
Aposentado e esposa garantem renda extra e ‘boa terapia’ com facas artesanais
Autodidatas no ofício, o casal usa metais de reciclagem na fabricação das lâminas de variados tamanhos


Cientificamente comprovado, o trabalho artesanal é excelente opção para quem precisa de terapia ocupacional. Juntando vontade e habilidade, o resultado satisfaz os que buscam algo para preencher o tempo ocioso e, por consequência, ganhar melhoria na qualidade de vida.
Indicado pelo médico, vem dando certo para o aposentado Custódio Bruno Filho, 67 anos, portador de diabetes, que resolveu se dedicar à cutelaria, ou seja, à confecção de facas, em casa. Ele mora num sítio em Cruzeiro do Oeste.
Com bastante simplicidade, mas com visível tarimba, faz de vários tamanhos, à mão. Todos os dias Custódio instala sua bancada na varanda e ali cumpre o ritual de relaxamento, como diz, em outras palavras.
“Meu médico pediu pra eu não ficar parado, porque só piora o meu problema; de início não sabia o que fazer, então comecei arrumando panelas – consertei todas da casa! Ficava fazendo umas outras ‘coisinhas bobas’ no resto do dia, mas não deu certo: tive que partir para outra atividade que fosse mais ‘séria’, que foi quando surgiu o interesse por facas”.
A idade, o diabetes, a obesidade e outras doenças recorrentes impediram que ele continuasse a trabalhar na lavoura [a família cultiva morango e outros produtos na pequena propriedade]. “Mas não podia ficar parado”, reafirma a mulher, Maria Aparecida, 62, que dá suporte ao trabalho do marido.
Por ironia, ela, que é magrinha, assume a tarefa mais pesada: “marretar” o metal. “Eu faço uma fogueirinha ali [aponta para um espaço do quintal] para derreter o aço e, com a marreta, deixo no formato… meu marido não tem força nos braços para isso”, explica, com ar de compreensão.
O casal, que é autodidata no ofício, usa pedaços de aço de reciclagem, como disco de trator, e aproveitam lenha do sítio para o aquecimento, antes da forja. “Com a lâmina pronta, em duas horas faço uma faca”, conta Custódio. O produto final é rústico, mas aparentemente forte.
Sobre vender o que faz, desconversa: “Não corro atrás; vendo pra quem quer, pra quem vem aqui, olha, gosta e leva… Não nos esforçamos pra isso, afinal, o que quero mesmo é me movimentar”.
Assim mesmo, claro, as facas têm preços, que variam de R$ 50 [as pequenas] a R$ 100 [os facões]. O sítio da família fica à margem da PR 323, na divisa entre Lovat e Cruzeiro do Oeste.
Contato de Maria Aparecida: 44 9 8846 4638.



Forjar e cantar
Há quem diga que a cutelaria seja uma arte. Mas tem outra que habita a alma de Custódio: a música. Ele toca violão e canta. Com o irmão, na década de 1970, formava uma dupla sertaneja.
“Toquei em muito circo da região, na abertura dos espetáculos; e nas rádios, também… sempre éramos convidados para cantar”, relembra, com saudosismo no olhar.
Com humildade, diz ainda que “toca um violão na igreja que nem parece eu tocando!”. E lamenta: “Infelizmente, pelo meu estado de saúde, não consigo mais ir à igreja”.