Rudson de Souza Publisher do OBemdito

Novo caso: violência contra Mayke revela rotina de maus-tratos a cães em Umuarama

Caso se soma a outro de extrema crueldade na cidade, mostrando que a violência animal é frequente

As sequelas da negligência e da violência que sofreu serão para toda a vida (Foto Colaboração/OBemdito)
Novo caso: violência contra Mayke revela rotina de maus-tratos a cães em Umuarama
Rudson de Souza - OBemdito
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 15h26 - Modificado em 3 de setembro de 2025 às 17h37

A história de Mayke, um cão da raça shih tzu que sobreviveu a meses de negligência e tortura, é difícil de ler. Mas é exatamente a sua trajetória que precisa ser contada. Ele foi resgatado com uma bicheira avançada no rosto, um ferimento tão profundo e infectado que o fez perder a visão de um olho e grande parte do outro.

O cenário de sua descoberta, no entanto, é o que torna o caso um alerta social ainda mais urgente: não foi em um terreno abandonado, mas dentro de sua própria casa, sob os cuidados de uma pessoa contratada para protegê-lo.

O caso, ocorrido no Jardim Irani, se soma a outro recente e brutal no Conjunto Habitacional Sonho Meu 2, onde a cadela Madonna foi encontrada morta com cortes profundos no pescoço, para ilustrar uma triste realidade: os maus-tratos não são eventos raros ou isolados.

Eles acontecem com uma frequência assustadora, muitas vezes escondidos atrás da fachada da normalidade e da confiança depositada em pessoas próximas.

A tutora que voltou para salvar

Sheila Lígia dos Santos, 49, é a tutora de Mayke e de outros quatro cães que também foram negligenciados. Ela morava na Espanha há quase dois anos e deixou para trás sua casa e seus animais sob os cuidados de uma mulher de 29 anos, então considerada “de extrema confiança”. Sheila bancava todas as despesas, sem qualquer restrição. “Nunca faltou dinheiro. Nunca houve falta. Era pra ser dada a melhor ração”, relata.

A suspeita começou com problemas à distância: cães fugindo, mortes inexplicáveis e outros relatos de maus-tratos que atravessavam o oceano. Decidida a resolver a situação, Sheila voltou ao Brasil. O que encontrou foi um cenário de horror. A casa, de sua propriedade, estava imunda, destruída e cheia de lixo. E os animais, todos os cinco de Sheila, estavam em estado lastimável: com dermatite, alergias, pelagem opaca e mudada de cor, anemia e infestados por carrapatos. (As imagem são fortes, e OBemdito decidiu não mostra-las em respeito aos seus leitores.)

“Uma cachorrinha branca estava castanha, por causa da alimentação ruim”, conta Sheila. A cuidadora, segundo ela, usava o cartão de débito para comprar ração barata no mercado em vez da ração de qualidade.

O martírio de Mayke e o silêncio cúmplice

Mayke 03

Mas o caso mais grave era o de Mayke. Com uma bicheira comendo seu rosto há dias, o animal foi levado às pressas para uma clínica de Umuarama. “O veterinário falou pra mim que uma das coisas que mais dói é a bicheira. Ele falou que isso não é caso de ontem… pelo menos 5, 6 dias o bicho tava comendo ele”, desabafa Sheila.

O profissional ficou chocado. O odor era tão forte que foi necessário desligar o ar-condicionado e abrir as janelas da clínica. Mayke passou por duas cirurgias complexas, quase dez dias tomando Tramal (um potente analgésico) e uma longa internação. O custo ultrapassou R$ 10 mil. As sequelas, porém, são permanentes: ele perdeu a visão e precisará de colírios e acompanhamento veterinário para o resto da vida.

Um retrato que se repete: o caso Madonna

Enquanto Sheila luta por Justiça, outro caso de extrema crueldade choca Umuarama. No Conjunto Habitacional Sonho Meu 2, a cadela Madonna foi encontrada morta em um terreno baldio, com vários cortes profundos no pescoço. A suspeita é uma mulher que havia se oferecido para doar o animal.

A investigação revelou um comportamento perturbador: a principal suspeita primeiro negou ter um cão, depois alegou que Madonna havia fugido. Testemunhas e evidências, no entanto, sugerem que ela mesma enterrou e depois desenterrou o corpo para jogá-lo longe.

Marcas de arranhões em seu braço, justificadas com uma história improvável de “queda no banheiro”, aumentaram as suspeitas. Assim como no caso de Mayke, a violência ocorreu à sombra da normalidade, cometida por alguém que deveria cuidar.

A lei e a necessidade de mostrar a realidade

Ambos os casos estão sob investigação policial. O da cuidadora de Mayke foi qualificado como crime ambiental (maus-tratos animais), destruição de patrimônio e outros. Sheila, que apresentou vídeos, fotos e laudos veterinários à polícia, é incisiva sobre seu objetivo ao dar visibilidade ao caso:

“Isso precisa ser mostrado. As pessoas precisam entender que maus-tratos não ficam impunes. Quem comete crueldade contra um animal pode e deve ser responsabilizado. Esse caso serve de exemplo: não é aceitável tratar um ser vivo dessa forma.”

Representantes de ONGs, como Marcia Carmem da Patas de Amor (envolvida no caso Madonna), corroboram que a violência é frequente. “É um caso chocante que exemplifica a barbárie que precisamos combater diariamente. A violência contra animais é um crime e um sinal de alerta social gravíssimo”, afirmou.

A história de Mayke e de Madonna é um lembrete doloroso, mas necessário. A crueldade não está apenas nas ruas; ela pode estar dentro de casa, cometida por quem se confia. E só virando a chave do silêncio e da indiferença é que a lei será aplicada, e a justiça, feita.

Mayke 02

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