
Iporã chora a perda de Danilo Roger e mãe lembra o filho alegre e carinhoso com todos
Danilo Roger era conhecido pela simpatia, pelo cuidado com os idosos e pelo apoio a famílias em vulnerabilidade


O relógio da Igreja Nossa Senhora de Fátima soava meio-dia quando a reportagem de OBemdito encontrou dona Zilda Ferreira Bido, 58 anos, mãe de Danilo Roger Bido Ferreira, de 32 anos. O badalar dos sinos, que ela ouve desde menina, serviu de pano de fundo na Rua Ademar de Barros para falar sobre a vida e a perda de seu único filho. E a conversa não foi meramente sobre a morte dele, mas sobre a vida marcada pela alegria e pela generosidade.
Danilo era o tipo de pessoa que deixava ambientes mais leves. Extrovertido, brincalhão, sempre com uma palavra boa para oferecer. Talvez seja por isso que, nos dias de luto, a casa de sua mãe não parou de receber gente. Amigos, vizinhos e até desconhecidos apareceram, cada um com uma lembrança para contar.
“Todos que passam aqui têm uma história. Uns lembram dele pequeno, outros falam do tempo em que trabalhava no banco e tratava os idosos com tanto carinho e paciência”, conta dona Zilda, que cuida de crianças.
Atualmente, Danilo trabalhava em Toledo, no BioPark, como Multiplicador de Sucesso das Empresas. A carreira florescia, mas era em casa que seu coração se ancorava.

“Ele vinha a cada 15 dias. Era meu companheiro”, lembra a mãe. No sábado, dia 30 de agosto, ele chegou a Iporã às 17h e, diferente de outras visitas movimentadas por encontros e convites, preferiu ficar no quintal de casa. Em uma roda simples com amigos próximos.
Saiu por volta das 19h para um evento e voltou à meia-noite. Estranhamente cedo. Minutos depois, disse que passaria na casa de uma amiga para buscar um carregador de celular. Não voltou mais. “Eu estava deitada, mas não dormia, só ouvi a voz dele. Pedi para ele não ir. Estava com um pressentimento”, recorda Zilda.
Às 4h da manhã, ao ver as luzes acesas, ela já sabia que algo estava errado. Procurou pelo filho, foi até a casa da amiga duas vezes. Pela manhã, foi à delegacia e ouviu que a polícia investigava um caso. “Aquele caso era o meu filho.”
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O corpo de Danilo foi encontrado na estrada Jandaia, zona rural de Iporã, com ferimentos compatíveis com golpes de faca. O carro dele, um Ford Ka, estava a 120 metros dali, com marcas de sangue.
A notícia chegou para a mãe no meio da manhã de domingo. O reconhecimento foi feito pelo pai, que não vive com Zilda. A mãe não quis ver. “Tranquei o quarto dele. Não tive coragem. Preferi ficar com a voz do meu filho”, relado dona Zilda, destacando ainda, que o piro momento do dia é a manhã, quando a realidade se descortina.
A relação dos dois sempre foi marcada por cumplicidade. Quando Danilo contou, já adulto, que era homossexual, a mãe apenas confirmou o que já sabia e acolheu sem reservas. “Ele demorou a falar, mas eu já sabia. Imagina se eu não iria amar meu filhinho? Meu filho não tinha inimigos.”
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Além da carreira no BioPark, Danilo também atuava como promoter e ajudava a organizar o concurso da rainha do rodeio de Iporã. Era ativo na comunidade, querido em todos os círculos. “Quero justiça. Essa pessoa não pode fazer isso com mais ninguém. Meu coração está esmagado, ferido, sangrando”, desabafa Zilda.
No velório, uma cena chamou a atenção da mãe. Uma mulher, em prantos, revelou que Danilo fornecia mensalmente uma cesta básica para a sua família. Era uma generosidade silenciosa, que só veio à tona naquele momento. “Esse era o meu filho”, resumiu Zilda.
As investigações seguem sob responsabilidade do delegado Luã Mota, responsável pela Delegacia de Polícia Civil de Iporã. A polícia colhe imagens, ouve testemunhas e analisa o celular da vítima, mas até agora não há suspeitos nem motivação confirmada. Mota fez questão de alertar: informações falsas em redes sociais estão atrapalhando o trabalho. “Algumas mensagens não são verídicas e podem prejudicar o andamento da investigação”, destacou.
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No domingo (07), uma passeata foi organizada na cidade. Usando roupas brancas, a comunidade pediu por Justiça. E, é importante lembrar, que denúncias que possam ajudar nas investigações podem ser feitas de forma anônima e gratuita pelo número 181.
Agora, a comunidade que perdeu um dos seus filhos mais alegres, se une em dois sentimentos: a saudade e o desejo de justiça. Enquanto isso, como lembra dona Zilda, permanece a memória de um jovem que deixou marcas profundas, não pela forma como partiu, mas pelo modo como viveu.
