
Detentos da Penitenciária de Guaíra pedem ajuda em carta e denunciam más condições da unidade
Carta direcionada ao Judiciário relata bichos na água, comida azeda e falta de atendimento médico aos internos


Familiares de detentos da Penitenciária Estadual de Guaíra (PEG) registraram em cartório um pedido de socorro por parte dos internos, que também denunciaram uma série de irregularidades na unidade. Os presos pedem ajuda para resolver vários problemas. Entre eles, estão a má qualidade da comida, a sujeira na água disponível para consumo e dificuldades no atendimento médico, jurídico e da assistência social.
No documento, direcionado à juíza da Vara Criminal de Guaíra, Maria Luíza Mourthé de Alvim Andrade, um dos internos alega que a comida entregue aos detentos é azeda e que alguns ingredientes chegam crus. “Quando a comida vem azeda, pedimos atenção dos agentes, mas eles dizem que não podem fazer nada’’, relata. Segundo o interno, a situação se repete com frequência. Além disso, não há oferta regular de frutas, e os familiares não podem levar esses itens aos internos nos dias de visita.
Presos relatam água com animais
Na carta, o interno também relata que a caixa d’água que abastece as celas está sem manutenção há pelo menos oito meses.
Segundo ele, a sujeira do reservatório chega às torneiras. “Vêm insetos, penas de passarinhos e até pedras para a gente tomar. Isso resulta em mal-estar, vômitos, diarreia e vários problemas de saúde’’, afirma o detento.
Outros problemas para os internos
Os presos pedem ajuda também sobre o tratamento dado aos familiares dos detentos, que muitas vezes perdem a carteira de autorização para visita por 30 dias. Além disso, segundo os internos, os visitantes sofrem abuso psicológico e humilhação.
Outra queixa dos detentos é em relação ao serviço de saúde prestado. Na carta, eles alegam que adoecem por conta da alimentação e das condições da água, mas não recebem o atendimento necessário. Segundo eles, falta consideração por parte da direção da PEG.
O documento também aponta dificuldades relacionadas ao kit de higiene oferecido, que contém apenas cinco rolos de papel higiênico e cinco tubos de pasta de dente para 10 pessoas. Além disso, os internos mencionam a falta de um projeto maior para a remissão de pena. Atualmente, segundo a carta, só há um projeto de crochê para 250 internos, e a biblioteca não está em funcionamento.
Por fim, os internos pedem que as autoridades olhem com atenção para o pedido de socorro que estão fazendo.
Segundo a esposa de um interno, a carta foi entregue ao Ministério Público e à Câmara de Vereadores de Guaíra.
A PEG tem capacidade oficial para 770 presos, segundo o Conselho Nacional de Justiça.
Presos de Cascavel também escreveram carta
Os detentos da Penitenciária Estadual Thiago Borges de Carvalho (PETBC), em Cascavel, também relataram, por meio de uma carta, problemas com o atendimento na unidade.
Entre as reclamações, estão o comportamento abusivo de agentes, que forçam a passagem pelo raio-x várias vezes, a falta de bancos para os familiares na área de visitação e o longo período que os visitantes passam sem se alimentar até encontrarem os detentos.
O que diz a Polícia Penal e o Ministério Público sobre os detentos?
OBemdito entrou em contato com a Polícia Penal e com o Ministério Público, mas até o fechamento desta matéria as respostas não foram enviadas.
Atualização
O MPPR encaminhou uma nota acerca dos questionamentos feitos por OBemdito no início da noite desta terça-feira. Conforme a assessoria do órgão, a Promotoria de Justiça da Comarca encaminhou um ofício para a direção da Penitenciária solicitando esclarecimentos.
Além disso, foi informado que a Promotoria já recebeu correspondências de detentos em ocasiões anteriores e instaurou um procedimento administrativo. Por fim, a Promotoria explicou que foram realizadas inspeções na unidade prisional e não houve constatação dos problemas relatados na carta.
Confora abaixo a nota na íntegra:
“A carta foi encaminhada à Juíza da Comarca de Guaíra e registrada no Projudi (autos nº 0000319-09.2025.8.16.0086), como “pedido de providências”, com autos entregues ao Ministério Público para manifestação em 3 de fevereiro de 2025.
Nesta terça-feira, 4 de fevereiro, a Promotoria de Justiça da comarca expediu ofício à Direção da Penitenciária Estadual de Guaíra para esclarecer os pontos levantados na carta registrada.
A Promotoria de Justiça já havia recebido outras cartas, o que gerou o Procedimento Administrativo nº 0057.24.000162-8 para verificação, extrajudicialmente, das condições da Penitenciária. Nesse procedimento, foi enviado ofício ao Conselho da Comunidade para realização de inspeção nos alimentos fornecidos.
Nas visitas técnicas e nas inspeções realizadas pela Promotoria de Justiça de Guaíra, não foram constatados organismos desconhecidos ou nocivos à saúde dos detentos. Nessas visitas presenciais à Penitenciária, alguns detentos foram entrevistados pelo Ministério Público, e não houve reclamação das condições gerais da penitenciária.
A visita do mês de fevereiro será realizada nesta semana, a fim de ter conhecimento de novas informações e verificar as condições reivindicadas”.