Rudson de Souza Publisher do OBemdito

MPT firma acordo com C. Vale após explosão que matou dez trabalhadores

Cooperativa deverá adotar programa de prevenção de acidentes em unidades no Paraná ao longo dos próximos 10 anos

Explosão em silo da C. Vale em Palotina, em 2023, deixou dez mortos e levou à adoção de programa de segurança nas unidades da cooperativa (Foto Notícias Agrícolas)
MPT firma acordo com C. Vale após explosão que matou dez trabalhadores
Rudson de Souza - OBemdito
Publicado em 3 de julho de 2025 às 11h10 - Modificado em 3 de julho de 2025 às 14h58

O Ministério Público do Trabalho (MPT) firmou um acordo com a C. Vale Cooperativa Agroindustrial, no âmbito de uma ação civil pública movida após a explosão de um silo da empresa em Palotina, em 2023, que provocou a morte de dez trabalhadores, sendo oito haitianos e dois brasileiros, e deixou outros dez feridos.

A tragédia motivou investigações que apontaram falhas na gestão de riscos ocupacionais e na segurança do trabalho. Como resultado, a empresa se comprometeu a implementar um programa estruturado de gerenciamento de riscos, com prazo de 10 anos para cumprimento, em dez unidades da cooperativa localizadas nas regiões Oeste e Noroeste do Estado.

O acordo prevê melhorias físicas nas instalações e a elaboração de planos de prevenção contra explosões em ambientes confinados. O MPT destacou que o foco das medidas é criar condições mais seguras e evitar a repetição de acidentes semelhantes.

A atuação contou com o apoio da Justiça do Trabalho, que mediou e homologou os termos. Segundo o MPT, a cooperativa demonstrou disposição em colaborar com as mudanças propostas.

Paralelamente, as indenizações às famílias das vítimas estão sendo tratadas individualmente, por meio de ações e acordos judiciais em andamento.

Conclusão das investigações

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) concluiu que a explosão foi provocada pelo excesso de poeira de grãos em suspensão e acumulada em diversas partes da unidade.

De acordo com laudo técnico divulgado pelo MTE, a poeira estava presente no ar, no chão, em paredes, máquinas e túneis subterrâneos da estrutura. Segundo o MTE, esse tipo de material, em contato com oxigênio e uma fonte de ignição, pode se comportar como combustível e causar explosões.

O documento aponta como possíveis causas da ignição um curto-circuito em instalações elétricas precárias, superaquecimento de esteiras e faíscas em motores.

Irregularidades

Durante a fiscalização, os auditores do MTE identificaram 26 infrações de normas de segurança e saúde no trabalho, entre elas:

  • Presença de trabalhadores sem capacitação adequada para espaços confinados
  • Falta de supervisão durante as atividades
  • Excesso de jornada e descanso semanal não concedido
  • Vestimentas inadequadas para o ambiente de risco
  • Entrada em túneis em funcionamento, sem parada dos sistemas
  • Esteiras desalinhadas e sem controle de temperatura
  • Instalações elétricas irregulares
  • Falta de procedimento de limpeza eficiente da poeira acumulada

Os fiscais também relataram pressão por produtividade durante a safra, o que pode ter contribuído para a negligência com protocolos de segurança.

Segundo o MTE, a cooperativa não apresentava gestão eficiente dos espaços confinados, definidos por norma técnica como áreas com entrada e saída limitadas, atmosfera perigosa e não projetadas para ocupação contínua.

A explosão

O acidente ocorreu durante trabalho de manutenção em um túnel de transporte de grãos, utilizado para armazenar milho. A explosão também atingiu outros dois silos, parcialmente destruídos.

As vítimas haitianas trabalhavam como funcionários terceirizados, em situação migratória regular no país, segundo informou o MTE à época.

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