
Corpo de Cleonice só é liberado 13h após a morte da catadora de latinhas
Demora do IML gerou ainda mais dor à família da mulher, que morreu após ser atacada de madrugada, a caminho do trabalho


A catadora de latinhas Cleonice da Silva Bernardes, 51 anos, não morreu de mal súbito nesta sexta-feira (27), como se supôs inicialmente. Ela foi vítima de um homem que a perseguiu e possivelmente tentou assaltá-la ou violentá-la.
O óbito da mulher foi registrado por volta das 5h45, na ciclovia de acesso ao Parque Jabuticabeiras. O corpo, porém, só foi liberado 13 horas depois à família pelo IML (Instituto Médico Legal), agravando ainda mais o sofrimento de parentes e amigos.
Cleonice recebia uma aposentadoria por invalidez e para complementar a renda madrugava de segunda a sábado para coletar recicláveis nas ruas da cidade. Saía de casa às 4h30 porque era o melhor momento para conseguir um maior volume do reciclável.
Poucos minutos após sair de casa, Cleonice ligou desesperada para o marido, afirmando que estava sendo perseguida por um homem e que este tentou violentá-la. A informação, conste-se, é do marido, Wanderley Júlio, que então ligou para a polícia.
Uma equipe da PM chegou minutos depois ao local em que o coração de Cleonice dava os últimos suspiros. O socorro do Samu foi acionado às 5h25 e estacionou na ciclovia às 5h47. Informação do próprio Samu. Minutos depois de ser colocada na ambulância do serviço avançado, com mais recursos, Cleonice morreu.
O corpo foi levado ao necrotério de um hospital. Não para receber atendimento médico. Já não havia mais o que fazer. O hospital apenas cedeu um lugar digno até que houvesse condições de transladar a catadora de latinhas para o IML.
Perguntas que precisam ser respondidas
Algumas perguntas que precisam ser respondidas: o IML foi acionado para recolher o corpo no local dos fatos? Por que o corpo foi levado para o hospital e não para o IML? Por que tanta demora para fazer a necropsia?
Você que está lendo, se coloque no lugar da família? Qual o sentimento quem vem à sua mente? Sabe-se que o IML de Umuarama está em reformas. Mas, então, por que não houve a transferência para uma unidade vizinha, como Paranavaí e Campo Mourão, como tem sido feito com outros corpos?
O corpo permaneceu intacto no necrotério do hospital até as 13h05, conforme documento obtido por OBemdito. Vamos recapitular: chegou no local por volta das 8h e só foi buscado pelo IML cinco horas depois. Por quê?
Sentimento de humilhação
Parentes e amigos de Cleonice passaram a manhã e a tarde em frente ao IML de Umuarama. O clima de revolta era latente. O sentimento, de humilhação, conforme relatou um parente próximo.
A impressão que se tem é que Cleonice foi vítima duas vezes. A primeira, da covarde agressão que levou à sua morte. A segunda, da demora para que seu corpo, enfim, retornasse aos entes queridos, para uma sepultura digna da mulher trabalhadora que foi em vida.
Tinha problemas de saúde
Wanderley Julio, o marido, relata que a esposa tinha problemas de saúde. Há vários anos, foi diagnosticada com epilepsia. Ultimamente, já não vinha mais tomando remédio para este mal. Porém, continuava com quadros de pressão alta. Seu coração estava fraco.
Julio fala também sobre a generosidade de Cleonice. “O coração batia mais fraco mas era muito grande na forma de ajudar os outros. Pode ir lá na minha vizinhança e pergunta quem era ela (a esposa). Ajudava todo mundo. Era uma mulher trabalhadora, guerreira”.
Suspeito foi ouvido e liberado
Um suspeito foi ouvido pela Polícia Civil e liberado após não ser reconhecido pela testemunha que teria presenciado, mesmo que a certa distância, o ato criminoso. De acordo com a PC, diligências estão sendo realizadas.
Em um primeiro vídeo de câmera de monitoramento próxima do local do ataque a Cleonice é possível ver o momento em que a mulher caminha e outra pessoa vem logo atrás. Aparentemente o homem e a vítima chegam a conversar e depois acontece um ataque. O vídeo todo demora pouco mais de 3 minutos.
Um outro vídeo, obtido posteriormente, mostra o suspeito mais de perto. Ele aparece de bermuda clara e está correndo. Esses materiais podem ser de fundamental importância para que o crime seja desvendado pela polícia.

Velório e sepultamento
O velório de Cleonice terá início na madrugada deste sábado (27) na capela da Umuprev e o sepultamento acontecerá no Cemitério de Umuarama, possivelmente às 17h.