Sucessão de adiamentos deixa ex-funcionários da Averama a ver navios
Promotor de justiça investiga suposta ação de empresas de fachada, que estariam usando "laranjas" para enrolar ainda mais a conclusão do processo
Os trabalhadores perderam mais um round na batalha para receber dívidas trabalhistas da extinta Averama Alimentos S/A, empresa frigorífica que decretou falência em 2016, deixando cerca de 1,5 mil funcionários desempregados só em Umuarama.
A falta de quórum na Assembleia Geral de Credores, em primeira convocação, na última segunda-feira (4), impediu, mais uma vez, o avanço do processo de recuperação judicial. Porém, nem tudo está perdido. Uma segunda convocação está marcada para a próxima segunda-feira (11/4), às 14h30, no auditório do Hotel Caiuá.
O motorista Jean Wagner Gomes, que atuou na Averama por um bom período, reclama da falta de interesse de parte dos antigos colegas de empresa para desenrolar o processo. “A recuperação judicial depende do comparecimento das pessoas (na Assembleia), e isso não está acontecendo”, diz.
Paulo Luiz de Andrade, que também era motorista da Averama, corrobora a declaração de Gomes. “Disseram que faltaram credores na Assembleia, mas a gente não entende o porquê. A empresa é que sai ganhando com essa demora”.
‘Empresas de fachada’
O promotor público Marco Antônio de Souza está de olho no imbróglio. Ele apura suposta prática de atos ilícitos por parte de um grupo de pessoas ligadas direta ou indiretamente às empresas em recuperação.
Em documento enviado à Justiça, o promotor aponta sérias suspeitas sobre a inércia das negociações entre empregadora e empregados.
Segundo o promotor, há indícios da ação de empresas de fachada. Elas estariam usando “laranjas para praticarem atos visando prejudicar credores e o fisco, inclusive adquirindo créditos de credores já devidamente habilitados”.
Souza pede a suspensão da Assembleia, segundo ele, para o fim de que possa empreender diligências no sentido de se apurar a veracidade dos fatos.
O promotor informa também que instaurou Procedimento Administrativo e remeteu cópia ao Gaesf (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Sonegação Fiscal e aos Ilícitos contra a Ordem Tributária).
Trata-se de órgão ligado ao Ministério Público do Paraná, que atua na coordenação e execução das atividades relacionadas ao enfrentamento da evasão fiscal e aos demais ilícitos penais e civis contra a ordem tributária e finanças públicas.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentos, Adenilson do Amaral, disse que desconhece a atuação de empresas de “fachada” e “laranjas” que estariam agindo como uma espécie de lobistas da Averama.
“O que acontece é que vários trabalhadores assinaram procuração para advogados particulares e muitos não comparecem no dia da Assembleia”, afirmou Amaral. Ele disse ainda que o sindicato vem acompanhando a situação desde o início.
Os trabalhadores demitidos e também os credores reclamam na Justiça pelo pagamento de verbas rescisórias que, conforme o sindicato, ultrapassam R$ 400 milhões.
No auge da produção, o frigorífico chegou a abater 300 mil aves por dia. A Plusval Alimentos arrendou a planta industrial em 2019. Por meio de nota, a empresa esclarece que não herdou os processos trabalhistas dos ex-funcionários da Averama.
OBemdito não conseguiu contato com representantes da Averama. O espaço está aberto para eventual manifestação.





