Rudson de Souza Publisher do OBemdito

‘O pecado do Alencar foi confiar demais’, diz parente de desaparecido em Icaraíma

Parentes afirmam que Alencar Gonçalves de Souza, de 36 anos, acreditava na boa-fé dos devedores

Parentes afirmam que Alencar Gonçalves de Souza, de 36 anos, acreditava na boa-fé dos devedores e não desconfiava de risco ao contratar cobradores para resolver dívida (Foto Colaboração/OBemdito)
‘O pecado do Alencar foi confiar demais’, diz parente de desaparecido em Icaraíma
Rudson de Souza - OBemdito
Publicado em 13 de agosto de 2025 às 19h50 - Modificado em 14 de agosto de 2025 às 19h34

A família de Alencar Gonçalves de Souza, 36 anos, vive dias de angústia e incerteza desde o desaparecimento dele junto com outros três homens vindos de São Paulo, cobradores de dívidas. O caso ocorreu na terça-feira, 5 de agosto, e mobiliza uma força-tarefa das polícias Civil e Militar, além do Corpo de Bombeiros. A principal linha de investigação é de homicídio, mas, até agora, não há confirmação sobre o paradeiro do grupo.

OBemdito conversou com um familiar de Alencar, que descreveu o perfil do pequeno produtor rural como um homem pacato. Ele é caçula de três irmãos, casado, dedicado ao trabalho rural e morador da propriedade da família. “O pecado do Alencar foi confiar demais”, disse a pessoa, que pediu para não ser identificada.

A propriedade onde Alencar vive não é de alto padrão, mas fruto de décadas de trabalho no campo. No mesmo terreno, mora o pai de 67 anos, que sofre com a ausência do filho. “Ele não deseja mais dinheiro e nem a propriedade de volta, ele só quer o Alencar de volta. Está mal, se alimentando pouco e abatido”, relatou o familiar.

O parente afirmou que a família não tinha conhecimento de que Alencar havia contratado três homens para cobrar uma dívida, e que só soube dessa informação após o início das investigações.

De acordo com o delegado Gabriel Menezes, chefe da 7ª Subdivisão de Polícia Civil (7ª SDP) de Umuarama, a contratação teria como objetivo cobrar R$ 250 mil referentes à venda de uma propriedade rural para Antônio Buscariollo, de 66 anos, e o filho Paulo Ricardo Costa Buscariollo, de 22 anos. Ambos estão foragidos desde a decretação de prisão preventiva, na sexta-feira (8).

No dia do desaparecimento, os cobradores teriam ido até a casa de Alencar para buscá-lo antes de irem até o suposto encontro com os devedores. Após esse momento, ele deixou de manter contato com a família.

“Denunciamos o desaparecimento ainda na noite de terça-feira, assim que percebemos que ele não atendia mais o telefone. Nunca pensamos que algo assim pudesse acontecer”, contou o familiar.

A Polícia Civil apurou que, no dia 4 de agosto, o grupo teria feito um primeiro contato com os Buscariollo e retornado no dia seguinte para nova conversa. Depois disso, não houve mais notícias. A partir do desaparecimento, as buscas passaram a envolver equipes especializadas, com uso de aeronaves, cães farejadores e sonar para varredura dos rios Paraná e Ivaí.

O Corpo de Bombeiros informou que já foram percorridos 130 quilômetros de rio, além de buscas em áreas indicadas pela investigação, como o pesqueiro da família Buscariollo, onde um dos cães detectou odor de Alencar. Em terra, todas as possíveis rotas e locais de passagem do grupo foram checados.

A família reforça que não há qualquer sentimento de ódio contra os suspeitos e que a Polícia Civil é a responsável por identificar os culpados. “As famílias se conheciam como qualquer outra da cidade. Não temos problemas com ninguém. Queremos apenas a verdade e que ele volte para casa”, disse o parente.

Amigos e ex-patrões também têm prestado apoio, lembrando de Alencar como um homem querido e habilidoso no trabalho com cercas e mangueiras para gado.

Apesar da simplicidade, a propriedade onde vive é descrita como bem cuidada. “Tem dias que a esposa dele senta na cadeira da varanda e fica esperando ele voltar. É uma dor que não dá para explicar”, relatou a fonte.

O caso é especialmente doloroso para a família, que ainda se recupera da morte da matriarca há dois anos. “Depois da morte da mãe, essa é a pior situação que a família enfrenta. Ela era o alicerce da casa. Agora, estamos tentando nos segurar uns nos outros, mas é difícil”, desabafou.

Mesmo sem avanços concretos, a esperança permanece. “A Justiça de Deus é justa e ele vai trazer o Alencar de volta. E, indiferente ao que fizeram com ele, quem tiver culpa vai pagar”, finalizou o parente.

A Polícia Civil informou que continua a analisar dados de telefonia e imagens de câmeras para tentar localizar os desaparecidos. Novos mandados de prisão não estão descartados. Enquanto isso, para a família, cada dia sem notícias é mais um capítulo de incerteza e dor.

“Enquanto estavam procurando intensamente, havia esperança de encontrar ele. Hoje, com as buscas mais escassas, fica o vazio e a pergunta: ele está vivo, morto ou amarrado em algum lugar?”, indagou o familiar.

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