
‘Aqui é feio as coisas’: cobrador de dívida demonstrou preocupação à esposa
'OBemdito' traz novas informações do desaparecimento de quatro pessoas em Icaraíma, crime que instiga a opinião pública e ganhou repercussão nacional


Diego Afonso, um dos quatro desaparecidos em Icaraíma, trocou mensagens de WhatsApp com a esposa na segunda-feira (4), dia em que chegou ao município para iniciar a cobrança de uma dívida de terras. Na conversa, ele demonstrou preocupação com a situação. “O véio anda armado. Aqui é feio as coisas”, disse, referindo-se a Antônio Buscarioli, foragido da polícia.
A mulher questionou se a cobrança daria certo. Diego Afonso respondeu: “Ai vida, sei não. Mas vamos tentar”. A troca de mensagens ocorreu às 19h25 da segunda-feira.
Pessoas próximas a Diego relataram, sob condição de anonimato, que ele não costumava usar força física nas cobranças, apenas “pressão psicológica”. “Eu não queria ser cobrado por ele. Ele sabe entrar na mente. É o trabalho dele. Ele sabe fazer. É por isso que já rodou meio Brasil fazendo cobrança”, disse uma fonte.
Na manhã de terça-feira (5), Diego e os colegas Rafael Juliano Marascalchi e Robishley Hirnani de Oliveira, também cobradores, retornaram à propriedade rural dos devedores, depois de tomar café em uma padaria da cidade. O grupo estava acompanhado de Alencar Gonçalves de Souza, morador de Icaraíma e contratante do serviço de cobrança.
De acordo com boletim de ocorrência obtido por OBemdito, o desaparecimento dos quatro homens foi comunicado à polícia às 23h15 da terça-feira, pelo pai e pela esposa de Alencar. Eles informaram que Alencar havia saído de casa “com três colegas” do interior paulista para cobrar uma dívida com Antônio Buscarioli, conhecido como ‘Tonhão do Pesqueiro’, proveniente da venda de terras.



Inicialmente, especulava-se que o valor fosse de R$ 1 milhão, mas a polícia revelou que se tratava de 10 notas promissórias de pouco mais de R$ 25 mil cada. A esposa de Alencar contou que manteve contato com ele pela última vez por volta das 12h, via aplicativo, e que ele informou estar tudo bem. A polícia investiga a possibilidade de que essa mensagem tenha sido enviada por um dos suspeitos do desaparecimento.
Em Icaraíma, prevalece a lei do silêncio. Moradores próximos às famílias dos desaparecidos e dos suspeitos evitam comentar o caso. No entanto, a menção aos nomes de Antônio Buscarioli e de seu filho, Paulo Ricardo Costa Buscarioli — ambos com prisão decretada e foragidos — provoca reações visíveis.
Familiares de Diego Afonso e dos demais desaparecidos cobram a polícia
As famílias dos cobradores pressionam a Polícia Civil pela elucidação do caso. “Queremos nossos maridos, vivos ou mortos. Não aguentamos mais esse sofrimento”, disse Meiriane Graci de Souza, esposa de Rafael.
As esposas contrataram uma advogada para acompanhar o trabalho policial. Um dos principais questionamentos é que os suspeitos foram ouvidos na delegacia e liberados logo após, só sendo oficialmente identificados como suspeitos três dias depois do desaparecimento. “Uma família inteira dos suspeitos, com mais de 10 pessoas, sumiu, e ninguém viu nada”, afirma uma das mulheres.