
‘Mamaço’ transforma Umuarama em palco de celebração pela amamentação e vida
Ato mostra como a amamentação fortalece redes de apoio e salva vidas


Neste sábado ensolarado de agosto, dia 30, o pátio do Centro Cultural Vera Schubert, em Umuarama, se transformou em um grande berçário a céu aberto, um santuário de afeto e cuidado. É o “Mamaço”, um evento tão especial quanto necessário, que marca com chave de ouro as celebrações do Agosto Dourado na cidade. O mês não é dourado por acaso: a cor simboliza o “padrão ouro” de qualidade do leite materno, o alimento mais completo e valioso que um bebê pode receber.
O encontro, realizado pelo Hospital e Maternidade Norospar e pelo Banco de Leite Humano, com apoio institucional local, é parte de um movimento global. O “Mamaço” nasceu na França, em 2006, como um gesto pacífico de protesto e afirmação, e rapidamente ecoou pelo mundo, ganhando força em centenas de cidades brasileiras.
O tema global definido pela Aliança Mundial para Ação Pró-Amamentação (WABA) para 2025, “Priorize a amamentação: crie sistemas de apoio sustentáveis”, ressoa profundamente no evento. Trata-se de tornar visível um direito fundamental, gerar acolhimento e, acima de tudo, tecer redes de apoio sociais, familiares e institucionais, que sustentem a mãe nessa jornada tão bela e desafiadora.

Uma personagem, uma luta
E é no colo dessas mães que a teoria ganha vida, calor e olhos brilhantes. Como nos braços de Cauane Pereira dos Santos Rodrigues, de 25 anos. Sentada confortavelmente, ela embala sua pequena Aurora de Maria, de 4 meses, que demonstra um ciúme saudável da mãe, querendo participar da conversa.
A história de Aurora começou de forma intensa. “A cesárea dela foi de emergência, porque ela teve uma complicação, ela não estava respirando direito”, conta Cauane, ao repórter cinematográfico Danilo Martins, do OBemdito, com a naturalidade de quem superou o susto, mas ainda carrega a emoção na voz. A pequena guerreira, considerada prematura de 36 semanas, precisou ficar sete dias na UTI neonatal até ganhar alta e finalmente ir para casa.

Histórias de mães como Cauane Rodrigues, 25, que amamenta a filha Aurora e doa leite para o Banco de Leite Humano, mostram como o gesto fortalece redes de apoio e salva vidas
Superação e amor
Para Cauane, a amamentação era, a princípio, uma grande incógnita. “Sempre foi o meu maior medo, porque eu achava que eu não ia conseguir”, revela. O medo, comum a tantas mães de primeira viagem, foi dissipado com informação e apoio.
Ela buscou orientação ainda durante a gestação com as profissionais do banco de leite e seguiu à risca todas as recomendações no pós-parto. O resultado? “Foi super tranquilo, eu segui as orientações dela, não teve fissura, não teve dor, não teve nada.
”Uma experiência positiva que ela planeja prolongar. “Até quando ela quiser, né? Vai lá, bastante tempo. Eu quero aproveitar bastante essa fase, que é uma fase muito gostosa.”

Solidariedade entre mães
Mas a história de Cauane e Aurora não para por aí. Ela guarda um capítulo de profunda gratidão e solidariedade. Enquanto Aurora lutava na UTI, o leite de Cauane ainda não era suficiente. Foi o leite doado por outras mães, anônimas e generosas, que nutriu sua filha naqueles dias cruciais.
“Ela precisou do leite de outras mães”, lembra. Essa experiência transformou Cauane em uma doadora. “Pra mim, saber que assim como ela precisou lá, pode ter crianças que precisam também do nosso leite é fundamental.”

Investir é preciso
E é exatamente sobre retribuir, apoiar e priorizar que fala o Agosto Dourado. Os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da UNICEF mostram que cerca de 48% dos bebês no mundo são amamentados exclusivamente até os seis meses.
O investimento na amamentação tem um elevadíssimo retorno: é a base da saúde, do desenvolvimento infantil e da igualdade social. Para o bebê, o leite materno é uma vacina natural, reduzindo drasticamente os riscos de diarreias, infecções, alergias e obesidade. Para a mãe, a amamentação é um escudo, prevenindo câncer de mama e ovário, afastando a depressão pós-parto e promovendo uma economia familiar significativa.

Assim se forma a rede de apoio
O “Mamaço” de Umuarama, portanto, é muito mais que uma foto bonita. É a materialização de uma rede. É Cauane amamentando Aurora, é a doadora anônima, é a profissional do banco de leite que ofereceu a orientação certa. É a comunidade se unindo para dizer que amamentar é natural, é um direito e é, acima de tudo, um ato de amor que deve ser celebrado e protegido por todos. É o ouro líquido da vida, jorrando em forma de esperança.
