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Quem é o empresário de energia solar alvo da polícia por denúncias de agricultores

A trajetória de Lauro Bianchin, que saiu do anonimato para se tornar um empresário obstinado pelo sucesso financeiro

O empresário umuaramense Lauro Bianchin, alvo da polícia por denúncias de golpes, feitas por agricultores (Foto Reprodução/Redes Sociais)
Quem é o empresário de energia solar alvo da polícia por denúncias de agricultores
Redação - OBemdito
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 18h24 - Modificado em 10 de setembro de 2025 às 15h16

Lauro Bianchin, 45 anos, viu sua vida mudar radicalmente em menos de uma década. Filho de família simples e sem grandes recursos financeiros, saiu do anonimato para se tornar um empresário conhecido em Umuarama e em outras regiões do Paraná.

Carros de luxo, roupas de grife e presença constante nas redes sociais se tornaram símbolos de seu novo estilo de vida. Para muitos, representava o exemplo do empreendedor ousado, capaz de transformar ambição em conquistas. Para outros, sua trajetória se converteu em sinônimo de frustrações e prejuízos milionários.

Nos primeiros anos de atividade, Bianchin concentrou esforços em um setor em ascensão: a energia solar. Fundou a YAW Energia Sustentável, que oferecia a produtores rurais a chance de investir em usinas fotovoltaicas. O modelo prometia retorno fixo mensal sem a necessidade de hipotecar terras, o que atraiu agricultores de diferentes perfis, muitos deles pequenos produtores em busca de renda extra.

Benção do rabino

Enquanto os negócios cresciam, Lauro Bianchin ampliava sua rede de contatos. Carismático, passou a circular em ambientes de prestígio. Em novembro de 2023, ingressou no Rav Sany Networking Prime Club, iniciativa do rabino e apresentador de TV Rav Sany que reúne empresários e personalidades brasileiras. 

Entre os membros estavam nomes como José Carlos Semenzato, investidor do Shark Tank, o chef Erick Jacquin e a empresária Carol Paiffer. A condecoração no clube foi tratada como um marco na carreira de Lauro.

Ambicioso, e também decidiu apostar em outro setor: a alimentação saudável. Investiu em um pó adoçante natural feito de algas marinhas, apresentado como substituto ao açúcar. O produto, aprovado por órgãos regulatórios como a Anvisa e até pelo FDA, nos Estados Unidos, destaca-se por não conter glicose, frutose ou sacarose e foi recebido como uma aposta visionária.

Mas os sinais de turbulência logo surgiram. Clientes insatisfeitos, disputas judiciais e contratos não cumpridos começaram a manchar sua reputação. De repente, Bianchin desapareceu das redes sociais, até então vitrine de sua vida pessoal e profissional.

Pessoas próximas insistem que ele não iniciou a trajetória com intenção de prejudicar ninguém. “Há quem monte negócios já pensando em enganar. O histórico do Lauro não mostra isso. Ele acreditava estar fazendo o certo”, afirma um ex-colaborador.

Financiamentos de usinas solares ultrapassam R$ 12 milhões

O desfecho mais grave ocorreu nesta terça-feira, 9 de setembro, quando a Polícia Civil do Paraná deflagrou operação em sua residência e na sede da YAW, em Umuarama. Mandados de busca e apreensão resultaram na coleta de documentos, celulares e armas. Lauro Bianchin foi autuado em flagrante por posse irregular de munições, pagou fiança e foi liberado.

Os crimes investigados são de estelionato e lavagem de dinheiro.

As investigações revelam acusações de golpes que, até o momento, segundo a Polícia Civil, ultrapassam R$ 12 milhões. Produtores eram convencidos a assinar contratos de financiamento de alto valor, com a promessa de que as parcelas seriam pagas pela empresa e de que os lucros com a energia gerada garantiriam renda mensal.

Na prática, as usinas não eram instaladas, e os agricultores descobriam ter assumido dívidas bancárias vultosas.

O início da investigação contra Bianchin

O caso que desencadeou a investigação foi registrado em maio de 2025. Um agricultor de Maria Helena, de 62 anos, denunciou ter assinado contrato para a compra de duas usinas, acreditando que teria rendimento de R$ 8 mil mensais durante oito anos. 

Dias depois, foi surpreendido com um financiamento de R$ 1,2 milhão em seu nome, junto à Caixa Econômica Federal de Paranavaí (todos os financiamentos denunciados foram feitos nesta unidade, o que soa estranho para a polícia). Sem usinas entregues nem parcelas quitadas pela empresa, acabou negativado e correndo risco de perder seu patrimônio.

Outros boletins de ocorrência, registrados em municípios como Paranavaí, Assis Chateaubriand, Marechal Cândido Rondon e Palotina, relatam prejuízos semelhantes. Informações da Polícia Federal indicam que cerca de 80 produtores rurais podem ter sido afetados.

Excesso de entusiasmo?

Para quem acompanhou o início da carreira de Lauro Bianchin, o cenário atual não é difícil de compreender. Amigos lembram do entusiasmo do empresário, que falava em “democratizar a energia solar” e “gerar riqueza compartilhada”.

O que transformou promessas em processos é tema das investigações. Alguns apontam falhas de gestão e falta de controle financeiro. Outros, excesso de ousadia e compromissos maiores do que a empresa poderia cumprir.

Hoje, o empresário que sonhava em revolucionar a energia limpa e a alimentação saudável vê seu nome associado a investigações criminais. Sua história se tornou um caso emblemático de como ambição e visibilidade podem se transformar em um pesadelo.

OBemdito não conseguiu manter contato com Lauro Bianchin e com sua defesa. O espaço está aberto para a manifestação do empresário ou do seu advogado.

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