
Criativo e ousado: Estudante que só usa roupas de brechó milita por moda consciente
Ele desafia padrões desfilando por aí com seus looks que causam estranhamento e graça; intuito é conscientizar sobre sustentabilidade


Andar na moda pode custar caro, mas essa não é a realidade de Ruan Alves, 18 anos, que usa apenas roupas de brechó ou doadas. Faz questão de se manter no estilo que gosta, mas com consciência e muita expressão.
E que expressão! O estudante, que mora no bairro Sonho Meu e estuda no Colégio Estadual Bento Mossurunga, diz que é adepto de looks estranhos e engraçados. Exemplo: óculos de proteção individual que achou na rua vira um acessório. E usa no dia a dia, sem medo de ser feliz!
Outro exemplo: pega uma bermuda de brim [já bem surrada], que pagou R$ 10, e transforma num cropped, joga por cima de uma camiseta, coloca um cinto de forma transversal no ombro e se exibe. “Eu mesmo invento, eu mesmo customizo”, conta.
“Vou ao brechó, garimpo roupas e sempre saio com peças interessantes! Comigo, elas ganham nova vida… E nada de looks discretos: eu gosto mesmo é de ousar, mas com o objetivo de mostrar que moda pode — e deve — ser sustentável”, enfatiza Ruan, que escolheu posar para as fotos para OBemdito no Bosque Uirapuru.

Roupas de brechó e estilo infame
Ruan diz que se encaixa no ‘estilo infame’, uma tendência no mundo da vestimenta que prioriza o visual chamativo em detrimento da elegância ou do bom senso. “Quem adota desafia os padrões impostos pelo mercado da moda”, explica o estudante
Para ele, o importante é respeitar a lógica do reuso, da troca, da reinvenção. “O movimento, que cresce em todo o mundo, vai na contramão do fast fashion e da cultura do descarte, propondo um consumo consciente e ético”, atenta.
“A roupa mais sustentável é aquela que já existe. A moda cíclica nos ensina a dar valor ao que temos, bem como, a reaproveitar com criatividade; é um ato político também”, afirma. E frisa: “Moda não é sobre dinheiro, é sobre expressão, por isso amo brechó”.

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Quem inspira Ruan
O trabalho e as teorias da estilista e especialista em upcycling, Elisa Chanan, fascinam o estudante. Ele a segue no Instagram, onde troca ideias com a brasileira, que vive em Milão.
E é fã da marca mineira Altamira. “Eu me interesso em acompanhar tudo o que rola em torno do upcyling”, avisa.
“O upcycling envolve a aplicação da criatividade para transformar material descartado em um produto novo. Ou seja, tem por missão não descartar, mas reaproveitar as roupas, prolongar sua vida, por isso os brechós são importantes”, esclarece.

Poesia e dança
Além do gosto pela moda, Ruan tem outras paixões que também revelam seu lado sensível: escreve poesia — versos que nascem da rua, do cotidiano, da inquietação — e dança como quem traduz sentimentos com o corpo.
Quem foi assistir ao Garota Bento, no Centro Cultural Vera Schubert, pôde comprovar a beleza de sua flexibilidade, equilíbrio e ritmo, transmitida por passos de kpop, hip hop, jazz e flamenco, numa coreografia autoral.

Arrasou na performance, assim como no look, composto por roupas de brechó. “Dançar me liberta. É como se eu pudesse mostrar tudo o que sinto sem dizer uma palavra. Quando danço, eu sou inteiro”, diz ele, com brilho nos olhos.
“Posso dizer que sou arte em movimento, todos os dias, por onde passo”, orgulha-se Ruan, que se define um artista “refestelar e biofílico” e assina seu Instagram com o pseudônimo Fahtus Kadara.




