Graça Milanez Publisher do OBemdito

“Faço de tudo, só não carrego peso”, diz Zé Preto, 85 anos, que trabalha em depósito de material de construção

Ele faz parte da equipe da Construmil há mais de quarenta anos e não pensa em parar tão cedo; no batente, começou aos oito, ajudando os pais na roça

José Maria ou Zé Preto, como é mais conhecido: vida dedicada ao trabalho - Fotos: Danilo Martins/OBemdito
“Faço de tudo, só não carrego peso”, diz Zé Preto, 85 anos, que trabalha em depósito de material de construção
Graça Milanez - OBemdito
Publicado em 29 de outubro de 2023 às 15h19 - Modificado em 20 de maio de 2025 às 22h23

“Ninguém me conhece pelo meu nome… só como Zé Preto… Até no rádio falam Zé Preto”. Essa foi a resposta que José Maria Pereira da Silva, 85 anos, deu à nossa equipe quando o procurávamos para entrevistá-lo, em seu local de trabalho. Ao chegarmos, perguntamos pelo senhor José Maria e todos que nos receberam estranharam. Até o próprio: “Ninguém me chama assim”, repetiu, dizendo simpatizar com esse apelido que “toda vida teve”.

Receptivo, calmo, Zé Preto se mostra como uma pessoa de boa prosa, um octogenário de bem com a vida, com a saúde em dia e memória afiada. Ele recebeu OBemdito no depósito de materiais de construção da Construmil, local em que atua há mais de 40 anos. “Faço serviços gerais, só não carrego peso”, avisou, ao se apresentar.

Pudera, já fez tanto na vida! E começou cedo: aos 8 anos já ajudava a família nas roças de café, no interior de Minas Gerais [é natural da cidade de Manduri], depois no Paraná – veio com os pais, em 1950, direto para Jataizinho.

Na região de Umuarama chegou em 1958. “No ano que o Brasil foi campeão em riba da Suécia”, atenta. Tinha 20 anos. Logo arrumou emprego em Brasilândia, onde ajudou a construir uma olaria, como servente de pedreiro. Diz que queria aprender a profissão, que continuou nela em Umuarama, quando se mudou para cá em 1960.

Saúde em dia, memória afiada: Zé Preto integra a equipe da Construmil há mais de 40 anos

“Ajudei a construir muitas obras aqui… Muito tijolo passou pela minha mão!”, enfatiza, com os olhos brilhando. Sua divagação pelo passado vai trazendo à tona recordações que o deixam cada vez mais envaidecido da sua trajetória de vida. Contou do tempo que trabalhou numa serraria: “Queria aprender outra profissão; aprendi a fazer de tudo lá, mas quando foi vendida tive que procurar outro emprego”.

E conseguiu: numa empresa de beneficiamento de café – a extinta Cafeeira Paulista; era motorista de caminhão. “Eu buscava o café nas roças e, depois de limpo, entregava”, conta. “O bom ia para Paranaguá [ao Porto, para exportação] e o ruim era vendido por aqui”, revela, rindo. “Vixi!!! Nossa Senhora!!!”, foi a resposta que deu quando perguntamos se carregou muito caminhão nesse período.

E continuou carregando no novo emprego, depois que a Cafeeira fechou. Ele foi o primeiro motorista do Depósito Aratimbó [hoje Construmil]. “Levei material para construção de muito prédio importante de Umuarama; acompanhei o progresso dessa cidade”, orgulha-se, acrescentando que cansou de dirigir. Tanto que, ao se aposentar, em 2003, não quis mais saber de boleia. E nem de carregar peso.

Na Construmil atua no setor de ‘Serviços Gerais’: orgulha por tudo o que fez na vida

Só não desistiu da labuta. “Tem amigo meu que se aposentou, parou de trabalhar e agora está entrevado… Trabalhar é saúde”, exclama, assegurando que nunca faltou no serviço. Quando perguntado se tem casa própria, a resposta sai em tom espirituoso: “Tenho um ranchinho”. Ele mora nas proximidades do Sesc: “A minha foi a segunda casa construída naquela região”. E quando pretende parar de trabalhar? “Só quando Deus quiser!”

Fora do expediente

O currículo de Zé Preto, que é casado com Olinda, com quem teve oito filhos, prova versatilidade também fora do ambiente de trabalho. Desde que fincou o pé em Umuarama é colaborador em inúmeras ações de voluntariado, na política, na igreja, no esporte, entre outras áreas.

“Eu fui cabo eleitoral na primeira eleição de Umuarama e fui o primeiro festeiro da Catedral de Umuarama, que ainda era de madeira”, exemplifica, eufórico. Religioso, do tipo que vai à missa todo domingo, diz que foi festeiro da Igreja Matriz São Francisco de Assis durante 21 anos.

Em pose no caminhão: não dirige mais há vinte anos; cansou da boleia

Porém é o futebol que ganha mais do seu tempo livre: gosta de assistir aos principais jogos nacionais na televisão [do seu time, o Santos F.C., não perde um], mas vai muito além da tela – ele vai para a prática, para o campo, como dirigente ou como árbitro.

É com a mesma faceirice que diz ter sido treinador e presidente do União Bandeirantes, time de futebol amador de Umuarama, de 1981 ao ano em que foi extinto, 2001; e que também é árbitro.

“Vixi! Apitei muito jogo! Até hoje apito, mas não cobro… Ganhando uma cervejinha depois do jogo já tá bom”, brinca Zé Preto, que é famoso nessa modalidade esportiva. “Direto eles falam de mim no rádio”, gaba-se, referindo-se aos locutores de programas de esporte. Provavelmente, só falam bem.

Mãos calejadas, mas não quer largar o batente; para ele, trabalho é saúde

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