
Deriva de agrotóxicos em Umuarama tira renda de 220 famílias de sericicultores
Deriva de agrotóxico atingiu campo de produção de larvas do bicho da seda em Umuarama, na Bratac


A Fiação de Seda Bratac informou na tarde desta terça-feira (22) que 910 caixas de larvas do bicho da seda tiveram que ser descartadas no campo de produção em Umuarama por causa de uma deriva de agrotóxicos. De acordo com a empresa, a medida vai impactar 220 famílias de sericultores em todo o Paraná, uma vez que não receberão as larvas da seda para criação.
Deriva é a porção do agrotóxico aplicado que não atinge o alvo desejado, podendo se depositar em áreas vizinhas, com potencial de impacto no ambiente. De maneira geral, as gotas finas geradas durante as pulverizações são mais sujeitas à deriva e podem ser carregadas a grandes distâncias.
Conforme Renata Amano, presidente da Abraseda (Associação Brasileira de Seda), técnicos da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) estiveram no local do sinistro para constatação dos fatos e tomar as providências necessárias.
“O uso de produtos aprovados e as formas de aplicação adequadas evitam a deriva de agrotóxicos. Se a substância química atingisse apenas o alvo desejado da monocultura no latifúndio, já seria um grande passo”, disse Renata.
A sericicultura é uma atividade agropecuária que consiste no plantio de amoreiras e na criação do bicho da seda. A cultura é a que melhor remunera o pequeno produtor rural por hectare de área plantada no Brasil, e tem alto valor bruto de produção.
Na intenção de garantir a qualidade do produto final, a criação nas duas primeiras idades é realizada em ambiente controlado e protegido, garantindo a saúde e o bom desenvolvimento do inseto.
As lagartas do bicho da seda chegam ao pequeno produtor rural familiar somente na terceira idade, quando passam a ser alimentadas com folhas de amoreira frescas e permanecem até a formação do casulo.
Segundo a Abraseda, o Brasil apresenta alto consumo de agrotóxicos e registra ocorrências de danos ao meio ambiente e à saúde humana. A sericicultura é apenas mais uma cultura agropecuária sensível que sofre com a intoxicação decorrente do uso indiscriminado de pesticidas.
Somente no Paraná, ainda conforme a Abraseda, já são 306 casos de intoxicação por aplicação irregular de pesticidas com denúncias formalizadas perante o órgão de defesa agropecuária.
De acordo com Shigueru Taniguti Júnior, presidente da Bratac, o prejuízo dos sericicultores paranaenses deve ultrapassar R$ 2,7 milhões nos primeiros meses de 2022.
Ainda segundo Taniguti Júnior, a indústria de fiação de seda perderá mais de R$ 30 milhões em futuras exportações de fio de seda no primeiro trimestre deste ano, e toda a cadeia produtiva da seda irá sofrer as consequências com a falta de matéria-prima.
Mais de 400 sericicultores já abandonaram a atividade nesta safra. Taniguti Júnior afirma que a família rural que vende ou arrenda a propriedade no campo em decorrência da ausência de perspectivas de produção sofre de forma abusiva com o subemprego na cidade.
A conscientização dos riscos associados e a apresentação de alternativas agroecológicas para a sociedade pode incentivar a criação de políticas públicas que defendam práticas mais sustentáveis nas culturas em larga escala.
O cumprimento dos requisitos legais e o respeito entre agricultores é o caminho para que diferentes culturas agrícolas coexistam de forma harmoniosa no Paraná, defende a Abraseda.