
A porta de entrada para quem chegou no século passado para viver em Umuarama…
A primeira estação rodoviária marcou a chegada de multidões de pioneiros vindos do Brasil inteiro


Quando foi dado o início à execução do projeto urbano para a construção da futura cidade de Umuarama, as equipes de engenheiros e trabalhadores da colonizadora Cia Melhoramentos começaram a chegar pela tosca pista de terra do primeiro aeroporto, pois ainda não existiam estradas, apenas trilhas estreitas e que não comportavam o porte de veículos de transportes…
A primeira estrada foi aberta com tratores por entre as florestas a partir de Maringá. Porém, só virou realidade nas proximidades de 1955, quando Umuarama estava inicialmente aberta no meio da floresta para a “inauguração”…
Apenas alguns espaços estavam “urbanizados” para iniciar as primeiras construções de casas comerciais e residenciais – e se resumiam à Colônia Mineira (onde moravam as equipes da Cia Melhoramentos) e em seguida onde teria início o conglomerado de pequenas empresas pioneiras.
E esse segundo espaço foi uma área onde começou a ser construída de madeira a primeira estação rodoviária para viabilizar a chegada dos antigos ônibus trazendo os futuros moradores da nova cidade e de sua área rural.
Porta de entrada de muitos trabalhadores
É dele que vamos tratar nesta crônica nostálgica, pois ela personificou a porta de entrada das legiões de trabalhadores que vinham de todos os cantos do Brasil para iniciar uma nova vida aqui distante e melancólico interior paranaense da época!
Melancólico porque era uma gigantesco vazio resultante de uma gigantesca devastação de milhares de quilômetros quadrados de florestas para dar início à futura colonização com vistas a uma riqueza que se sonhava por ricos fazendeiros e pobres agricultores que trabalhar na cultura do ouro verde: a cafeicultura!
Não existia meio termo: ou tinha dinheiro para comprar terras e abrir fazendas ou trabalhar como empregado para ganhar o pão nosso de cada dia… O trabalho era pesado com enxadas e enxadões para o plantio do café e enfrentado os piores momentos climáticos – dias com chuvas, frio congelante ou sol escaldante! As rotinas começavam assim que o dia clareava e seguiam até o início da noite, intercaladas com almoço na roça, chamado de “bóia fria”.

Fato épico: começou a construção da primeira rodoviária…
Onde hoje está a bela Praça Arthur Thomaz, muitos antes dela virar uma área de lazer e do encontro dos amigos das antigas, era um descampado… E ali a colonizadora, por volta de 1952, resolveu erguer com tábuas de peroba um ponto de ônibus de arquitetura rústica e feia. Ele servia como referência de chegada aos que vinham de fora para se instalar no novo núcleo habitacional que emergia. Essa foi o que pode chamar de primeira estação rodoviária da futura Capital da Amizade!
E durante anos foi a parada final das antigas “jardineiras”. Aqueles ônibus de aparência esquelética e totalmente desconfortáveis usados nas terríveis viagens cortando a selva através de um caminho tortuoso e penoso para chegar a Umuarama. Na verdade, aquilo nem servia para ser uma mini estação rodoviária, pois era na verdade um minúsculo casebre. E nem sanitários tinha para o uso dos passageiros…
Tinha duas saletas estreitas, cada uma com uma janela que servia como bilheteria por onde acontecia a venda das passagens. Nem bancos para sentar havia.
O espaço vago no centro do ponto não servia para nada, nem mesmo para se esconder das ventanias açoitando a poeira e muito menos para se proteger das chuvas que caíam naqueles tempos idos.
Sem conforto, mas muito movimentado
Porém, mesmo sem conforto nenhum, era o lugar mais movimentado – e mais importante para quem tinha pressa de chegar! – do então vilarejo ainda em estado primitivo, porém em ebulição por força da epopeia de colonização de uma nova fronteira agrícola que estava surgindo.
Legiões de colonos, vindos de todas as partes do Brasil, muitos deles atravessando milhares de quilômetros do Nordeste até aqui. Outros, estrangeiros, que chegavam a Umuarama falando idiomas intraduzíveis para os nativos, como japoneses e libaneses.
Aqueles ônibus decadentes, porém imprescindíveis na falta de outro tipo de transporte, chegavam lotados a toda hora. Alguns tinham até o seu teto – reservado ao bagageiro – ocupado por viajantes, que se agarravam como podiam para não cair.

Umuarama: a Terra Prometida!
O importante mesmo era não perder a “condução” e chegar, mesmo que com os ossos quebrados e músculos atrofiados pelo cansaço. O detino era sonhado como a futura Terra Prometida. Um paraíso onde todos poderiam realizar os sonhos de fortuna e de uma vida melhor que não haviam encontrado nos cantos de onde vinham…
A cena da descida naquele ponto de ônibus, que hoje só resiste guardada em algum canto de nossa memória, era algo simplesmente digno de recordar no futuro.
A sensação de botar os pés num outro lugar, estranho e misterioso, sabendo que a partir dali estaria começando um novo capítulo da história pessoal de cada um e que o passado deveria ser deixado para trás, era algo realmente muito forte de assimilar.
Quem veio conhecer a futura Umuarama… Ficou!
Todos, que chegamos naqueles anos da década de 1950, sentimos saltar à nossa frente a imagem de uma terra de ninguém. Onde não havia quase nada e estava tudo para ser desbravado, feito e organizado para os tempos e as gerações que viriam depois.

Se não é o marco zero geograficamente definido, pelo menos trata-se do primeiro momento do começo de nossas vidas. É no instante daquela chegada, naquele inebriante vai-e-vem de gente e malas, que tudo começou tanto para a biografia de cada um, como para a memória de Umuarama.
Era gente que chegava para ficar. E ficou! Era gente que vinha pensando em nunca mais voltar. E não voltou!
Outros, tempos depois, choraram porque tiveram que regressar porque aqui não conseguiram seus sonhos realizar. Alguns, vieram só para olhar Umuarama. A metade gostou e ficou. A outra parte não, e partiu rapidamente assim como chegou.
Chegadas e partidas… Recepções e despedidas
Muitos sorriram felizes em encontrar o seu lugar para seus projetos realizar. Entre tantas chegadas, lágrimas e lenços brancos em partidas e despedidas, a vida foi se repetindo por anos a fio naquele simulacro de estação. Mas, muita gente como eu, preferiu não voltar e está aqui até hoje, felizmente. E pode dividir a alegria de recordar aqueles maravilhosos instantes de nostalgia.
E foi a partir daquele ponto de parada das “jardineiras” que começou a se formar a confraria que tornou realidade a Capital da Amizade. Um lugar onde os amigos, depois de tantas aventuras, formaram um porto seguro. Umuarama é isso!
E nunca vou esquecer os gritos daqueles que tomavam conta das bilheterias daquele ponto de ônibus: “Atenção, atenção!!! Está chegando mais uma jardineiraaaa!!!”. E os comerciantes ali próximos, principalmente os donos de botecos, iam até lá correndo pra convidar quem chegava para tomar café, comer ou encher a cara de cerveja!!! (ITALO FÁBIO CASCIOLA, Especial para OBEMDITO)
