
Comércio resiste à decadência e migra para áreas próximas da antiga rodoviária de Umuarama
Indenizações começaram a ser pagas em julho; local sofre com abandono, tráfico e prostituição, mas comerciantes com estrutura optam por se manter na região


O projeto de revitalização da antiga rodoviária de Umuarama, anunciado em abril e com início da fase de indenizações em julho, tem alterado a dinâmica comercial e urbana da região central da cidade. Embora o espaço esteja visivelmente marcado pela decadência urbana, comerciantes com maior estrutura financeira optaram por permanecer nas imediações, transferindo seus negócios para prédios próximos, inclusive de frente ao antigo terminal.
A decadência que marca a área nos últimos anos com abandono, queda da atividade comercial, violência, uso de drogas, prostituição e tráfico é reflexo de um processo típico de desvalorização urbana, associado à mudança do terminal para o Parque Interlagos e à ausência de investimentos públicos por décadas.
Apesar do cenário de abandono, alguns empreendedores seguem firmes. É o caso da comerciante Margareth Teixeira Martins, de 59 anos, que atua há 30 anos com um bazar na antiga rodoviária e agora está de mudança. “Estou acostumada com minha atividade e não pretendo parar. Atendo estrangeiros como haitianos e usuários do transporte intermunicipal. Pretendo continuar num local próximo, pagando aluguel”, conta. Ela comercializa uma variedade de objetos, com foco em celulares e acessórios.
Outro exemplo é Lourival Moreira da Silva, de 57 anos, conhecido como Lourinho, que transferirá seu tradicional bar conhecido pelas fotos de personalidades e artesanato regional para um prédio ao lado da antiga rodoviária. Ele destaca que a especulação imobiliária na região já é perceptível: “Um ponto que antes era alugado por mil reais hoje chega a R$ 5 mil”.
Segundo apurado pela reportagem, alguns comerciantes menos estruturados devem buscar outras áreas da cidade, mas a maioria tenta se manter próxima ao antigo fluxo, mesmo diante dos desafios sociais e da ausência de segurança.

Margareth Teixeira Martins, de 59 anos, atua há 30 anos com um bazar na antiga rodoviária e agora está de mudança
Reurbanização e indenizações
Em abril, o prefeito Fernando Scanavaca anunciou um pacote de R$ 12 milhões em investimentos para transformar a área da antiga rodoviária em um novo terminal urbano, com unidade de saúde, praça pública e outros serviços, nos moldes da “Rua da Cidadania” adotada em Curitiba.
A desapropriação dos 40 boxes comerciais foi aprovada pela Câmara Municipal em junho. Já em julho, a Prefeitura iniciou o pagamento das primeiras indenizações. De acordo com a Secretaria Municipal de Administração, os demais processos seguem em tramitação.

Estrutura comercial sendo reformada na área da antiga rodoviária de Umuarama para abrigar comerciantes que mantinham seus bares ou bazares justamente na antes estação de ônibus
“Estamos cumprindo nosso compromisso com a cidade. Essa ação é essencial para garantir qualidade de vida, segurança e desenvolvimento para a região central”, disse o prefeito durante a apresentação dos 100 primeiros dias de gestão.
A administração também prevê relocar o camelódromo para o espaço das antigas circulares. Onde hoje funcionam os boxes comerciais será construída uma praça, e a Praça da Bíblia será convertida em estacionamento para atender a demanda dos hospitais e clínicas próximas.
Segundo o secretário de Obras, Renato Caobianco, os projetos estão em fase final de elaboração, aguardando apenas análise dos órgãos estaduais. “Os recursos estão garantidos. Parte da estrutura da rodoviária será mantida, com adaptações”, afirmou.

Lourival Moreira da Silva, de 57 anos, conhecido como Lourinho, que transferirá seu tradicional bar conhecido pelas fotos de personalidades e artesanato regional para um prédio ao lado da antiga rodoviária
Situação atual
A reportagem do OBemdito esteve nesta semana no local e constatou que a antiga rodoviária já apresenta sinais evidentes de abandono com o fim dos comércios. A movimentação diária se resume a usuários de ônibus intermunicipais, moradores de rua e usuários de drogas. Casos de tráfico e prostituição ainda persistem na área.
A revitalização, portanto, aparece como urgente não apenas sob o ponto de vista da mobilidade urbana, mas também da segurança pública e da dignidade dos trabalhadores e moradores que ainda circulam na região.


Imagens Danilo Martins/OBemdito