Stephanie Gertler Publisher do OBemdito

Inspiração: conheça a história da única motorista de ambulância no Samu de Umuarama

Sabrina conta que sempre sonhou em ingressar nesse campo profissional e quando observava as viaturas passarem, afirmava: "Quero estar lá"

Fotos: Arquivo pessoal
Inspiração: conheça a história da única motorista de ambulância no Samu de Umuarama
Stephanie Gertler - OBemdito
Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 20h33 - Modificado em 20 de maio de 2025 às 17h14

A umuaramense Sabrina Fernanda Martins Faria, de 28 anos, atualmente é a única motorista de ambulância no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no município. Desde outubro de 2023, quando foi convocada por meio do Processo Seletivo Simplificado (PSS), ela desempenha suas funções com dedicação. OBemdito conversou nesta semana com Sabrina para saber mais como funciona sua profissão.

Mãe de duas crianças (Isabella de 11 anos e Henrique de 5 anos), Sabrina já tinha experiência como motorista, transportando estudantes em uma Kombi. No entanto, nutria o desejo de ingressar na área da saúde.

“Sempre tive vontade de trabalhar com isso. Olhava a viatura passando e falava ‘quero estar lá’, independente de como vou estar. Como ainda estou cursando o técnico de enfermagem, ia demorar um pouco mais. Esse ano eu me formo, então decidi fazer minha carteira D para fazer o concurso. Fiz o de transporte de emergência e aguardei. Consegui passar em uma boa colocação e me chamaram”, conta.

Atualmente Sabrina integra a equipe da unidade básica do Samu, composta por um condutor e um técnico de enfermagem. Ela destaca que, mesmo não sendo amplamente conhecido, o motorista desempenha um papel auxiliar nos atendimentos.

Ao abordar os desafios enfrentados, ela salienta que no início todos os profissionais passam por treinamento intensivo, incluindo três dias de integração e alguns dias de estágio operacional, acompanhado por condutores instrutores. Ela enfatiza que a maior dificuldade não reside na condução, mas sim no preconceito que algumas pessoas demonstram.

“Chegamos nos lugares, as pessoas nos olham, principalmente se estou com uma parceira mulher e questionam: ‘mas é só vocês’, ‘quem está dirigindo?’. Respondo que sou eu e a pessoa pergunta: ‘mas vocês vão dar conta?’. Então é esse tipo de coisa que incomoda”.

Sabrina destaca a necessidade de compreensão sobre a capacidade das mulheres em desempenhar diversas profissões. Ela menciona que recebe tanto apoio quanto críticas, mas agradece o suporte incondicional de sua família.

“Minha família sempre soube dessa minha vontade e quando falei que ia participar da entrevista [com OBemdito] minha irmã, Sara, disse que se eu não citasse o nome dela iria falar mal de mim [risos]. Quando fui fazer o curso, não tinha dinheiro, pois não é barato. Então ela me emprestou o cartão para conseguir parcelar o curso. Isso me ajudou a realizar meu sonho. Então todos sabiam dessa minha vontade”.

A profissional revela que agora trabalhando no período noturno, conta com o respaldo da família para cuidar de seus filhos, mesmo com o marido, que é caminhoneiro, passando vários dias fora de casa. Sabrina ressalta a importância de uma rede de apoio sólida.

“As vezes atendemos pessoas em surto, independentemente se a pessoa tem algum problema psicológico ou está fazendo uso de substâncias ilícitas, é obrigatório que a Polícia Militar esteja conosco na ocorrência. Isso passa um pouco mais de segurança, pois essas situações sempre vêm acompanhadas de um pouco mais de perigo”.

Apesar dos obstáculos, Sabrina expressa sua satisfação em ser a única mulher motorista no Samu de Umuarama. Ela reflete sobre a trajetória percorrida e a realização de seu sonho, destacando que, mesmo diante do cansaço, trabalha com entusiasmo, considerando a profissão uma fonte de lazer.

“Eu olho e lembro que há um ano, quando fiz o meu curso e estava me preparando para isso, via as ambulâncias passando e pensava o quanto queria estar ali e hoje estou. Olho para trás e não acredito, é uma sensação muito gostosa, é maravilhoso sentir e viver isso. Não vou mentir, às vezes o cansaço bate, mas vou trabalhar feliz, pois gosto de estar lá. Isso para mim é uma diversão”.

A motorista não descansa em seus sonhos, planejando conciliar as funções de condutora e técnica de enfermagem. Ela almeja trabalhar na enfermagem hospitalar, mantendo sua atuação no Samu como motorista. Sabrina destaca o apoio dos colegas de profissão e brinca sobre a impossibilidade de se desvencilhar do fascínio pela área.

“Particularmente gosto muito de dirigir e se eu conseguir conciliar os dois será perfeito. Porque são emoções completamente diferentes e eu gostaria de vivenciar as duas. Os colegas sempre brincam que quem é picado por essa área, não consegue mais sair [risos].”

Ao ser questionada sobre conselhos para mulheres que aspiram ingressar na profissão, Sabrina encoraja-as a seguir seus sonhos, enfrentando o preconceito com autoconfiança. Ela ressalta a capacidade das mulheres em dominar qualquer desafio e destaca a gratificação de fazer a diferença na vida das pessoas.

“Algumas mulheres já me perguntaram o que precisamos fazer para estar lá. Então eu explico quais são os passos e incentivo elas as começarem. Basta acreditar em si mesma e seguir. Se queremos somos capazes de fazer qualquer coisa. Existe preconceito sim, ainda mais nessa questão da direção, pois existem alguns homens que acham inadmissível as vezes uma mulher dirigir melhor que eles, então tem todo esse machismo, mas nós devemos enfrentar e acreditar em nós mesmas, pois somos capazes de dominarmos o mundo.”

Sabrina também compartilha momentos tocantes em que recebeu agradecimentos sinceros, ressaltando a importância de realizar o trabalho com carinho e dedicação.

“Sinto que faço a diferença principalmente quando atendo os idosos. Eles são muito gratos. Pegam na mão da gente e agradecem, nos abençoam, falam palavras bonitas. Então o que me marca é receber o carinho, o agradecimento, mesmo sabendo que aquele é meu trabalho e estou lá para isso, mas é muito gostoso receber esse retorno, sabendo que estou fazendo o certo e que está agradando”.

Ela finaliza expressando sua vontade de “poder contribuir bastante com todo o andamento e o que for necessário para trazer um acolhimento para a população e entregar o meu melhor”.

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