
De família paranaense, jovem de 21 anos é aprovada em estágio na Nasa
Uma família do Paraná pôde celebrar recentemente uma conquista incrível obtida por uma brasileira nos Estados Unidos. Em agosto deste […]


Uma família do Paraná pôde celebrar recentemente uma conquista incrível obtida por uma brasileira nos Estados Unidos. Em agosto deste ano, a jovem Maria Katerina Apostle, de 21 anos, foi aprovada para um estágio de quatro meses na Nasa (National Aeronautics and Space Administration), a agência do governo federal dos Estados Unidos responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial.
Estudante de engenharia elétrica no Wentworth Institute of Technology, localizado em Boston, a jovem é filha de uma brasileira (Devanir Bueno, a Diva) com um grego e nasceu nos Estados Unidos. Ainda assim, mantém laços fortes com o Brasil (e o Paraná, especialmente), ao ponto de se sentir orgulhosa por estar representando agora na Nasa o país que ela chama de seu.
“Meus pais têm muito orgulho de mim. Eu estava em choque quando recebi a notícia, pensei que estava sonhando até. Nossa, ser escolhida para isso… É uma honra. E fico ainda mais feliz por ser filha de brasileira e conseguir um estágio na Nasa. É algo especial saber que também estou representando meu país”, afirma Maria, que fala português fluentemente e desde pequena visita a terra natal de sua família com frequência.
“Já fui muitas vezes, nós sempre fazíamos uma viagem por ano, pelo menos. Fiquei sem ir uns anos antes da pandemia, no ano passado voltei e agora quero visitar de novo no próximo ano, já estou sentindo muita saudade do Brasil”, conta a estudante.
“Nós sempre voltamos para o Paraná, a Curitiba. Eu adoro muito. Nossa família é do interior do Paraná, eles moram perto de Ivaí, numa chácara mesmo. Quando vamos para o Brasil, primeiro visitamos Curitiba sempre e depois vamos para a chácara da nossa família em Ivaí.”
“É uma brasileirinha que está aqui lutando”
Mãe de Maria Katerina, Devanir Bueno, mais conhecida como Diva, nasceu no interior do Rio Grande do Sul, mas viveu grande parte de sua vida no Paraná, tendo passado 15 anos em Curitiba. Em 1999, porém, decidiu mudar-se para os Estados Unidos e lá conheceu um filho de gregos, com quem se casou e teve a sua filha.
“Eu conheci ele [o pai da Maria] aqui nos Estados Unidos mesmo. Ele nasceu aqui e foi criado aqui, mas é como os brasileiros: filho de brasileiro que nasce aqui é considerado brasileiro”, explica Diva, destacando ainda que sua filha tem cidadania brasileira. “Filho de brasileiro nascido no exterior é considerado brasileiro nato, então a Maria tem dois passaportes: brasileiro e americano. E ela ama o Brasil, ama Curitiba. É uma brasileirinha que está aqui lutando.”
Paixão pela matemática e pela engenharia vem do sangue grego
Desde pequena, inclusive, Maria já demonstrava aptidão para as ciências exatas. Para ela e a mãe, é uma herança que vem do sangue grego que também corre nas veias da menina.
“Eu puxei do pai, com certeza, porque ele também é engenheiro elétrico. Eu acho que é uma coisa grega mesmo, os gregos gostam muito de matemática e, na verdade, desde pequena eu sempre gostava de mexer em computador e essas coisas assim. Eu acho que desde uns 4 anos eu já subia em cima da mesa, mexia com o teclado e tudo isso, mesmo que eu não soubesse como usar. Eu sempre tive essa fascinação pela tecnologia”, recorda Maria.
Ainda na infância, frequentou as aulas de Kumon e depois chegou a virar professora no mesmo curso, ainda adolescente. Cresceu já falando três línguas (português, inglês e grego) e depois ainda aprendeu francês e estuda japonês. Até que há quatro anos começou a estudar no Wentworth Institute of Technology.
“Eu comecei em Engenharia da Computação, que é mais como uma mistura de elétrica e ciência da computação, então tem mais programação nisso. Depois eu decidi mudar para engenharia elétrica mesmo, porque daí eu decidi que não queria fazer muita programação e sim fazer mais coisas com circuitos”, diz.
O processo seletivo para conseguir um estágio na Agência
Maria Katerina explica que na instituição onde estuda é preciso, obrigatoriamente, completar dois estágios antes de se formar. Ela, inclusive, está entrando no último ano da graduação e deve se formar no ano que vem, em agosto, quando deve já partir para o mestrado. Recentemente, então, foi atrás de seu último estágio. E se não fosse pela insistência da mãe dela, uma apaixonada por astronomia, a menina jamais teria ao menos tentado um estágio na Nasa.
