
‘Nós vai descê pra BC’: o mico de ir para a praia e não poder entrar na água
Alargamento milionário, chuvas, problemas no tratamento de esgoto, despejo de municípios vizinhos? O que está acontecendo neste verão com a 'Dubai Brasileira'


A Praia Central de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, alargada há três anos, registrou uma leve melhora na qualidade da água entre o ano passado e este, conforme dados do governo estadual. Mas não se anime, pelo menos por ora. Dos 10 pontos monitorados, sete passaram de qualidade péssima para ruim, enquanto os outros três permanecem com avaliação péssima.
Antes do alargamento, em 2020, o cenário era bem diferente: sete dos dez pontos possuíam água de qualidade boa, e os outros três eram classificados como ruins. Para os turistas que lotam a ‘Dubai Brasileira’ neste verão, a situação não deixa de ser constrangedora.
“Tá tudo muito lindo. Alugamos um apartamento de frente para o mar para toda a família, só que não chegamos a entrar na água aqui (na Praia Central). Fomos aconselhados a nem colocar os pés, para evitar alguma contaminação. Nos sentimos frustrados”, disse uma empresária que Umuarama que decidiu abreviar o descanso em Balneário. “Planejamos 15 dias, mas ficamos somente 8”.
Segundo ela, há praias vizinhas em ótimas condições de uso, mas para chegar até elas é complicado por conta das rodovias sempre lotadas. “Todo mundo sempre tem a mesma ideia, nos mesmos horários. O resultado é um engarrafamento louco, que tira a paciência da gente”.

Como é a classificação
De acordo com os critérios utilizados pelo governo estadual, para ser classificada como boa a água precisa estar própria em 100% das medições realizadas. Ganha o status de regular quando a reprovação só acontece em até 25% das amostras. Se estiver imprópria entre 25% e 50% é anunciada como ruim. E acima disso, péssima.
Especialistas dizem que ainda é cedo para afirmar se a mudança influenciou negativamente na balneabilidade. Mas eles apontam que o processo sacrifica micro-organismos que auxiliam no processo natural de limpeza da água.
Ano de muitas chuvas
A prefeitura da cidade argumenta que o ano de 2023 foi atípico, sobretudo pelo volume de chuvas que impactaram na balneabilidade das praias. Mas assegura que o verão de 2024 terá praias melhores do que os veranistas encontraram na temporada passada.
A administração do município reconhece que teve problemas técnicos na lagoa de aeração, estrutura de 20 mil metros quadrados que serve de estação de tratamento. Um defeito na manta que ficava no fundo dessa lagoa baixou a eficiência do tratamento de 95% para menos de 50% de eficácia.
Com o alartamento, a Praia Central de Balneário Camboriú, cuja orla tem 5,8 km, passou por uma megaobra em 2021 para alargar a faixa de areia, que com aterros cresceu de 25m para 70m, em um investimento de R$ 66,8 milhões.
Conforme a prefeitura, o problema foi resolvido e o tratamento já está com eficácia de 60%, devendo chegar aos mais de 80% estabelecidos em lei como ideais nos próximos meses.
Despejo de esgoto de outros municípios
O terceiro problema, este sem previsão de solução, é a vizinhança com municípios que não tratam suas redes de esgoto e despejam dejetos no rio Camboriú. É o caso do município vizinho, chamado Camboriú, onde residem 85.105 pessoas e não há coleta de esgoto.
Dos 295 municípios catarinenses, 212 não têm coleta de esgoto. Portanto, a poluição que aparece nas praias não necessariamente é um problema de saneamento básico exclusivo dos municípios litorâneos.
Água com coloração escura e mau odor
Outro fator que tem chamado a atenção de banhistas e moradores é a tonalidade escura da água na Praia Central. Especialistas, conforme apuração do jornal Zero Hora, explicam que o fenômeno está relacionado à presença de briozoários e microalgas.
Briozoários são pequenos animais microscópicos que vivem em colônias no oceano. As microalgas servem como alimento para os briozoários, alimentando sua concentração na região.
Quando em grande quantidade, os briozoários podem chegar à areia, onde não conseguem sobreviver. Sua morte em massa pode causar, além de alterações na água, um odor forte, segundo a prefeitura municipal.
Esses fenômenos reforçam a necessidade de monitoramento contínuo da qualidade das águas e de ações para mitigar os impactos ambientais no litoral catarinense.

Hit do momento
Definitivamente, Balneário Camboriú se transformou na atração do momento. A expansão vertical da cidade, com arranha-céus de até 60 andares, adquiridos pela classe mais rica do Brasil, fez com que ganhasse repercussão internacional, atraindo investidores de vários países.
Se não bastasse isso, Balneário ganhou um hit para chamar de seu. A música ‘Descer pra BC’, de Brenno e Matheus, virou uma febre e toca muito também fora do Brasil. Já são milhares e milhares de visualizações na internet e a aposta é que mantenha a escala de força pelo menos até o Carnaval, em 4 de março próximo.
Navio estava despejando dejetos?
Balneário Camboriú está na moda. Tudo o que vem de BC impacta. É como tudo o que é grande mexe com forças e fraquezas mentais, também enfrenta o lado ruim da fama.
Um vídeo que circula nas redes sociais e mostra o navio Costa Favolosa ancorado em Balneário Camboriú gerou polêmica e levantou questionamentos sobre atividades realizadas pela embarcação. Rapidamente as imagens foram associadas ao despejo de esgoto e dejetos humanos do navio direto para a costa do mar.
A empresa Costa Cruzeiros confirmou que as imagens são de Balneário, mas negou que se trata da limpeza de banheiros e do alívio da carga de esgotos. O que ocorreu, de acordo com a gigante marítima, foi uma prática chamada “desobstrução da âncora”, que utiliza água do mar para limpar lama acumulada, uma atividade autorizada e regular.
(Fontes: Agência Folha, GZH, Prefeitura de BC e Boatos.org)
