínio que o lixar das peças gera.

Onde encontrar
Os utensílios de alumínio da marca ‘Monie’ podem ser adquiridos por encomenda, feita pelo Instagram. Ou na feira de domingo, na Avenida Parigot de Souza, numa barraca montada no espaço do Instituto dos Artesãos, entidade da qual Monie e Jonny são membros. O casal também tem ponto de venda na Praça Anchieta, onde fica aos sábados à disposição da clientela. E, quando convidados, expõe em eventos da cidade.
== Para saber mais sobre a marca ‘Monie Panelas’ acesse https://www.instagram.com/moniedaspanelas/ ou o canal ‘Nóis cá fundindo’, no YouTube, onde o casal mostra os trabalhos na fábrica https://www.youtube.com/@noiscafundindojonnyemonie.











