‘Absolvido’ pela maioria na Câmara, vereador Ronaldo é denunciado à justiça pelo MP

Com a anuência dos colegas Clebão dos Pneus, Cris das Frutas, Fernando Galmassi, Newton Soares e Pé Duro, o vereador Ronaldo Cruz Cardoso se livrou do processo de cassação na Câmara de Vereadores, na última segunda-feira (27).

Um dia depois, na terça-feira (28), o Ministério Público do Paraná (MPPR) apresentou denúncia no Judiciário acusando Ronaldo e o diretor exonerado da Prefeitura, Valdecir Pascoal Mulato, o Pai Herói, pelo crime de corrupção passiva, que em caso de condenação, tem pena de detenção de três meses a um ano, ou multa.

Na peça processual o promotor Fábio Hideki Nakanishi, afirma que Ronaldo e Pai Herói elaboraram um plano criminoso com o objetivo de exigir propina do empresário Victor Hugo Gaiari Rojas, que também é engenheiro e está ingressando no mercado imobiliário.

Ele depende da aprovação de um projeto de lei complementar na Câmara para lotear um imóvel de sua propriedade, na saída para Xambrê.

Na denúncia, Nakanishi revela trechos do depoimento do empresário sobre conversas mantidas com Pai Herói e Ronaldo. No dia 28 de abril último, o ex-diretor teria chamado Victor Hugo no bar Senadinho, na praça Arthur Thomas. Lá, teria avisado o empresário que Ronaldo estava em frente à Prefeitura, esperando por ele.

Antes, porém, Pai Herói fez apontamentos bombásticos sobre o funcionamento do eventual esquema criminoso dentro da Câmara, tudo gravado por Victor Hugo.

O empresário disse que foi ao local comunicado, entrou no carro de Ronaldo e os dois se deslocaram ao futuro loteamento. A conversa no trecho também foi gravada pelo empresário. Victor fala bastante e Ronaldo se mostra reticente, sempre com respostas curtas, quase monossilábicas.

A seguir, um trecho da conversa entre o empresário e o vereador.

Victor Hugo: Mas como é que funciona essa situação pra liberar esse projeto de lei, meu amigo?

Ronaldo: Lá (quando chegar no imóvel) nós vamos conversar.


Victor: Beleza.

Ronaldo: É coisa simples.

Victor: Ah não, eu imagino… É só conversar né, conversar, resolver, fica tudo certo.

O empresário relatou que assim que chegou no terreno, Ronaldo pediu para que ele deixasse o celular dentro do carro. Foi nesse momento, de acordo com Victor Hugo, que o vereador pediu dois terrenos e R$ 30 mil em efetivo para passar o projeto de lei em tramitação na Câmara. Detalhe: o dinheiro deveria ser transferido por PIX em contas de terceiros (laranjas).

Victor Hugo, por sua vez, relatou ter oferecido em contrapartida um terreno (avaliado em R$ 200 mil) e R$ 15 mil em dinheiro, ao que Ronaldo teria respondido: “Vou ver o que a gente faz. Vou falar com o pessoal, pois somos em oito vereadores e tem que dividir com todo mundo”.

Em depoimento no Ministério Público, Ronaldo negou que tenha ido, com seu próprio veículo, ao imóvel de Victor Hugo, em sua companhia. A gravação, porém, desmente o vereador.

A denúncia ao Ministério Público contra Ronaldo foi apresentada pelos vereadores João Paulo Rodrigues Maciel de Oliveira, o Sorrisal, Ana Novais e Edinei do Esporte. Os três, juntamente com Mateus Barreto, votaram pela continuidade do processo de cassação de Ronaldo, mas foram vencidos pela maioria.

Antes de ser exonerado do quadro de servidores da Prefeitura, Pai Herói ocupava o cargo de diretor municipal de Articulação e Mobilização da Comunidade e tinha influência sobre e análise de projetos a serem enviados para a Câmara.

Ronaldo é o atual presidente da Comissão de Justiça e Redação no Legislativo. Um projeto de lei só vai a plenário depois de ser apreciado por Ronaldo. A comissão também é composta pelos vereadores Clebão dos Pneus e Cris das Frutas, que não constam na denúncia do promotor.

O Judiciário ainda não se manifestou se vai ou não receber a denúncia contra Ronaldo e Pai Herói.

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