
Duas marcas de biscoito maisena lideram entre alimentos com altos níveis de agrotóxicos, diz Idec
Em pesquisa do Idec, também foram encontrados níveis preocupantes de herbicidas em marcas de hambúrgueres, macarrão instantâneo, empanados e bolo pronto. Veja quais são.


Um estudo impactante publicado pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) revelou que metade dos produtos ultraprocessados analisados continha resíduos que os classifica como alimentos com agrotóxicos. Entre os 24 itens investigados, destacam-se duas marcas de biscoito maisena, Marilan e Triunfo, como os resultados mais preocupantes.
Cada uma das amostras de biscoitos apresentou até quatro tipos diferentes de defensivos agrícolas, considerados altamente nocivos à saúde. O estudo também encontrou resíduos de três tipos de agrotóxicos nos seguintes produtos:
- Hambúrguer à base de plantas Sadia
- Empanado à base de plantas sabor frango Seara
- Macarrão instantâneo Nissin
- Macarrão instantâneo Renata
- Bolo pronto sabor chocolate Ana Maria
O empanado da Sadia mostrou resquícios de dois agrotóxicos, enquanto evidências de um defensivo foram encontradas em produtos como:
- Hambúrguer à base de plantas Fazenda Futuro
- Empanado à base de plantas sabor frango Fazenda Futuro
- Presunto cozido Aurora
- Bolo pronto sabor chocolate Panco
- Bebida láctea sabor chocolate Pirakids
Constatação de alimentos com agrotóxicos
Os dados sobre agrotóxicos em alimentos ultraprocessados compõem o terceiro volume do estudo “Tem Veneno Nesse Pacote”, que prioriza itens populares entre crianças e amplamente consumidos no cotidiano brasileiro.
Disponível no site do Idec, o estudo sobre alimentos com agrotóxicos destaca a inclusão de produtos à base de plantas nas análises devido à crescente adoção na indústria como alternativa ao consumo de carne.
A coordenadora Laís Amaral alerta sobre o “duplo perigo” dos alimentos ultraprocessados: aditivos alimentares prejudiciais à saúde e a presença consistente de resíduos de agrotóxicos.
“Precisamos alertar para o perigo duplo do consumo de ultraprocessados. Eles são produtos com excesso de nutrientes críticos, relacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, doenças do coração e hipertensão, além da presença de aditivos alimentares”, disse Amaral.
E acrescentou: “Também temos consistentemente encontrado traços de contaminação de alimentos com agrotóxico nesses produtos, ou seja, são venenos tão potentes que continuam ali mesmo depois dos processos de produção nas indústrias”.

Glifosato é encontrado em ultraprocessados
Entre as amostras analisadas, o glifosato foi identificado em sete das 24. Este herbicida é tido pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC) como “provavelmente cancerígeno”.
Apenas as amostras de petit-suisse de morango não apresentaram resíduos. A farinha de trigo, frequentemente contaminada, continua sendo um foco de preocupação.
O Idec enviou notificações para todas as empresas responsáveis pelos produtos analisados em que foram encontrados agrotóxicos. Os dados também foram enviados à Anvisa.
“Tem Veneno Nesse Pacote”
O terceiro volume do estudo “Tem Veneno Nesse Pacote” foi publicado originalmente pelo Idec no final de 2024. A coordenadora do programa de Consumo Sustentável do órgão de defesa do consumidor, Julia Catão Dias, disse a OBemdito que houve respostas das marcas assim que os dados de alimentos com agrotóxicos foram divulgados.
“As marcas nos responderam, porém, negando a existência de resíduos de agrotóxicos em seus produtos, assim se eximindo de responsabilidade com seus consumidores, visto que a existência dos resíduos foi comprovada pela pesquisa”, afirmou. Julia Catão Dias reiterou que as informações foram encaminhadas à Anvisa e que agora cabe ao órgão investigar.
Ainda não há uma data para uma nova edição do estudo.
Resposta da Biscoito Triunfo
Em resposta, a Bagley, fabricante do Biscoito Triunfo, afirmou que seus processos seguem com rigor as normativas sanitárias e que as matérias-primas não excedem limites regulamentares de contaminantes.
“Cabe ressaltar que o sistema de gestão de fornecedores e de qualidade adotado garante a segurança de todo o processo e que nem as matérias-primas usadas nem os produtos elaborados, contenham quantidades de contaminantes que possam não cumprir normativas sanitárias ou gerar quaisquer riscos à saúde dos consumidores”.
Concluiu dizendo que “as matérias-primas utilizadas no biscoito são seguras e sem risco de substâncias acima do limite permitido, com laudos de laboratórios certificados”.
OBemdito entrou em contato com o Grupo Marilan, pelo telefone da assessoria de imprensa que consta no site da empresa, mas a ligação caiu em caixa postal. Foi deixada uma mensagem com pedido de retorno. Assim que houver a resposta, a matéria será atualizada. O espaço também está aberto para as outras marcas citadas na pesquisa do Idec.
Flexibilização no uso de agrotóxicos
Leonardo Pillon, advogado do Idec, protesta contra a flexibilização do uso de agrotóxicos em alimentos, alertando para os riscos especialmente em populações vulneráveis.
Pillon criticou a recente derrubada de vetos legais que concentra poder regulatório no Mapa (Ministério da Pecuária e Abastecimento), potencialmente favorecendo o lobby ruralista e enfraquecendo controles sobre esses produtos perigosos.
O advogado do Idec reforça que quem pagará o preço é a própria população, em especial pessoas negras, periféricas, mulheres, crianças e povos originários e tradicionais, seja por serem mais atingidos em eventos climáticos extremos, ou por serem cada vez mais expostos a uma carga maior de agrotóxicos.