
No quintal da casa, artesão confecciona brinquedos de madeira há mais de 40 anos
Braulino Guerini é bastante conhecido em Umuarama. Ele vende o que faz nas feiras do produtor de quarta e de domingo


Neste mundão dominado pela tecnologia, que atinge, também em cheio, o cotidiano das nossas crianças, dá para acreditar que brinquedo de madeira tem ainda boa aceitação no mercado brasileiro? A resposta é sim, basta ‘dar um google’ e veremos que há muitas empresas investindo nesse nicho, produzindo e vendendo Brasil afora.
Não podemos subestimá-los, afinal tem quem prefira por serem duráveis, sustentáveis e educativos. Segundo especialistas, esses brinquedos clássicos incentivam a criatividade e a imaginação das crianças, além de valorizar a tradição. E outro detalhe também importante: ao contrário dos de plástico, esses são feitos com material renovável.
Em Umuarama, temos quem nos representa nesse setor. É o artesão Braulino Guerini, 77 anos, morador do Jardim Panorama. Há mais de 40 anos se dedica à arte, em sua marcenaria montada no quintal da casa. Tudo o que faz vende nas feiras de hortifrúti das quartas e domingos.
Mais do que profissão, é paixão, segundo ele, que é surdo de nascimento. Usando sinais [traduzidos pela cunhada, a professora Márcia Bossa], ele conta aO’Bemdito que aprendeu com o pai as primeiras lições de marcenaria. Porém não foi seu primeiro emprego. “Eu trabalhava na prefeitura, mas ganhava muito pouco e isso me levou a pensar em um novo jeito de ganhar a vida… Arrisquei e deu certo”.

Rodeado de retalhos de madeira, pequenas máquinas e muitas ferramentas, Braulino passa aproximadamente oito horas por dia em sua marcenaria. É o local onde ele inventa e confecciona brinquedos que atravessam gerações. “Parado, fico nervoso… trabalhando, fico sossegado”, afirma ele, em sua forma de comunicação, ao explicar por que continua ativo, mesmo após a aposentadoria.
Ao apresentar sua produção, Braulino demonstra uma alegria sugestiva, a de que se comunica com o mundo através de suas criações. A maioria dos brinquedos que faz evoca uma nostalgia dos tempos mais simples. Cavalinhos, caminhõezinhos, carrinhos, móveis em miniatura, bilboquê e tantos outros, moldados com paciência e habilidade, saem de suas mãos como peças que guardam histórias e memórias.

Papai Noel à vista
Em vésperas de Natal, as criações de Braulino tornam-se ainda mais especiais. Seus brinquedos de madeira são uma alternativa cheia de significado para pais que desejam presentear seus filhos com algo autêntico, feito à mão e carregado de história.
“Ao optar por esses itens, as famílias não apenas estimulam a criatividade e a imaginação das crianças, mas também apoiam o trabalho artesanal local”, atenta Braulino, que não desiste do propósito de proporcionar aos pequenos a chance de uma infância menos tecnológica.
Os interessados podem encontrar nas feiras da cidade, onde o marceneiro expõe seu trabalho com orgulho. Para quem deseja um presente único neste Natal, os brinquedos de Braulino são mais do que uma opção: são um símbolo do valor do feito à mão e do carinho dedicado a cada detalhe.

Interação comunitária
Além da dedicação extrema ao seu negócio, Braulino também desempenhou um papel importante na comunidade artesanal da cidade. Nos anos 1980, foi um dos fundadores da Associação dos Artesãos de Umuarama, entidade que ajudou a criar um movimento de valorização e troca de saberes entre artistas locais.
“A Associação tinha uma loja na antiga rodoviária de Umuarama; era um espaço num ponto bem movimentado, então tínhamos boas vendas lá”, relembra o artesão, que, mesmo na ausência de palavras, soube direcionar seu olhar para a convivência coletiva.

Nascido em Rolândia/PR, veio para a região com 15 anos; e tinha 20 quando a família se mudou para Umuarama. “Meu pai ajudou a construir a Igreja Matriz e eu ajudei a construir essa do Panorama”, orgulha-se. Ele é casado com Jovelina, também muda. “A gente se conheceu e em quatro meses casamos”, conta, rindo.
Não estudou. Até teve oportunidade. Quando criança, foi levado para São Paulo, para um colégio interno que ensinava Libras, mas não ficou. “Eu chorava muito! Todo dia eu chorava, daí meus pais me trouxeram de volta para casa”, diz, também achando graça da lembrança.








