
“Me despeço com sentimento de dever cumprido”, diz coronel Santos, que irá para reserva da PM
Após 35 anos de serviço, oficial se aposenta e 25º BPM terá novo comandante

O tenente-coronel Carmelito dos Santos, de 54 anos, deixará o comando do 25º Batalhão de Polícia Militar (25º BPM) na próxima sexta-feira (24), após 35 anos de serviço na corporação. Quem assume é o tenente-coronel Anderson Puglia.
Santos recebeu a reportagem de OBemdito na última semana de trabalho e disse que se despede do trabalho com sentimento de dever cumprido.
Filho de pai lavrador e mãe do lar, Santos trabalhou como boia-fria e atendente de posto de combustíveis antes de ingressar na Polícia Militar (PM). Com trabalho em dois e até três turnos, além de bicos aos fins de semana como garçom, o objetivo era pagar a faculdade, já que a educação era algo muito valorizado em sua família.
O bisavô do policial faleceu como pedinte nas ruas após a abolição da escravidão. O 13 de maio de 1888 no Brasil levou trabalhadores negros que eram escravizados para uma nova forma de exclusão. O pai, por sua vez, foi lavrador e dia e noite trabalhou para comprar um pedaço de terra onde hoje vivem os descendentes e insistiu para que os filhos priorizassem os estudos.

Em um dos trabalhos, em um posto de combustíveis, Santos recebeu apoio do patrão, cujo irmão era policial militar.
Assim, ele prestou o concurso e foi aprovado.
Ele iniciou a vida na área da segurança pública patrulhando as ruas de Umuarama. Santos, depois, foi fazer o curso para se tornar cabo e surpreendentemente desistiu.
O tenente responsável pelo curso questionou o porquê da desistência. A resposta não o deixou menos surpreso: Carmelito dos Santos queria ser oficial. Para isso, seria necessário ingressar no Curso de Formação de Oficiais, o CFO, um dos processos seletivos mais difíceis do Estado.
“Isso não é para qualquer um”. Esta foi a frase dita pelo tenente, que recebeu uma resposta ‘atravessada’. “Não é para qualquer um. É para quem quer”, disse Santos.
De ‘qualquer um’ a aluno do CFO e depois de volta às ruas, onde trabalhou em diversos batalhões do Paraná e se formou em Direito antes de assumir o 25º BPM, sediado em Umuarama.
À frente do 25º BPM, aliás, foi agraciado pela medalha coronel Sarmento, a maior honraria da PMPR, em virtude dos 35 anos de serviço. O decreto que formalizou a homenagem foi assinado pelo comandante-geral coronel Hudson Leôncio Teixeira e pelo governador Ratinho Jr.

SEM FARDA
À parte da corporação, coronel Santos é pai, marido, membro ativo do clube de serviços Rotary, em Cruzeiro do Oeste – onde mora – e à exemplo do pai também é lavrador. Na propriedade onde foi criado há horta e pomar, cujo cultivo é ao mesmo tempo terapia e momento de voltar às origens.
Apesar das atividades civis, ficar sem a farda que ostentou por 35 anos, não será tarefa fácil. “Eu estou me aposentando agora porque já completei meus 35 anos, mas se eu pudesse ficaria mais 20, 30. Vou para a reserva mais ficarei à disposição da Polícia Militar”, disse a OBemdito.
Os planos pós-aposentadoria ainda não estão definidos. Mais tempo com a família, mais tempo nas atividades comunitárias e o sentimento de gratidão (veja o vídeo acima).
Carmelito dos Santos, tenente-coronel do quadro de oficiais da Polícia Militar do Paraná, prestará a última continência como policial da ativa às 16h do dia 24 de setembro, no centro Cultural Vera Schubert.
