
Jovem poeta de Umuarama, campeão de batalhas, lança livro de poesias engajadas
Em 'Odeio o cheiro do que eu não posso comprar', Valter Vidigal, o Digalvi, faz retumbar sua voz que denuncia o racismo e as desigualdades sociais


Em Umuarama, um jovem de olhar crítico e questionador está fazendo ondas literárias com seu livro de poesias ‘Odeio o cheiro do que eu não posso comprar’. Valter Mateus Quirino Vidigal, 25 anos, encontrou na poesia não apenas uma forma de expressão, mas também uma ferramenta para colaborar na promoção de mudanças sociais.
Ele exibe a obra com orgulho, afinal teve que imprimir um esforço imenso para concretizar o projeto, que contou com o apoio financeiro da Lei Aldir Blanc; saiu com mais de 30 poesias, em 90 páginas e 300 cópias impressas.
“Há muitas pessoas a quem devo a publicação desse livro; algumas fazem parte da minha vida desde os primeiros versos”, expõe nos agradecimentos, destacando na lista a mãe, Sandra do Carmo, que além de o ter ensinado a ler com os gibis do Chico Bento, foi sua primeira e mais interessada leitora.

Umuaramense nascido e criado num sítio, que assina o livro com o pseudônimo digalvi [uma inversão das sílabas do seu sobrenome, escrito com inicial minúscula, como o faz bell hooks, ativista negra americana, da qual é fã], acredita que seu trabalho, focado em exaltar uma política mais inclusiva e representativa, contribui para ampliar a consciência dos leitores.
O livro está à venda pelo Instagram, mas Valtinho, como é chamado pelos amigos, está distribuindo uma parte dos exemplares em escolas, centros de capoeira e espaços comunitários, como forma de contrapartida social.

Livro traduz sentimentos e revoltas
Para falar ao OBemdito sobre sua trajetória de vida e seus anseios, escolheu um cenário inspirador: a praça Antônio Morais Barros, onde costuma aportar por lá para escrever. “Gosto da paz deste lugar”, afirma.
Ele contou que é filho de produtores de legumes e verduras e que mora com os pais no sítio, mas trabalha na cidade: é instrutor, numa escola de inglês.
E enalteceu que consegue, facilmente, migrar das letras no papel para a prática: militante do Partido Comunista Brasileiro, ele é membro ativo do Coletivo Negro Minervino de Oliveira – Núcleo de Maringá, onde participa de grupos de estudo e debates sobre questões contemporâneas.
Uma delas, a precarização do trabalho, tornou-se tema da poesia que dá nome ao livro e que descreve suas impressões apreendidas no primeiro emprego, num supermercado, marcadas pelo desgosto de ver desperdício de alimentos.
“…cansado,/ mais uma vez, aqui, trampando no mercado,/ com pressa,/ rezando para não ter feito algo errado…/alguém pediu as contas por conta do estresse…/ crescem as exigências. Abaixo a cabeça, … / enquanto jogo fora o que podia alimentar…/ odeio o cheiro do que não posso comprar.”
“Estou bem feliz, uma vez que o livro está chegando nos espaços em que ele faz sentido… Tem aluno meu lendo, professores meus lendo, companheiros dos coletivos, enfim, muita gente que valoriza, de verdade, o meu trabalho”, comemora Valtinho, que agora vem se preparando para prestar vestibular e, assim, ingressar numa universidade pública [ele pretende cursar Letras]

Saraus e batalhas de poesia
O amor pela causa, muitas vezes, leva-o para longe. Valtinho viaja regularmente para participar de saraus e batalhas de poesia ou slam [termo herdado dos norte-americanos que significa um evento em que poetas recitam poemas autorais em formato de competição, diante de um júri escolhido aleatoriamente na plateia].
Por aí afora, já participou de mais de 40 batalhas, uma delas a ‘Zumbi dos Palmares’, em Minas Gerais. “Foi muito emocionante”, exclama o militante antirracista, como se define. “Comecei a participar dos slams via on-line, durante a pandemia, e não parei mais”, lembra.
Tanto que já tem título no currículo: duas vezes campeão do ‘Slam Pé Vermelho’, em 2023 e 2024, um dos mais disputados da macrorregião de Maringá; e no ano passado, conquistou o primeiro lugar no slam ‘Falares Festival’, em Maringá.
“Com objetivo de dar voz aos marginalizados e defender a dignidade humana por meio das palavras, estas batalhas significam expressão e resistência, inclusão e diversidade, por isso participo com tanto ânimo… Temos que discutir os problemas que afetam as pessoas ao nosso redor”, argumenta.
Para adquirir o livro do jovem poeta, converse com Valtinho no Instagram – @digalvi


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