
Arquiteto comemora paixão por Raul Seixas e exibe sua coleção de discos de vinil
No Dia do Rock, comemorado hoje no Brasil, ele mostra que seu fascínio pela música é tão sólido quanto seus projetos


Toca violão, canta por hobby e tem mais de 400 discos de vinil, todos de Raul Seixas incluídos. Enquanto o mundo celebra os 80 anos do artista, há quem faça dessa data algo ainda mais pessoal. É o caso do arquiteto Febo Carvalho, 64 anos, que diz ter construído uma relação profunda com a música.
No embalo do Dia do Rock, ele abre para OBemdito as gavetas da estante onde guarda sua coleção, destacando a admiração que nutre, desde sempre, pelo ícone da contracultura e pelos sons que nunca saem de moda, gravados nas faixas dos nostálgicos LP’s.
Além de projetar obras que encantam pela sua criatividade e funcionalidade [atualmente trabalha com designer de objetos], diz encontrar na música uma fonte “inesgotável” de inspiração e prazer: “A música é um catalisador de emoções! Ela proporciona alegria e bem-estar, cura as dores, mas vai muito além”.
O que Febo considera mais importante na música é seu poder de ampliar a consciência das pessoas: “É uma ferramenta poderosa que nos faz refletir sobre nosso modo de pensar e agir, une as pessoas diante de questões sociais, enfim é uma arte indispensável nas nossas vidas”.

Discos de vinil, Raul e sua eletrola portátil
Abrindo sua eletrola dos anos de 1970, Febo diz ser indescritível seu apego pelos discos de vinil. Ele se orgulha de possuir verdadeiras raridades que atravessam décadas de história musical.
“Como hoje é dia de saudar o Maluco Beleza, posso garantir que ele ocupa um lugar especial no meu arquivo”, salienta. Entre esses tesouros sonoros, gaba-se do primeiro gravado pelo roqueiro, em 1967: ‘Rauzito e os Panteras’.
“Comprei logo depois que eu ganhei uma eletrola, ou, como chamávamos, uma sonatella de presente de Natal dos meus pais… Eu tinha 13 anos”, relembra, com ar saudosista.
Do grito rebelde de ‘Krig-ha, Bandolo!’ ao misticismo de ‘Gita’; do mergulho filosófico em ‘Novo Aeon’ às reflexões existenciais de ‘Há 10 Mil Anos Atrás’, para o arquiteto tudo se encontra em perfeita harmonia. “É puro deleite!”, resume.

Bailinhos de domingo
O compacto simples ‘Ouro de Tolo’ [de 1972], primeiro solo de Raul Seixas, ele carregava embaixo do braço, junto com outros “elepês”, quando resolvia, com os amigos, promover “bailinho”.
“Nossos bailinhos das tardes de domingo eram animados! Eu levava meus discos de vinil e minha eletrola [da marca Sonata] de três rotações, que era portátil e que tenho até hoje”, orgulha-se.
“Raul Seixas é o único cantor que fiz questão de ter todos os discos, ainda lá no tempo da minha juventude! O mais impressionante é que sua obra continua atualíssima! Quando ouço Abre-te Sésamo, por exemplo, entendo que certas portas só se abrem para quem ousa desafiar o óbvio… É uma das melhores lições que nos deixou.”

Os bons daqui e do mundo
Como um verdadeiro aficionado por música, Febo não apenas aprecia, mas também preserva, com seu eclético acervo de discos de vinil, a memória e o legado de vários outros cantores consagrados da música MPB [maioria].
Entre eles, cita Gilberto Gil, Caetano Veloso, Lenine, Djavan, Vinícius e Toquinho, Martinho da Vila, Tom Jobim, Rolando Boldrin, Jair Rodrigues, Almir Sater, Sá e Guarabyra, Tim Maia, Zé Ramalho, Nei Lisboa e Sivuca.
No rol dos internacionais, menciona Rolling Stones, Beatles, Pink Floyd, Bob Dylan, Bob Marley, Janis Joplin e Jimi Hendrix, que ficam lado a lado com alguns dos nomes mais admirados do jazz e blues, como B.B. King, Chuck Berry, James Brown e Billie Holiday.
E como sua outra paixão – além do violão – é a gaita, acrescenta no rol dois compositores que é superfã e não poderiam faltar na sua discoteca: Rildo Hora e Toots Thielemans, este amplamente considerado o melhor gaitista do mundo.

Não vende nem doa discos de vinil, só recebe!
Na coleção de discos de vinil do arquiteto tem os de doação. “Amigos sabem que eu cuido e me dão; não recuso nenhum, nem os bregas”, diz, rindo.
São poucos, mas para esses que considera “de mau gosto ou de gosto discutível” reserva um cantinho: “Tenho discos de trilha de novelas, da Xuxa, do Richie… São artistas que não compraria nunca, mas como ganhei, guardei!”
Para ele, cada disco é muito mais que uma peça de coleção. “Vejo todos como algo vibrante, uma porta de entrada para uma época onde a música era uma experiência tátil e visceral”, exclama.

Rádios, guitarra e jaqueta, emoções à parte!
Apontando para seus rádios [um que foi de seu bisavô e outro de seus pais, dentre os demais que coleciona], e que também ganham espaço cativo na sua vitrine particular, Febo se define um entusiasta desse veículo de comunicação e o associa à música. “Não tem como dissociar, por isso amo demais!”
Antes da eletrola, eram os valvulados que o encantavam: “Desde criança ouvia muito junto com meus pais! Tanto que já trabalhei como locutor… Tive o prazer de viver essa experiência em 1985!”.
Para as fotos da reportagem, o arquiteto fez questão de posar ao lado de sua cultuada guitarra acústica ‘Violões Rei’ [marca que surgiu nos anos de 1950]. E vestindo uma autêntica jaqueta Lee, que comprou quando tinha 15 anos.
Embora se orgulhe do seu acervo vintage, deixa claro que não dispensa os recursos tecnológicos para ouvir uma boa música. E que não curte só as antigas, mas também as contemporâneas, como as de Chico César, Nando Reis, Arnaldo Antunes, Rubel, Criolo e tantos outros. A lista é exteeensa!



