Cadeirante é ‘despachado’ em veículo de Prefeitura de SC para Umuarama

Um homem de aproximadamente 50 anos chegou a Umuarama na manhã do último sábado (18), trazido por um veículo da Prefeitura de Itapoá, no litoral de Santa Catarina. Ele é cadeirante e faz uso de fraldas geriátricas. Permaneceu alguns dias em um hotel e, em decorrência dos problemas de saúde que enfrenta, foi encaminhado para o Pronto Atendimento (PA) e depois para um hospital local, onde segue internado.

Seria este um caso de transferência forçada de morador de rua do Estado vizinho? Há pouco tempo, pelo menos cinco cidades catarinenses entraram na mira do Ministério Público por, supostamente, expulsarem andarilhos para outros municípios. No grupo estão Balneário Camboriú, Blumenau, Criciúma e Chapecó. O assunto ganhou repercussão nacional.

Em 2023, uma imagem chocante veio à tona: pelo menos 30 pessoas em situação de rua andando em uma fila única com pertences pessoais, escoltadas por viaturas da Polícia Militar (PM). O registro aconteceu na BR-101, na divisa entre Itajaí e Balneário Camboriú. O comando da corporação abriu investigação para apurar a responsabilidade dos policiais que aparecem nas cenas.

Quem é o cadeirante

Nesta reportagem, vamos chamar o homem trazido a Umuarama de ‘Antonio’. O objetivo é preservar sua verdadeira identidade. Mas quem é Antonio? Por que a escolha pela Capital da Amizade? O cadeirante, de fato, é um morador de rua indesejado na cidade de Itapoá?

O CREAS (Centro Especializado de Assistência Social) de Umuarama recebeu um ofício, de poucas palavras, comunicando a remoção de Antonio à cidade. O documento dava conta de que o cadeirante estava prestes a fazer a viagem. Quando o ofício foi recebido, por e-mail, Antonio já tinha chegado.

Reticente, uma assistente social da pasta disse que não poderia dar muitos detalhes por questões éticas, de forma a não expor o cidadão ao que chamou de mais uma humilhação desnecessária. O secretário de Assistência Social de Itapoá, Fábio Pietrângelo, foi além.

Cadeirante recebeu ameaças

Procurado por OBemdito, Pietrângelo disse que foi Antonio quem pediu para deixar Itapoá com a máxima urgência. O cadeirante teria assinado uma solicitação, dizendo que estava recebendo ameaças e correndo risco de vida no local, onde, entre idas e vindas, vivia há quatro anos. Um Boletim de Ocorrência foi registrado na Polícia Civil de Itapoá.

O secretário afirmou que Antonio, além dos problemas de saúde, também enfrenta questões com a Justiça. O secretário declarou que assim que o cadeirante deixou Itapoá foi à delegacia para obter mais informações sobre a situação dele e que recebeu a informação de que Antonio tem um mandado de prisão em aberto, expedido pela Justiça do Paraná, cuja pena é de 12 anos.

Não é morador de rua

O servidor disse também que Antonio não é morador de rua, porque, enquanto estava em Itapoá, recebia o aluguel social ou contava com o benefício da Residência Inclusiva, de onde quis sair. Afirmou também que o cadeirante é inscrito no BPC (Benefício de Prestação Continuada) do governo federal, superior a um salário mínimo.

Antonio, ainda segundo Pietrângelo, padece de problemas severos e tem familiares em Curitiba. Uma filha do cadeirante sempre manteve contato com a equipe de assistência social de Itapoá. “Era comum o (Antonio) ter o BPC sequestrado, e nós sempre íamos à justiça e conseguíamos o desbloqueio para ele”.

Após a entrevista com Pietrângelo, OBemdito voltou a procurar a Secretaria de Assistência Social de Umuarama. A mesma assistente social disse que não recebeu nenhuma informação sobre o histórico de Antonio e que ele vai seguir sendo tratado com respeito e dignidade no município.

E se o homem quiser voltar para Itapoá

E se Antonio quiser voltar para Itapoá? “Com toda certeza, ele será bem recebido por nós. Ele e qualquer outra pessoa que já passou por aqui. Nós só fizemos a remoção de (Antonio) devido ao desespero dele, de estar correndo risco aqui. E ele que escolheu Umuarama. Disse que tem amigos na cidade”, declarou Pietrângelo.

Pessoas em situação de rua em Umuarama

Mesmo que não seja o caso exato de Antonio, o número de pessoas em situação de rua vem aumentando em Umuarama e a situação gera preocupação entre a população e as autoridades. Eles estão em praças, terminal rodoviário, em frente a bancos e supermercados. Pedem dinheiro, comida. O quadro se agrava no período de férias, com a aparição de indígenas.

Os indígenas dizem que seu objetivo é a venda de artesanato. Pelo menos no início era assim. Agora, o pedido de esmola é escancarado e, na grande maioria das vezes, utiliza-se de crianças, ávidas por “moedas”. Sabe-se que tudo o que é arrecadado vai para a contabilidade de um “cacique”, que acompanha o grupo, alojado em situação precária no piso superior da antiga rodoviária.

Volta do serviço de passagem para trecheiros

Em uma reunião realizada na segunda-feira (30) entre o prefeito Fernando Scanavaca, a secretária municipal de Assistência Social Maria Luísa Bertoco e representantes da sociedade civil, como a Apromo, ficou definido que o município vai retomar o serviço de passagem, com um espaço para que os trecheiros (andarilhos) possam ser acolhidos com banho, alimentação e lugar para dormir, em caráter provisório.

Isso será suficiente? A estrutura governamental sabe que não. Sabe também que precisará tomar outras medidas, porque a situação tende a se agravar. No início deste ano, a Guarda Municipal de Umuarama informou que a maioria das solicitações à corporação, feita pela população, é de importunação por andarilhos e drogaditos. De 1º de janeiro a 30 de novembro de 2024, foram feitos 2.190 chamados à GM.

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