
‘O pecado do Alencar foi confiar demais’, diz parente de desaparecido em Icaraíma
Parentes afirmam que Alencar Gonçalves de Souza, de 36 anos, acreditava na boa-fé dos devedores


A família de Alencar Gonçalves de Souza, 36 anos, vive dias de angústia e incerteza desde o desaparecimento dele junto com outros três homens vindos de São Paulo, cobradores de dívidas. O caso ocorreu na terça-feira, 5 de agosto, e mobiliza uma força-tarefa das polícias Civil e Militar, além do Corpo de Bombeiros. A principal linha de investigação é de homicídio, mas, até agora, não há confirmação sobre o paradeiro do grupo.
OBemdito conversou com um familiar de Alencar, que descreveu o perfil do pequeno produtor rural como um homem pacato. Ele é caçula de três irmãos, casado, dedicado ao trabalho rural e morador da propriedade da família. “O pecado do Alencar foi confiar demais”, disse a pessoa, que pediu para não ser identificada.
A propriedade onde Alencar vive não é de alto padrão, mas fruto de décadas de trabalho no campo. No mesmo terreno, mora o pai de 67 anos, que sofre com a ausência do filho. “Ele não deseja mais dinheiro e nem a propriedade de volta, ele só quer o Alencar de volta. Está mal, se alimentando pouco e abatido”, relatou o familiar.
O parente afirmou que a família não tinha conhecimento de que Alencar havia contratado três homens para cobrar uma dívida, e que só soube dessa informação após o início das investigações.
De acordo com o delegado Gabriel Menezes, chefe da 7ª Subdivisão de Polícia Civil (7ª SDP) de Umuarama, a contratação teria como objetivo cobrar R$ 250 mil referentes à venda de uma propriedade rural para Antônio Buscariollo, de 66 anos, e o filho Paulo Ricardo Costa Buscariollo, de 22 anos. Ambos estão foragidos desde a decretação de prisão preventiva, na sexta-feira (8).
No dia do desaparecimento, os cobradores teriam ido até a casa de Alencar para buscá-lo antes de irem até o suposto encontro com os devedores. Após esse momento, ele deixou de manter contato com a família.
“Denunciamos o desaparecimento ainda na noite de terça-feira, assim que percebemos que ele não atendia mais o telefone. Nunca pensamos que algo assim pudesse acontecer”, contou o familiar.
A Polícia Civil apurou que, no dia 4 de agosto, o grupo teria feito um primeiro contato com os Buscariollo e retornado no dia seguinte para nova conversa. Depois disso, não houve mais notícias. A partir do desaparecimento, as buscas passaram a envolver equipes especializadas, com uso de aeronaves, cães farejadores e sonar para varredura dos rios Paraná e Ivaí.
O Corpo de Bombeiros informou que já foram percorridos 130 quilômetros de rio, além de buscas em áreas indicadas pela investigação, como o pesqueiro da família Buscariollo, onde um dos cães detectou odor de Alencar. Em terra, todas as possíveis rotas e locais de passagem do grupo foram checados.
A família reforça que não há qualquer sentimento de ódio contra os suspeitos e que a Polícia Civil é a responsável por identificar os culpados. “As famílias se conheciam como qualquer outra da cidade. Não temos problemas com ninguém. Queremos apenas a verdade e que ele volte para casa”, disse o parente.
Amigos e ex-patrões também têm prestado apoio, lembrando de Alencar como um homem querido e habilidoso no trabalho com cercas e mangueiras para gado.
Apesar da simplicidade, a propriedade onde vive é descrita como bem cuidada. “Tem dias que a esposa dele senta na cadeira da varanda e fica esperando ele voltar. É uma dor que não dá para explicar”, relatou a fonte.
O caso é especialmente doloroso para a família, que ainda se recupera da morte da matriarca há dois anos. “Depois da morte da mãe, essa é a pior situação que a família enfrenta. Ela era o alicerce da casa. Agora, estamos tentando nos segurar uns nos outros, mas é difícil”, desabafou.
Mesmo sem avanços concretos, a esperança permanece. “A Justiça de Deus é justa e ele vai trazer o Alencar de volta. E, indiferente ao que fizeram com ele, quem tiver culpa vai pagar”, finalizou o parente.
A Polícia Civil informou que continua a analisar dados de telefonia e imagens de câmeras para tentar localizar os desaparecidos. Novos mandados de prisão não estão descartados. Enquanto isso, para a família, cada dia sem notícias é mais um capítulo de incerteza e dor.
“Enquanto estavam procurando intensamente, havia esperança de encontrar ele. Hoje, com as buscas mais escassas, fica o vazio e a pergunta: ele está vivo, morto ou amarrado em algum lugar?”, indagou o familiar.