
“Cozinhar é mais do que trabalho; é minha história, minha paixão”, diz o chef Matias
A fama de bom churrasqueiro pegou e ele aproveitou: fez do hobby um negócio bem-sucedido


Quem não gosta de um churrasco suculento, do tipo que exala um cheiro booom? Ou uma carne assada no forno, feita no capricho, beeem temperada? E se essa carne assada for de porco, ou melhor, se for uma leitoa inteeeira, com a pele crocante? Há quem resista, mas são poucos, porque, dizem, a maioria de nós brasileiros já nasce inserida na cultura dessa iguaria milenar. Dá até pra arriscar: essa maioria não gosta… Ama carne! Ama churrasco!
É por isso que, digamos, um bom churrasqueiro consegue conquistar uma legião de fãs. Foi o que aconteceu com o umuaramense Geraldo Matias, 55 anos, proprietário do bufê que carrega seu nome, fundado em 2009. Sua trajetória é marcada por conquistas, alicerçadas em experiências culinárias que começaram na infância e que o projetaram como um dos chefes de cozinha mais requisitados da região. “Estava escrito”, atenta, demonstrando acreditar no destino que lhe foi traçado.
Na varanda da casa, numa rara tarde de folga, sem dólmã e shapô, ele recebeu OBemdito para contar o passo a passo dessa história bem-sucedida, que tanto o orgulha. “Comecei, bem dizer, com umas três ou quatro panelas e meia dúzia de espetos… Encarei sozinho esse propósito; hoje temos utensílios e ferramentas para fazer festa com até 1,5 mil convidados”, exclama, guiando a conversa lá para o final dos anos de 1970.
Aos 8 anos, ele diz que sua vida mudou completamente quando sua mãe sofreu um AVC. O menino, que até então apenas observava o preparo das refeições, passa a assumir o fogão para cuidar da família. E foi aí que essa habilidade, desenvolvida na necessidade e na pura inocência, tornou-se importante.
“Numa colher, levava um pouquinho da comida que eu estava fazendo para minha mãe, que estava acamada, experimentar… Aí ela me dizia se estava boa ou não… Quando não estava, ela me orientava para acertar o tempero ou o ponto de cozimento… Eu me lembro muito bem dessa fase, que foi muito difícil, mas foi o que me fez gostar de cozinhar”, relata.

Depois vem a segunda fase, quando se torna caminhoneiro, aos 19 anos, e começa a cozinhar para os colegas de estrada, Brasil afora. “É costume dos caminhoneiros se juntarem num determinado local para fazer o almoço, o jantar… um faz uma coisa, o outro faz outra… Atendendo a pedidos, eu ia para o fogareiro, porque diziam que minha comida era boa! Eu recebia muitos elogios!”
Cansou das longas jornadas de trabalho nas rodovias, dos vários dias distantes da família e largou a boleia. Arrumou um emprego: gerente de transporte de um abatedouro de aves [Averama] e, anos depois, consultor técnico de mecânica de caminhão da concessionária Avecan.
Em ambos os empregos, Matias também era o escolhido para, desta vez, encarar a churrasqueira nas confraternizações frequentes que faziam. “Era sempre eu o responsável pelos comes… E vinha elogio atrás de elogio… Os colegas diziam: ‘Que dom que você tem!’ Eu agradecia e caprichava mais e mais, afinal, era uma tarefa que fazia com paixão”, diz, em tom complacente.

Hora da guinada
E assim, de festa em festa na firma, Matias foi até tomar uma decisão que, à época, considerou drástica, arriscada, a que colocou à prova os ideais do trabalhador celetista. “Chegou uma hora em que eu me perguntei: por que não deixo o emprego e faço só o que eu gosto? Por que não aproveito essa vocação e monto meu próprio negócio? Sonhava com isso e sentia que ia dar certo”.
E deu certo: logo começou a fazer churrasco em festas de família e corporativas, agora como um profissional contratado. “Pequenas festas”, observa Matias. Mas a propaganda boca-a-boca foi se intensificando, seu nome se destacando e o empreendimento ganhando força.
“Logo de início já estava conseguindo um salário maior que o do emprego fixo”, exalta, denotando o orgulho de sua autoconfiança. Nesse meio-tempo, procurou se capacitar: fez cursos de culinária geral, brasileira e oriental [e no ano que vem pretende se aprimorar na gastronomia italiana e árabe].
Teve que redobrar a coragem para dar outro passo desafiador: aceitar a proposta de um grande evento, uma festa para 700 pessoas [até então, seu bufê tinha estrutura para no máximo 200]. “Aceitamos, mas fiquei receoso, tenso… Eu pensava: ‘A chapa vai esquentar pro meu lado!’. Que sufoco que foi, mas encaramos e deu tudo certo!”. Como o contrato foi assinado nove meses antes [ele lembra certinho o prazo], deu tempo para ir comprando taças, copos, toalhas de mesa, entre outras coisas, para robustecer o bufê.
Sufoco trouxe, também, a pandemia do coronavírus, responsável pela falência de muitas empresas desse nicho: “Nós passamos os mesmos apuros que todo mundo… Tivemos que nos reinventar: passamos a servir marmita. Fizemos muita marmita até que o setor de festas pudesse se reerguer”.

Hora de colher os louros
Negócio consolidado. Este é o status do Buffet Matias hoje, segundo o empresário. “Comemorar é preciso, mas não podemos descuidar… Temos que manter a boa gestão da empresa e seguir em frente na honestidade e na simplicidade”, reforça.
Para chegar a esta solidez, Matias enaltece que o apoio da família foi fundamental. Trabalham lado a lado com ele a esposa Márcia e um dos filhos, Tiago Henrique [o outro filho, Guilherme, é formado em Educação Física]. Márcia e Tiago administram o bufê. “Isso permite que eu me concentre ‘no meu melhor’: pilotar o fogão e criar pratos para deixar os convidados satisfeitos”, justifica.
Um dos mais bem estruturados da região, o Buffet Matias assegura um cardápio com cerca de 200 opções. Reconhecido pela excelência em carnes assadas, a leitoa é a sensação: tem à moda campeira [recheada com farofa], e à paraguaia [aberta, servida com purê de mandioca por cima]. Outra ‘perfeição’ é o pintado na telha. “O povo ama”, ressalta Matias.

O atendimento extrapola as fronteiras da região e até do Estado. “Vamos muito para o sudoeste e oeste do Paraná e também para cidades do Mato Grosso do Sul e São Paulo”, informa Matias. “Mas convites vêm de toda parte: do Mato Grosso, do Rio Grande do Sul, da Argentina, do Paraguai… já tivemos até do México! Fico honrado, mas não podemos, nem queremos ir para tão longe, até porque nossa agenda está sempre muito cheia!”, relata Matias, mostrando suas marcas de queimadura e as cicatrizes de cortes de faca que carrega nos braços e nas mãos, sem lamúria. “Não me queixo disso, porque é consequência do que faço e faço o que amo!”.
E por que as pessoas tanto gostam da comida do Matias? Ele responde, com ênfase: “Porque é feita com temperos naturais e frescos – não uso temperos industrializados; porque só uso ingredientes de boa qualidade e faço tudo no local da festa, ou seja, não levamos comida pronta, congelada, para o evento… O segredo está, também, no carinho que dedico a cada prato… Isso tudo vale muito no nosso currículo!”.
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