Umuarama atualmente é uma das sete metrópoles mais arborizadas do Brasil!
Mas para fundar esta cidade e abrir fazendas de café, arrasaram imensas florestas...
Aproveitando a oportunidade em que Umuarama comemora a sua presença no topo do ranking das cidades mais arborizadas do Brasil, anunciada há poucos dias pelo IBGE. Vou relembrar o tenebroso início da História de Umuarama e do imenso território paranaense situado ao seu redor…
É o capítulo 1, que memoriza a fase pré-fundação de nossa urbe e de inúmeros outros municípios vizinhos. Esta fase teve acontecimentos impossíveis de serem esquecidos, apesar de já ter transcorrido quase um século – 70 anos para ser mais preciso!
A história de Umuarama começa no coração da selva, anos antes da fundação da cidade. É de um tempo em que só existiam o céu e a floresta, até então intocada e cheia de mistérios. Indícios apontam que no raiar da década de 50 começaram a chegar os primeiros desbravadores, os verdadeiros pioneiros. Eles eram homens anônimos decididos a invadir este mundo verde e abrir um imenso clarão. A intenção era “plantar” uma nova cidade e abrir fazendas de café, o “ouro verde” que movia a economia paranaense no século passado.

Tudo diferente em uma época distante
Na época em que Umuarama era muito mais arborizada, bandos de araras e macacos barulhentos gritavam na copa das árvores. Eles testemunharam os homens que atacavam a floresta a machadadas e ela sofria silenciosamente a execução de sua sentença de morte. Os sons graves do corte das perobas, cedros, figueiras e palmitos colocavam em polvorosa os bichos. Antas, pacas, veados, tamanduás, capivaras e velhas onças saíam em disparada, apavorados com aquele fim de mundo…
Nas fendas que iam esculpindo na mata, os pioneiros acendiam fogueiras, faziam fumaça queimando folhas verdes para espantar as nuvens de mosquitos. Além disso, instalavam seus acampamentos, sempre próximos a um rio, onde se banhavam, pescavam e tiravam água para preparar o “rancho” (refeições). Comiam jabá (carne de sol) com arroz, feijão e farinha de mandioca; quando caçavam algum animal, ele virava churrasco. Dormiam sob lonas nos dias frios e chuvosos; no calor intenso do verão ficavam ao relento, improvisando camas de folhagens ou em redes.

A epopeia da devastação
Essa epopeia de devastação prolongou-se durante vinte anos, até não restar quase mais nada daquele manto verde que existia. A destruição ocorreu através do ferro e do fogo: ferro dos machados e fogo das queimadas, numa época em que imperava a total ignorância sobre preservação do meio ambiente.
Nunca ninguém havia ouvido falar em Ecologia – tão difundida e aclamada nos dias de hoje. Vemos uma sórdida herança deixada pelas antigas gerações, que destruíram a flora e a fauna em nome do desbravamento, do progresso e da descoberta de novas fronteiras. O desmatamento do Paraná, nos anos 50 a 70, foi a maior e mais rápida devastação da Terra no século 20!

Naquele tempo, diante de tanta mata virgem que encontraram, nossos antepassados não podiam imaginar o que aconteceria. Porém, meio século depois, seus descendentes andariam de horizonte a horizonte sem encontrar a sombra daquelas árvores centenárias que eles derrubaram. Os pioneiros cortaram a gigante floresta em mil pedaços e transformaram em tábuas para construir casas. Eles ergueram aquela antiga cidade de madeira, que também não existe mais. A terra antes arborizada e, em seguida, os imóveis de madeira, deram lugar aos prédios e residências de alvenaria da atual Umuarama.
As aves e bichos que eles viram fugindo enquanto cortavam árvores, hoje estão em extinção ou quase. Aqueles riachos, minas e olhos d´água onde os desbravadores saciavam a sede ou atolavam as botinas em cada caminhada, hoje estão poluídos. E, segundo previsões nada otimistas, num futuro próximo vai faltar água.

A antiga Umuarama arborizada sucumbiu
Os ventos, que no passado eram refreados pelas árvores gigantescas e cafezais que cobriam todo o território, agora viram vendavais rentes ao solo. Eles vêm do Sul sem encontrar resistência nos campos pelados e pastagens a perder de vista.
Quando converso com antigos pioneiros, aqueles que viviam na roça, me contam que naquele tempo até o tempo era diferente, que chovia mais e o clima era úmido. Na verdade, a meteorologia garante: hoje chove como sempre choveu. Acontece que, antigamente, mais da metade da chuva nem chegava ao solo, antes encharcava a floresta.
Agora, as tempestades castigam a terra, tão revirada pelos tratores. Além disso, as enxurradas levam toneladas e mais toneladas de terra para os rios. E impossível ignorar que a destruição das gigantescas matas está sendo vingada pela Mãe Natureza.
Imensas crateras surgem todos os dias e por todos os lados do frágil Arenito Caiuá. O problema insolúvel consome milhões e milhões para tentar amenizá-lo. Vemos a assustadora erosão e, mesmo com tanta tecnologia da atualidade, é impossível contê-la e, muito menos, colocar um fim nela!

A filosofia do progresso e a realidade atual
Nos tempos das florestas esse drama não existia. Ninguém ‘sonhava’, principalmente as colonizadoras, os desmatadores e as serrarias, que ele um dia iria surgir. Na época todos estavam focados em vender terras e ganhar dinheiro – essa era a filosofia do ‘progresso’… Neste novo século, a poderosa erosão é tema permanente de manchetes na mídia paranaense e nacional e por todos os cantos da soberana mídia internética!
Com constantes mudanças climáticas, os territórios ocupados pelo agro e pela pecuária logo ressecam ao sol e vão perdendo a fertilidade. Bem como, tornam-se carentes de adubos e as colheitas ficam cada vez mais caras. É a falta da camada arborizada, um problema que atinge não só Umuarama, mas praticamente todo o Paraná.
A imensa esponja úmida antigamente protegia o solo e alimentava as nascentes. Machados e fogo arrancaram a floresta. Isso ocorreu de forma tão violenta que os meus velhos amigos de cabelos brancos têm razão: são outros ventos, outro tempo, outra terra… Ó, trágica realidade!
Tudo mudou e mudou para pior. Se não houver recuperação e conscientização da urgente preservação permanente do meio ambiente, o futuro será ainda mais negro. O fato é que muitos desertos do mundo começaram assim… Pensem nisso! (ITALO FÁBIO CASCIOLA, Especial para OBEMDITO))







