Rodrigo Mello Publisher do OBemdito

Família enfrenta demora para liberar o corpo de vítima de incêndio e cobra respostas sobre o ocorrido

Jessica Honório foi encontrada entre os escombros da residência onde morava, horas após o incêndio

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Família enfrenta demora para liberar o corpo de vítima de incêndio e cobra respostas sobre o ocorrido
Rodrigo Mello - OBemdito
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 17h24 - Modificado em 19 de maio de 2025 às 19h33

A família de Jessica Honório, 31 anos, vive momentos de dor e incerteza após a morte da jovem, encontrada carbonizada nos escombros de sua residência no Conjunto Residencial Sonho Meu, em Umuarama. O corpo foi localizado pelo Corpo de Bombeiros na manhã da última quarta-feira (18), horas após o incêndio que destruiu o imóvel.

Além da dor da perda, os parentes tiveram problemas para liberar o corpo, que passou por exames no Instituto Médico Legal (IML). Solange da Silva Honório, 51 anos, mãe da vítima, criticou a demora no processo e lamentou a falta de recursos para comprovar a identidade da filha, cujo corpo estava em estado avançado de carbonização.

“Nós não temos justiça no Brasil, porque, se tivéssemos, tenha certeza absoluta de que eu não teria passado por isso, tendo que esperar para poder velar o corpo da minha filha e dar um sepultamento digno para ela”, desabafou.

O corpo foi identificado com exames complexos, já que Solange não possuía documentos, como exames médicos ou dentários, que facilitassem o processo. Após quase 24 horas de angústia, a liberação ocorreu na tarde desta quinta-feira (19). O velório está sendo realizado na Capela 1 da Acesf, com sepultamento marcado para esta sexta (20), às 9h.

Quem era Jessica Honório

Jéssica era a filha mais nova de Solange. A jovem, que tinha três meninos, de 6, 10 e 14 anos, e uma menina de 12, estava grávida de cinco meses de outro menino, conforme exames do IML.

Segundo a mãe, ela sonhava em abrir um salão de beleza e chegou a trabalhar como caixa de supermercado antes de se envolver com drogas, há cerca de sete anos. Desde então, sustentava o vício vendendo materiais recicláveis.

“Ela era muito trabalhadora. Nunca pegou nada de ninguém, só vendia recicláveis para sustentar o vício”, contou a mãe.

Histórico de dependência

O envolvimento com o crack começou após Jessica se mudar para o bairro Sonho Meu. Apesar de ter sido internada em uma clínica de reabilitação, ela teve recaídas frequentes. Preocupada com o bem-estar dos netos, Solange assumiu a guarda das crianças, que atualmente vivem com ela e a bisavó, de 76 anos.

“Parei de trabalhar para dar suporte às crianças. Todas elas estudam. Apenas uma delas recebe pensão do pai, cerca de R$ 300 por mês. Atualmente, sobrevivemos do Bolsa Família”, conta dona Solange.

Sobre a nova gravidez da filha, dona Solange conta que Jessica não tinha comentado nada, mas que a família já havia percebido que ela estava gestante. “Ela dizia que não estava grávida, mas pelo corpo dela já sabíamos. Ela era magra e estava com a barriga aparecendo”, argumentou.

Suspeitas sobre incêndio

O incêndio que vitimou Jessica aconteceu na madrugada da última quarta-feira (18), por volta da 1h. Apesar disso, o corpo só foi encontrado durante a manhã, depois que a mãe da vítima avisou que ele estava nos escombros.

“A filha dela, de 12 anos, viu o corpo da mãe queimado. Ele foi encontrado por populares. Só depois foi retirado e levado para o IML”, conta dona Solange.

A casa onde Jessica foi encontrada, localizada na Rua Alexsandro de Oliveira Mota, era de propriedade da vítima. Ela a havia adquirido junto à Caixa Econômica Federal. Segundo dona Solange, a filha passava mais tempo na rua do que na residência.

“Como era um lugar dela, eles se reuniam lá para usar crack. Ela quase não passava muito tempo na casa, mas quando encontrava as pessoas que eram usuárias, convidava para fumar junto. Ela passava mais tempo na rua”, relata dona Solange.

Ainda segundo dona Solange, os bombeiros que atenderam a ocorrência relataram que um homem, que estava no local, se apresentou como proprietário da casa e disse que não havia ninguém no imóvel.

“Tenho certeza de que não foi acidental. O corpo dela foi encontrado de bruços. Era uma menina muito ágil e muito esperta. Não dava as costas para ninguém”, afirmou.

Segundo informações do Corpo de Bombeiros de Umuarama, no momento do incêndio, a corporação fez apenas o controle das chamas, pois não tinha informações sobre vítimas. Apenas pela manhã, quando foi acionada novamente pela mãe da vítima, os bombeiros estiveram no local e constataram o corpo entre os escombros.

Investigação em andamento

A Polícia Civil de Umuarama abriu inquérito para apurar o caso. O delegado Gabriel Menezes, chefe da 7ª Subdivisão Policial, informou que não há, até o momento, indícios de que o incêndio tenha sido criminoso. “Existe a possibilidade de um incêndio acidental que tenha resultado na morte da vítima”, disse em nota.

Apesar disso, nenhuma hipótese foi descartada, e a polícia aguarda os laudos de necropsia e de levantamento do local do incêndio. “Se tem um suspeito, vai atrás. Nada vai trazer minha filha de volta, mas precisamos de uma resposta. Não podemos deixar esse caso cair no esquecimento”, concluiu Solange.

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