“A minha mãe adora astronomia, muito mais do que eu. Eu sou mais fascinada pelo lado prático, saber como são fabricados os foguetes… Eu me fascino muito pela engenharia, não tanto para o lado de astronomia como a minha mãe. Mas se não fosse por ela, eu não estaria aqui. Ela que veio falar para mim do estágio, dizer para eu aplicar. Eu acho que nunca ia mandar [não fosse isso], porque eu nunca pensaria que eu teria alguma chance, eu nem pensava que era uma oportunidade, sabe?”
Ainda segundo Maria, o mais comum é ver estudantes de universidades mais famosas, como MIT [Massachusetts Institute of Technology], Harvard e outras, conseguindo um estágio na Nasa. E para poder começar a sonhar com uma colocação, o pretendente ainda deve apresentar um currículo acadêmico invejável.
É que nas faculdades americanas, os estudantes recebem uma nota entre zero e quatro conforme o desempenho que apresentam em todas as matérias que cursam. Para conseguir quatro (nota obtida por Maria), o desempenho tem que ser quase perfeito, com o aluno tirando apenas notas entre 9 e 10, por exemplo. E para poder ao menos sonhar com um estágio na Nasa, a nota mínima exigida dos participantes na graduação é de 3,0.
“Eles [NASA] pedem bastante coisa, comparado a outros estágios, outras empresas. Eu tive que mandar o meu currículo, escrever uma redação sobre porque eu queria essa posição. E quando você aplica pra NASA, você não aplica pra NASA em geral: eles colocam uma lista de projetos disponíveis e você escolhe os projetos que te interessam e aplica. Eu apliquei em seis projetos e fui entrevistada para dois. Consegui ser aprovada num deles”, relata.
Quando recebeu o e-mail sendo chamada para participar de uma entrevista, a jovem conta ainda que já estava tranquila. “Sabia que já tinha passado pela parte mais difícil do processo. Eu já estava muito animada e na própria entrevista eles nem perguntaram nada muito técnico, muito difícil. Foram mais questões de personalidade, comportamento, então acho que eles tomam a maioria das decisões só olhando para os papéis mesmo e a entrevista é mais para ver como a pessoa é”, opina.
A vida de uma estudante em “Rocket City”
Com a aprovação no estágio, desde agosto deste ano Maria Katerina está vivendo em Huntsville, no Alabama, onde fica o Marshall Space Flight Center (MSFC). A cidade, inclusive, é conhecida como “Rocket City”, porque é nessa base onde todos os foguetes da Nasa são fabricados.
“As bases mais conhecidas, os centros mais conhecidos da Nasa, são o Kennedy Space Center [base de lançamento de foguetes] e o Johnson Space Center [base de comunicação com a Estação Espacial Internacional]. Mas é no Marshall mesmo que esses foguetes são fabricados, sendo depois mandados para esses outros centros onde eles fazem todos os lançamentos. Aqui, então, é basicamente onde toda a engenharia acontece”, explica a estudante de engenharia.
O estágio de Maria deve seguir até o final do ano, durando um total de 16 semanas. Para esse período, ela alugou um imóvel perto da base via Airbnb, facilitando os deslocamentos todos os dias até o escritório da Nasa.
“O meu projeto não trabalha especificamente com nada físico, porque nós estamos ainda na parte de simulação, fazendo as coisas no computador mesmo, planejando tudo antes de podermos aplicar a parte física. Mas nosso projeto não trabalha diretamente com foguetes, e sim com drones que vamos colocar no espaço, numa estação espacial. A ideia é que esse drone possa navegar pela estação, saber onde ficam todas as coisas, para conseguir ajudar os astronautas com as coisas do dia a dia”, comenta ainda Maria, celebrando toda a aprendizagem que está tendo.
“Se eu tiver oportunidade no futuro, gostaria de voltar pra Nasa. Eu estou gostando muito do estágio, estou todo dia aprendendo uma coisa nova e estou trabalhando num projeto que nós temos que fazer uma apresentação no final do estágio. Eles não querem que o estagiário venha aqui e fique por três, quatro meses, sem ter feito nada, sabe? Então eles te dão o projeto e você tem que escrever quais são os objetivos que você quer completar, o que quer fazer, e no final do estágio você faz uma apresentação mostrando o que você conseguiu realizar. Estou gostando muito e eu vejo que a Nasa investe muito nos estagiários, eles querem que eles tenham uma boa experiência e que eles voltem no futuro”, destaca.
(Reportagem: Bem Paraná)