
O projeto urbano de Umuarama inovador para o século 20 foi inspirado num tabuleiro de xadrez!
A cidade começou com 3 tipos de zonas residenciais, o centro comercial e a área industrial


É mais do que evidente que, em qualquer parte dos hemisférios do planeta Terra, para se fundar uma cidade precisa-se de três elementos primordiais: primeiro, ter uma extensão considerável de espaço; depois, possuir um projeto urbanístico; e, por fim, ter gente para construir e habitar a área disponível para uma futura urbe, seja um vilarejo ou uma metrópole…
Pois a Cia. Melhoramentos possuía os dois primeiros: o território, comprado em 1953 de um grupo de proprietários; e a planta, embora ainda um esboço a ser concluído assim que o negócio fosse fechado. Com a febre que dominava a época – a cafeicultura –, os colonos chegariam automaticamente assim que a colonizadora abrisse a campanha de vendas de lotes, seja urbanos ou rurais.
Nesta edição de OBEMDITO vamos dar algumas pinceladas para pintar um quadro tendo como figura central o projeto urbanístico. A tarefa de conceber esse Plano Diretor, como é nominado um projeto pelos urbanistas, foi entregue a dois engenheiros de confiança da colonizadora: Waldomiro Babkov, um russo experiente em colonizações de terras no Paraná, e Manoel Mendes Mesquita, este um dos sócios que formavam a alta cúpula da Cia. Melhoramentos, que dirigiu a obra. Mas, o mentor foi mesmo Babkov.
Ambos conheciam como as palmas de suas mãos os detalhes das construções de Maringá e Cianorte, pois delas haviam participado de forma indireta. Daqueles traçados se inspirariam para elaborar o de Umuarama, mas não ao pé da letra, pois os territórios eram distintos.

Observando com lupa e atenção os mapas das três cidades, tem-se a nítida impressão que a estrutura polinuclear de Maringá e de Cianorte, com seus centros secundários, com as suas articulações para as vias de desenho menos regular e as distintas zonas urbanas caracterizadas por configurações destacáveis da malha, serviram de base para o mapa de Umuarama.

Porém, a topografia do sítio no qual se instalou Umuarama era consideravelmente irregular, e o desenho urbano geométrico proposto concedeu pouca atenção às pendentes. A configuração do centro desta cidade parece ser mais apropriada a uma situação topográfica mais plana; com os aclives e declives que encontramos, perde-se a continuidade do traçado e, por conseguinte, a legibilidade do espaço urbano.

Conforme o mapa exposto ilustrando esta reportagem, vale observar que no que se refere ao micro parcelamento da área urbana, ou seja, a divisão das quadras em parcelas menores (os lotes), comprova-se a predominância dos formatos regulares e o respeito à ortogonalidade predominante nos traçados da colonizadora.
De uma maneira geral, o arruamento dos assentamentos urbanos estudados busca acompanhar os pontos cardeais, e as ruas riscadas no sentido Norte-Sul contêm o maior número de lotes, longitudinalmente dispostos no sentido Leste e Oeste. Obviamente, essa regra era abandonada quando se tratava de uma avenida, para onde se voltava a maioria dos lotes de cada quadra, a fim de manter-se a hierarquia e a importância já atribuída a essa vida urbana com a largura de 20 metros, 5 metros mais larga do que as ruas.

Por outro lado, quanto à forma, as praças da cidade assumiram, quase sempre, formatos regulares resultantes das formas geométricas mais simplificadas: retângulos, losangos, quadrados, soluções da mesma prancheta que elaborou os tabuleiros de xadrez os quais configuram as vias urbanas ortogonais. A aparição de campos multifacetados e, principalmente, triangulares como áreas públicas livres acontece menos por uma intenção estética e mais por uma adequação à variação do traçado viário, imposta pelas condições topográficas.
Outro detalhe que salta aos olhos é que as ruas não diferem umas das outras na largura, apenas as avenidas diagonais são mais largas e na região central as ruas comuns ganham a denominação de alamedas, com a presença de canteiros centrais. Planejaram ainda, matematicamente, que as quadras (quarteirões) teriam vinte lotes cada uma.

Dedicaram cuidado especial em subdividir Umuarama em três tipos de zonas residenciais (a principal, a popular e uma operária), além de uma zona industrial e outra comercial. No Plano Diretor incluída foi uma área para os armazéns da estrada de ferro (aquela que, como relatamos semanas atrás, até hoje não chegou aqui…). Também constava um bosque, a poucos metros de onde seria construída a ferroviária (hoje Bosque Uirapuru).
Assim como toda cidade tem seu centro, cada uma das zonas ou bairros residenciais têm seu centro secundário, formado por um espaço livre público cercado de edifícios comerciais, uma espécie de “praça fechada”. E assim aconteceu com Umuarama, que tem um desenho baseado na estrutura polinuclear, articulada em uma hierarquia muito clara entre o elemento principal do Plano Diretor e seus centros secundários. (ITALO FÁBIO CASCIOLA, Especial para OBEMDITO)

O engenheiro russo Waldomiro Babkov, um precursor em colonizações de terras no Paraná, com participações históricas em Londrina, Maringá, Cianorte, Umuarama e outras novas cidades criadas em seu tempo