
Há 47 anos, vereadores cassaram o primeiro prefeito eleito de Umuarama
VALDIR MIRANDA - Outros tempos, mas os sentimentos da população eram os mesmos de agora: repulsa e revolta, precedidos pela decepção


Há exatos 47 anos, ainda imberbe, eu era repórter e redator de notícias da Rádio Cultura de Umuarama e fui escalado para transmitir a sessão da Câmara Municipal de Vereadores. Fomos para a sede do Legislativo, eu, o subgerente Alaor Lopes e o técnico de som Argeu Belo da Luz, de saudosa memória. Nessa sessão, os vereadores tinham a incumbência de julgar o processo de cassação do prefeito Hênio Romagnolli, acusado de corrupção e de falta de decoro no exercício do cargo.
Na época a Câmara era composta por nove vereadores. A sede do Legislativo funcionava no endereço onde hoje está a agência do Banco Itaú, ao lado do Banco do Brasil. Nessa época tínhamos uma única emissora de rádio (Cultura), dois jornais locais (Gazeta de Umuarama e Tribuna do Povo). Ou seja, a comunicação era difundida por esses meios, além do tradicional tête-à-tête nos botecos da vida e nas conversas de comadres.
Naquele tempo, o povo sabia o que estava acontecendo por esses “meios” de informação. Mas, o povo sabia… E julgava, e xingava, esbravejava.
Outros tempos, mas os sentimentos da população eram os mesmos de agora: repulsa, revolta, precedidos pela decepção de quem acreditou, não apenas nas promessas eleitoreiras, mas na pessoa em si mesma, na trajetória da família, do capital de honradez criado ao longo dos anos de relacionamento social. O que o povo não aceitava, há 47 anos antes, não aceita hoje: o roubo do dinheiro público, resultado de impostos cobrados de quem trabalha, produz e recolhe até mesmo sem ter conhecimento.
Essa era uma das acusações que pesava contra o prefeito Hênio Romagnolli. Outra era a falta de decoro: o desvio de verbas públicas em proveito próprio. Ele foi o primeiro vereador de Umuarama (quando a recém-criada cidade era distrito de Cruzeiro do Oeste); foi seu primeiro prefeito e o primeiro deputado federal da história do novíssimo município. Tinha uma bem querência muito grande com a população. Era indiscutivelmente um líder populista. Essas qualidades não foram suficientes para evitar que o povo se revoltasse contra ele.
Nas eleições de 15 de novembro de 1972, Romagnolli se tornou o primeiro prefeito a ser eleito pela segunda vez para o cargo em Umuarama. Ele foi eleito com 11.718 votos, e o município contava com 32.008 eleitores – e houve 8205 abstenções. Seu adversário, Nicanor dos Santos Silva (ex-vereador e ex-presidente da Câmara), conseguiu 11.372 votos. Ambos eram da Arena (Aliança Renovadora Nacional), criado pela ditadura para apoiar o governo militar. Ou seja, o prefeito tinha oposição forte, apesar de o seu partido ter elegido sete dos nove vereadores. Nas ruas as conversas eram maiores do que no Legislativo.
Hoje, ao contrário de 47 anos antes, o prefeito Pozzobom conseguiu formar uma consistente base de apoio na Câmara, não se tornando refém do Legislativo. Vinha tendo a simpatia dos veículos de comunicação (que hoje não são apenas uma rádio AM e dois jornais), que quando não elogiam, ignoravam. E acabou pilhado pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Federal em distintas operações de corrupção em larga escala.
Lá atrás, em 1975, os vereadores José Hélio Mazorra, Abnar Lara, Luir José Ruaro, Elvino de Vicente, Ozires Lamenha de Siqueira, Luiz Catarin e Sebastião Calisto Barbosa (todos da Arena) e Germano Norberto Rudner e Ângelo Moreira da Fonseca (ambos do MDB), cassaram o prefeito de então.
Apenas Luiz Catarin, que havia sido secretário durante aquela gestão, votou contra a cassação, em seção quem varou a noite e foi encerrada no amanhecer do dia seguinte, com a posse do vice-prefeito Durval Seifert, que concluiu aquele mandato.
Hoje, 47 anos depois, quem arrisca um palpite? De especulações as redes sociais estão cheias, mas quem crava um resultado da votação programada para às 18 horas desta sexta-feira. Lá atrás, eram nove vereadores; hoje são 10.
Desta vez, a única coisa que tenho certeza é de que não estarei lá na Câmara Municipal transmitindo outra sessão histórica que pode alterar a linha do destino de algumas pessoas e mexer com o presente e o futuro da população de um dos municípios mais importantes do Paraná.
EM TEMPO: Romagnolli foi inocentado anos depois pela justiça, fato, injustamente, não acompanhado com tanto calor pela imprensa, como no dia da cassação.
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* Valdir Miranda é radialista e jornalista aposentado, atual secretário de Comunicação Social da Prefeitura de Umuarama.