
Falhas nos Correios causam prejuízos a empreendedores e atrasos em entregas em Umuarama
Comerciantes enfrentam incerteza e falta de resposta da estatal; sindicato denuncia sucateamento e alerta para risco de privatização


O serviço dos Correios em Umuarama enfrenta um colapso silencioso. No fim de maio, a reportagem do site OBemdito flagrou a presença de carteiros de outras cidades, como Londrina, atuando na entrega de encomendas no município.
A medida seria uma tentativa emergencial de dar vazão ao alto volume de pacotes acumulados no Centro de Distribuição Domiciliada (CDD), localizado na Avenida Padre José Germano Neto.
A empresária Ana Carolina Braga de Mello Bruder Soares, de 36 anos, é uma das afetadas. Ela trabalha com confecção de bonecos personalizados feitos de biscuit e resina 3 D e sua empresa, a Ohana Toy Art, depende quase exclusivamente dos Correios para receber matéria-prima e despachar produtos.
“Tem encomenda que enviei no início de abril e só foi atualizar no rastreamento no final de maio. E tem cliente achando que a gente está mentindo, porque o prazo estoura e não temos nenhuma informação oficial”, relata.
Segundo Ana Carolina, além dos atrasos prolongados, há registros de encomendas marcadas como entregues que não chegaram ao destino.
“Isso gera frustração, perda de credibilidade e até prejuízo financeiro. E o pior: não temos qualquer tipo de resposta oficial dos Correios”, afirma.
A falta de comunicação tem sido uma das maiores queixas. A empresária soube de uma possível greve interna apenas por meio de vídeos nas redes sociais, que mostravam caminhões parados em postos de combustíveis na região. “Nem nota oficial teve. Ficamos reféns de rumores”, lamenta.
Apesar de receios sobre um possível colapso no atendimento a beneficiários do INSS vítimas de fraudes, a reportagem conseguiu verificar que esses serviços serão realizados por uma franquia da marca que fica na Rua Aricanduva, sem impacto no CDD. E, que nem mesmo os aposentados, devem ter problemas com atendimento.
Sucateamento
Para a Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect), o problema vai além de falhas pontuais.
Em nota, a entidade aponta um processo contínuo de sucateamento da estatal. “Unidades estão sendo desmanteladas, equipamentos deteriorados, trabalhadores sobrecarregados. Há uma precarização evidente”, afirma o sindicato.
A entidade também denuncia transferências arbitrárias de funcionários, abandono de recursos básicos como viaturas e bicicletas, além de assédio moral. Para a Findect, o objetivo por trás do caos é enfraquecer a estatal para favorecer a privatização.
“Enquanto os Correios perdem força, empresas privadas avançam. Parece haver uma escolha deliberada por esse caminho.”
Enquanto isso, empreendedores como Ana Carolina seguem sem respostas e com sua produção comprometida. “É muito difícil manter um negócio funcionando sem previsibilidade. A situação é insustentável.”
Questionado, os Correios enviaram a seguinte nota:
Os Correios estão realizando ajustes para a melhoria da malha operacional. Com foco na continuidade e qualidade dos serviços, a estatal está adotando uma série de ações corretivas e contingenciais para garantir a regularização dos prazos e minimizar impactos nas entregas. Além disso, a empresa está ampliando sua capacidade de distribuição, com operações extras aos fins de semana, e monitoramento diário e dedicado da evolução das entregas.
A prestação dos serviços de transporte ocorre dentro da normalidade, observando os percentuais de linhas necessários para atender as rotas nacionais, regionais e urbanas. A empresa está em contato com os parceiros logísticos e trabalha para resolver pontualmente eventuais pendências, assegurando a continuidade das operações.