
Empresário de Umuarama planeja construir casa com caixinhas de leite ‘longa vida’
Depois de trituradas, as embalagens Tetra Pak viram placas, usadas para fabricar desde pequenos objetos a palanques e cercas; desejo maior dele é fabricar também móveis e, claro, realizar o sonho de construir a casa


Em sua marcenaria na saída para Serra dos Dourados, onde fabrica móveis planejados, ele deu um jeito de ajustar o espaço para suas “invenções”. É assim que o empresário Edson Barreto de Souza, 59 anos, define os objetos que confecciona usando placas feitas com resíduos de caixinhas de leite longa vida. Dessa matéria-prima tem um rol de produtos razoável: lixeira, floreira, casinha de cachorro, cachepô, contêiner para lixo, entre outros.
O início
Aliás, ele começou com essa linha de produtos, porém, seu “senso de inventor” o levou a ousar e hoje já faz, digamos, coisas mais grandiosas. Depois de alguns testes, da sua marcenaria saem tábuas e palanques para construir mangueira para gado, ponto de ônibus e paredes, tal qual as que usou para fazer um depósito anexo à marcenaria.
O próximo empreendimento é fazer móveis [do mesmo modo que já fez uma bancada para suas ferramentas com armário]. “Acredito que o material é melhor que madeira e MDF, porque pode molhar que não estufa”, explica. E logo quer também construir uma casa [leia abaixo].
A evolução das invenções
Nessa sua jornada que alia inovação, sustentabilidade e propósito social, o objetivo de Barreto é otimizar sua produção, tanto quanto colaborar na redução do impacto ambiental; como resultado desenvolveu métodos próprios e, aliados às tecnologias já existentes, partiu para a ação.

“Eu estou sempre imaginando, inventando, projetando coisas na cabeça… Sou inquieto e também sempre quis criar um negócio que tivesse responsabilidade ambiental. Ver a quantidade de caixinhas descartadas me fez pensar em como reaproveitar esse material”, conta.
“Isso tem futuro”, exclama, batendo com a mão numa placa para enfatizar a resistência do material. “Pode molhar, pode ficar no sol quanto tempo quiser… a resistência e a durabilidade são fantásticas!”, salienta, deixando transparecer o orgulho que sente por estar à frente, em Umuarama, de uma prática tão valorizada quando o assunto é economia circular.

Matéria-prima e produção
E onde encontra caixinha para fazer tanta coisa? Ele compra de cooperativas, assim como da própria Tetra Pak. Há pouco tempo trouxe uma carreta cheia de Ponta Grossa. “Trouxe umas trinta toneladas. Vou ter matéria-prima disponível por um bom tempo”, comemora Barreto, que diz pôr em prática toda sua experiência de vida nessa empreitada.
Nascido em Icaraíma, mas criado em Umuarama, Barreto trabalhou em serraria dos 9 aos 21 anos de idade; depois, foi mecânico por 12 anos na Mercedes. “Comecei lavando peças, mas logo fui promovido”, orgulha-se. Com 32 anos, tornou-se dono do seu próprio negócio. A marcenaria FV Móveis, que gera 22 empregos, abriu há cinco anos. “Tenho muito conhecimento prático na bagagem, inclusive em eletrônica… Procuro usar o máximo nos meus projetos”, arremata.

Ponto de ônibus de caixinhas de leite
Barreto construiu um ponto de ônibus em frente à sua marcenaria para demonstração. As paredes do tanto do fundo, quanto das laterais, os palanques e o banco, tudo montado com placas feitas de caixinhas recicladas. Na cobertura, telhas da mesma matéria-prima, adquiridas de uma empresa parceira da região de Maringá.
E lá em cima, no beiral, mandou escrever em letras garrafais “100% fabricado de resíduos”. A novidade já se espalhou. Várias prefeituras compraram a ideia. Dessa forma, já possuem ponto de ônibus inventado pelo Barreto as cidades de Nova Olímpia, Doutor Camargo, Mauá da Serra, Santa Isabel do Ivaí, entre outras.
“É gratificante saber que podemos aproveitar toneladas de material que seriam simplesmente descartados no lixo e transformar em produtos úteis… E, olha só, até num ponto de ônibus. Isso é cuidar do meio ambiente, não é mesmo?!”

O sonho da casa sustentável
Para Barreto, fabricar móveis sustentáveis é apenas o começo. Seu grande sonho agora é construir uma casa utilizando as placas feitas de caixinhas de leite recicladas. “Já estou com o projeto na cabeça; será uma casa de 60m2”, avisa.
Ele diz que quer testar o potencial do material como uma alternativa no setor de construção civil. “Imagina viver em uma casa que antes eram milhares de caixinhas de leite? Seria um marco não só para o meu negócio, mas para toda a sociedade”.
Atualmente, ele já trabalha em protótipos para desenvolver paredes e divisórias. “Eu acredito que esse meu projeto é bastante promissor, mas vamos ver o que vai se suceder”, comenta Barreto, que acredita que a sustentabilidade não é apenas uma tendência, mas, acima de tudo um compromisso que todos os empresários precisam assumir para garantir um futuro melhor.
Enquanto trabalha para realizar o sonho, ele segue conquistando clientes que, assim como ele, buscam alternativas mais conscientes para suas escolhas de consumo. “Eu acredito que o futuro é dos negócios que conseguirem alinhar crescimento com responsabilidade ambiental. Essa é a nossa missão!”.

De caixinha de leite para placa
O processo começa com as caixinhas sendo trituradas e transformadas em pequenas partículas; estas, por fim, são prensadas em alta temperatura [200ºC], resultando em placas resistentes e versáteis. As tampas, do mesmo modo, são trituradas junto.
O material das caixinhas é uma mistura de papel [75%], plástico [20%] e alumínio [5%]. Enquanto outras empresas usam o plástico e o alumínio para um fim e o papel para outro, Barreto, contudo, usa os três nas suas placas. E, eventualmente, acrescenta para-choque de automóvel junto, para dar mais resistência.




